Vai uma cirurgia plástica?
Publicado em 07/02/2018 às 12:02
“Parabéns à nova campeã da beleza!”, gritava o jovem cirurgião plástico, um rapaz até bonito, mas todo papagaiado, com uma peruca loira na cabeça, sobre a sua mais nova “criação”: a menina que entrou “feia” e saiu “bonita” graças a alguns “simples” toques de bisturi. A coisa parecia tão fácil que o sujeito só faltou gritar para as pessoas no recinto, como em uma feira-livre: “Vai uma cirurgia plástica, aí?”
Pipocam programas de cirurgia plástica, principalmente, na TV paga. Como escritor, entendo: enredos de Cinderela remontam tempos imemoriais. Da literatura, para as novelas e, destas, agora, para o “mundo real”, esses programas fantasiam o dia a dia. “Entrar na faca” parece muito mais fácil dentro de um programa pronto e editado. Como espectador, me espanto: não estaríamos banalizando demais algo assim tão sério?
Sabe, leitor(a), eu também já fiz cirurgia plástica. Não porque quis, mas porque foi necessário. Vítima de um acidente, em 2009, precisei sofrer uma abdominoplastia, por conta de muitas hérnias que surgiram logo após. O verbo da frase anterior nunca foi tão bem empregado. O pós-operatório foi um sofrimento tão grande que eu me perguntei: “como essas artistas têm a coragem de fazer lipo de tempos em tempos?”. Até espirrar era difícil. Imagina qualquer outro movimento?
Falando em lipo, os mais novinhos talvez não tenham ouvido falar da modelo Cláudia Liz. Alta, linda e loira, ela resolveu se submeter ao procedimento para… perder 2kg para um desfile. Algo que poderia ter-se resolvido com uma simples dieta custou um tempo em coma. Felizmente, ela teve sorte. Marcus Menna, vocalista do LS Jack, nem tanto: até hoje, o artista tem dificuldades motoras e na fala. Em todo caso, ao que parece, ele ensaia uma volta aos palcos.
“Bonecos humanos”, pessoas que querem, a todo custo, parecer “artificiais”, vítimas de erro médico… esse é o lado B do “universo da plástica”, o substrato feio da “ditadura da beleza”. Em tempo: na mesma TV paga, há um programa de dois cirurgiões, mais velhos e sérios, que “consertam” os erros dos colegas. A atração também é meio “panfletada”, mas, serve para nos mostrar que plástica é uma cirurgia como outra qualquer, com todos os seus riscos. Algo a nos fazer pensar várias vezes, antes de nos seduzirmos pelo que nos mostram na televisão.