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Arte, Crônicas e Poesia

Temos tempo

Publicado em 21/10/2024 às 09:24

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arte e cronica

A vida vai indo e indo, assim dizia meu avô. Nunca entendi à época ao ouvir isso, o mineiro no geral gosta de um gerúndio para disfarçar a angústia. Com o caminhar dos anos e com as experiências, o entendimento, ou o melhor, a compreensão, surgiu.

Na juventude, com seu fulgor, temos completa consciência de ter o controle de tudo, não tem limites o nosso saber e inteligência e por mais que saiba que desconhecemos algo em específico, crermps que logo saberemos tudo. Quem aqui nunca ficou intrigado ao conversar com um adolescente e perceber que tem opinião sobre tudo? Alguns até emitem considerações sobre a velhice.

Talvez seja por isso que o saudosismo é sempre maior sobre a época da juventude, período de maior vitalidade física, poucas fissuras na alma e excessiva ingenuidade. Uma época que acreditamos nos sonhos…

A vida moderna trouxe como mote a busca permanente da juventude, o marketing se debruça em constantes campanhas associando o jovem ao novo e ao bom. Temos a implicação de todo ano lançamento de inúmeros cacarecos tecnológicos, com a premissa mor de que o novo é sempre bom e o que foi usado ano passado perdeu a utilidade e tem um eufemismo para isso cunhado pelo marketing: desatualizado.

Esse mesmo mote é visto em vários cenários da vida moderna. Na medicina, por exemplo, nota-se uma constante e acelerada criação de procedimentos estéticos e farmacológicos com fulcro de manter a potência física e sexual e aparência jovial. E tudo que seja diferente disso é dito velho, fraco e impotente.

Uma reflexão vem diante de tudo isso, até que ponto esse desejo de juventude perene não tem impactado a consciência das pessoas? Será que teremos pessoas conscientes do porvir existencial ou jovens de oitenta anos cada vez maiores, néscios de tudo e crentes em tudo?

A base de tudo está que ansiamos ter controle de tudo, cada etapa ser prevista e executada sem sobressaltos. A vida virou um projeto constante, desde criança somos educados a sermos bons estudantes, ao ser estudantes sermos bons profissionais, ao ser bons profissionais sermos eficientes, atualizados e constantes. Ou seja, o olhar nunca está no presente, o sentido está alhures, criaram uma concepção de vida linear e inatingível.

Atualmente, o quadro de depressão, ansiedade e outros está cada vez maior e certamente esses ideais são alinhados para que cresça cada vez mais. A pessoa desde nova é orientada a viver sempre buscando algo em uma corrida sem fim, ao deparar com uma realidade totalmente adversa aos seus planos, no mais da vezes se frustra, no mais das vezes fica paralisada e atônita.

A tomada de consciência, o temível encontro consigo mesmo, não há desculpas a serem dadas, a percepção que fez tudo errado, anestesiado pelo prazer, extasiado pelo poder. Um instante tudo evapora e reina um completo abismo de silêncio e medo. De fato, tudo foi em vão, a felicidade é apenas um click e logo é invadida pela inexorabilidade do tempo. Senhor de todas coisas, detentor de todo poder.

Nunca tivemos tempo, sempre ele nos têm enredados nos seus desígnios, à nós resta a ilusão de voltarmos ao período da vida que menos pensamos no tempo, a juventude. Ou o caminho mais árduo, mais íngreme, mais desafiador, aceitar que não existe controle algum e que o presente é o momento para fazer o melhor e que muitas vezes as coisas não serão o que queremos.

A aceitação aqui entendida não de forma passiva, por medo diante da adversidade, mas uma atitude mental e constante de que o eu não é nada diante de um mundo complexo e misterioso.

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