Senepol: a raça que promete revolucionar a pecuária nacional
Publicado em 05/07/2018 às 16:37
“Começamos a criar o Senepol depois de identificar a demanda do mercado por carnes nobres e esses produtos vinham de outros países. Ao analisarmos o rebanho brasileiro, vimos que era preciso de um upgrade. O Senepol era o único melhorador genético com capacidade de fazer isso em campo”. Esse relato do pecuarista Jhonatan Thomazini resume porque a raça Senepol está se expandindo no Brasil e promete revolucionar a pecuária nacional.
Com desenvolvimento precoce, maior conversão de alimentos, mais resistente às diversas características do clima, de doenças e da pouca oferta de alimentos, o gado da raça Senepol tem sido cada vez mais a aposta de pecuaristas brasileiros que buscam uma maior rentabilidade na criação de animais para o abate.
A raça ainda é considerada recente no Brasil – chegou há cerca de 18 anos – mas foi tempo suficiente para conquistar criadores de diversos estados, incluindo o Espírito Santo, que já desponta como um Estado promissor para o desenvolvimento da raça. Atualmente já são mais de 600 criadores registrados em todo o país, que juntos possuem um plantel de quase 90 mil animais.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Pedro Crosara, destacou a crescente expansão da raça. “Estamos expandindo nossas fronteiras e, atualmente, estamos presentes em 21 estados brasileiros com associados, inclusive internacionais, na Bolívia e no Paraguai. Saímos de 94 associados em 2011 para os mais de 600 atualmente. Esse crescimento está descolado da realidade da pecuária brasileira, mas seguramente sustentado pelos resultados que a raça tem proporcionado dentro da porteira dos pecuaristas”, frisou.
A reportagem do Montanhas Capixabas e da Revista Negócio Rural foi conhecer de perto os diferenciais dessa raça na Fazenda 3JR, no município de Itapemirim, no litoral Sul do Estado, comandada pelo pecuarista Jhonatan Thomazini, 24 anos, primeiro a criar a raça no Espírito Santo.
“Pesquisei muito e conversei com quem criava o Senepol e trouxe a raça para o Estado. Eu acompanhava a dupla sertaneja Jads e Jadson, que cria a raça, e hoje somos sócios em alguns animais. Participei de leilões e hoje tenho parceria com os melhores criadores do Brasil para implantar a genética de alta qualidade na nossa fazenda”, relatou o jovem pecuarista.
Médico veterinário responsável na Fazenda 3JR, Miguel Thomaz é um encantado com o gado Senepol. “Eu conheci muito gado de corte durante a graduação, mas quando me deparei com a raça (Senepol), fiquei impressionado. Além de bonita, é dócil e rentável para o produtor”, afirmou Miguel.
Na Fazenda 3JR são cerca de 100 animais. Segundo ele, no Espírito Santo há ainda mais um criador, mas há outras propriedades que possuem touros para cruzar com vacas de outras raças. “Da mesma forma que recebemos apoio quando começamos a criar, nós também orientamos quem quer começar a produzir no Estado. Queremos que a raça se propague”, disse Miguel Thomas.
Ganho de peso precoce é apontado como diferencial
Quem trabalha com o Senepol destaca as vantagens dos animais. “O ganho de peso é o principal fator. A parte traseira do Senepol, por exemplo, é muito uniforme, e o dianteiro também é bem pesado, e isso é muito desejado em frigoríficos”, explica o médico veterinário Miguel Thomaz.
Esse fator também é uma vantagem para a exportação. “Tem alguns países que desejam um dianteiro como o que o Senepol apresenta. E quando fazemos algumas avaliações através de ultrassonografia de carcaça, a raça se destaca e conseguimos comprovar a precocidade. E quando se faz a desossa, há mais carne que osso, e isso é um desejo de todo frigorífico”, enfatizou o médico veterinário.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Pedro Crosara, disse que os principais diferenciais da carne são a maciez e o sabor. “Como os animais são abatidos bem jovens, conseguimos produzir uma carne com bom acabamento de carcaça, o que está diretamente ligado à maciez do produto. É uma carne como o brasileiro aprecia, pois não tem tanto marmoreio, ou seja, uma carne mais saudável por não ter grandes teores de gordura”, explicou.
Uma comprovação desse diferencial da raça quanto à rentabilidade é o resultado de uma pesquisa da Scot Consultoria, que constatou que frigoríficos vêm pagando espontaneamente ágio para pecuaristas que trabalham com a raça.
A pesquisa foi realizada em 20 estados brasileiros, entre os meses de agosto e outubro de 2017 e envolveu 304 produtores rurais dos segmentos de cria, recria, engorda e ciclo completo.
Dos entrevistados que opinaram sobre o pagamento de ágio, 73,2% confirmaram receber a bonificação. Os maiores ágios foram verificados nas vendas de novilhas (média de 23%), boi magro (18%) e bezerro (17,1%). “O resultado comprova que a raça tem boa aceitação no mercado. A indústria está pagando de forma espontânea o ágio pelo meio-sangue Senepol, mesmo sem a existência de um programa oficial de bonificação nos frigoríficos”, destaca o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.
A Scot Consultoria ainda detectou uma redução de ciclo de abate nos sistemas que utilizam meio-sangue Senepol. As fêmeas atingem peso de abate quase seis meses antes das de outras raças. Entre os machos meio-sangue Senepol, a idade média ao abate é quase cinco meses menor.
Programa de melhoria genética fortalece a raça Senepol
Com o objetivo de sempre melhorar a genética dos animais, foi criado, em 2009, o Programa Safiras. O objetivo é reconhecer, por meio de uma série de análises feitas por especialistas, as novilhas que se destacam em vários aspectos e que merecem receber o selo Safiras.
Em nove edições, já foram mais de 900 novilhas Senepol avaliadas e qualificadas. Nas duas últimas edições, também foram avaliadas mais de 350 fêmeas sobre a eficiência alimentar, algo inédito. São analisadas a reprodução, características de raça, conversão alimentar, entre outros.
Todas as análises são feitas com a participação de alguns dos melhores especialistas do país nas áreas de nutrição, reprodução e avaliação de carcaça – além da presença de renomados pesquisadores. Isto levou o Safiras à premiação internacional e reconhecimento do mercado nacional, como o mais completo programa de avaliação e qualificação de fêmeas Senepol.
Na Fazenda 3JR, em Itapemirim, alguns animais já participaram e receberam boas classificações no Safiras. A Fogo 33, por exemplo, foi eleita uma das três melhores do Brasil. “Dentro das características avaliadas no Safiras, essa vaca foi bem classificada na avaliação de carcaça. Entre mais de 150 animais avaliados, ela foi a 3ª melhor do Brasil”, contou o médico veterinário Miguel Thomas.
“Hoje, somos o maior polo de genética Senepol do mundo, apesar da raça só estar há 18 anos no Brasil. O pecuarista brasileiro, a exemplo do que ocorreu com outras raças bovinas, elevou a seleção de Senepol a um alto grau de excelência. E os saltos serão ainda maiores em um futuro breve, pois já incorporamos a seleção genômica ao Programa de Melhoramento Genético da Raça Senepol (PMGS), visando auxiliar e orientar os criadores na seleção do rebanho”, contou o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Pedro Crosara.
Fazenda cria animais para investidores
E pensando em quem não possui terreno e deseja criar gado da raça Senepol, a Fazenda 3JR, em Itapemirim, também cria animais em suas instalações para quem deseja investir na raça e ter uma rentabilidade superior a muitos outros investimentos financeiros.
O médico veterinário Miguel Thomas explica como funciona. “Temos um trabalho com alguns parceiros que não possuem terras, mas hoje têm bezerros que nasceram por meio de embriões comprados em leilões ou diretamente na fazenda. E quando fazemos a conta de quanto foi pago no embrião e a quanto será vendido o bezerro, o ganho é muito bom”, afirmou.
O médico veterinário explicou que um embrião normalmente é comprado por cerca de R$ 1 mil. Após nascer o bezerro e o animal estiver no ponto para venda, o custo total chega a cerca de R$ 3.5 mil. Esse prazo é de cerca de 18 meses, e o animal é comercializado, em média, por R$ 6.5 a R$ 7 mil, ou seja, o investidor dobra o seu dinheiro em um ano e meio.
Ele contou que alguns investidores não entendem de gado, mas querem ter rentabilidade com a criação. “Se um dos animais desses investidores participarem de programas como o Safiras, por exemplo, ele pode chegar até a R$ 100 mil, como é o caso da nossa Fogo 33”, contou Miguel.
Um desses investidores é o farmacêutico Pablo Alves de Souza, 31 anos, de Presidente Kennedy. “Eu entrei em contato com Jhonatan e fui até a fazenda conhecer a raça. Fiquei sabendo das possibilidades de investimentos e eu adquiri embriões de animais campeões de teste de performance e fiz a implantação em receptoras próprias. Parte da genética adquirida irei trabalhar na minha própria propriedade e outra parte pretendo trabalhar na Fazenda 3JR como uma parceria de negócios no trabalho genético”, contou Pablo.
Ele informou que pretende implantar em Presidente Kennedy o projeto Senepol 4S, que irá fornecer material genético para pecuaristas da região. “Para quem é pecuarista ou pretende investir em algo sólido, o Senepol é um investimento seguro”, afirmou.
Barrigas de aluguel aumentam a produção
Quando é identificada uma vaca que tem grande potencial de reprodução, é feito um trabalho para aumentar o número de crias ao decorrer de sua vida. Para isso, é usado um método de barriga de aluguel, com fertilização in vitro (FIV).
Um especialista vai até a fazenda, faz a aspiração por meio dos ovários e esse líquido é fecundado com o sêmen de algum touro escolhido de acordo com as características desejadas, tendo como fornecedores os melhores touros do Brasil e até do mundo.
Para se ter uma ideia, cada coleta pode fornecer de 10 até 20 embriões. “Se o trabalho for bem feito, conseguimos gerar até 10 bezerros por aspiração. E cada coleta é feita com um espaço de 45 a 60 dias”, explicou o médico veterinário Miguel Thomas.
Segundo ele, por meio do método normal de reprodução, uma vaca pode reproduzir em torno de 10 bezerros durante toda a vida. Já no processo de fertilização in vitro, esse número pode ultrapassar a 160 bezerros, já que vacas de outras raças podem gerar os animais, sem que haja interferência na genética Senepol.
ORIGEM DA RAÇA | |
1800 | Bovinos da raça N´Dama foram importados do Senegal, Oeste africano, para a ilha caribenha de Saint Croix, Ilhas Virgens. O N´Dama foi uma excelente alternativa por sua resistência ao calor, insetos, parasitas e a doenças, e pela habilidade de sobrevivência em regiões pobres de pastagens. |
1889 | Bromlay, filho de Henry C. Neltropp, um dos maiores criados de N´Dama da época, queria desenvolver um bovino que combinasse aptidões em níveis superiores de produção com as condições ambientais das Ilhas Virgens. Testes anteriores não foram bem sucedidos. |
1918 | Foram introduzidas genéticas de Red Poll para o rebanho de Neltropp, com o intuito de melhorar a habilidade materna, fertilidade e dar caráter mocho aos animais. Esta mescla de Red Poll com animais N´Dama foi relativo sucesso para fundar a base da raça Senepol. |
1970 | Testes com animais em fazendas foram iniciados com base em materiais coletados e guardados sobre os animais, que formaram a atual base do sistema de registro da associação da raça. |
1977 | Um pioneiro carregamento aéreo com 22 animais da raça Senepol foi levado aos EUA. Hoje, depois de 29 anos, a SCBA (Senepol Cattle Breeders Association) conta com 500 criadores e mais de 60.000 animais em seu sistema de registro de dados. |
2000 | Vieram os primeiros animais para o Brasil, importados dos melhores rebanhos dos EUA e das Ilhas Virgens (Saint Croix). A importação inicial envolveu dois líderes genéticos da raça e as melhores fêmeas Senepol com provas fantásticas. Graças a esta genética, os selecionadores brasileiros multiplicaram a qualidade, fazendo do Brasil um celeiro da genética mundial. |
Diferenciais do gado Senepol
Tolerância ao calor
Adapta-se a diferentes níveis de manejo da pecuária. Pode sobreviver sem água por vários dias, além de viver bem em regiões pantanosas, de mata, de cerrado, áridas, de campos quentes ou frios. Os cascos pretos, fortes e resistentes a todo tipo de solo e topografia favorecem a raça.
Pelo Zero
Os animais Senepol têm pelo zero e transferem seus genes para seus filhos, reduzindo a presença de animais taurinos cabeludos. No cruzamento industrial, no mínimo em 90% dos acasalamentos com outros taurinos apresentam pelo zero.
Tolerância a doenças
A raça N’Dama é a única entre os taurinos naturalmente resistentes à mosca que causa a doença do sono ou Tsé-tsé no continente africano e a carrapatos. Em estudos e pesquisas de contagem da mosca do chifre realizado na Universidade Estadual da Carolina do Norte (USA), em rebanho Angus foi constatado 82% de infestação na contagem de mosca, enquanto animais Senepol cruzados com Angus obtiveram contagem de apenas 18% de infestação nas mesmas condições de infestação e manejo.
Criação simples
Ao nascimento, o bezerro rapidamente fica em pé e já começa a mamar o colostro, diminuindo problemas com a cria e recria de bezerros, pois o trabalho de manejo é menor.
Longevidade
Existem citações de matrizes na ilha Saint Croix que com 18 a 20 anos ainda estão emprenhando e em lotes de produção. Touros reprodutores permanecem nos plantéis de reprodução como aptos à função por muitos anos.
Alto desempenho reprodutivo e libido
Os touros Senepol cobrem a campo e sob calor, inclusive nas horas mais quentes do dia. Possuem altas taxas de libido e dominância nos cruzamentos quando juntos com lotes de outras raças bovinas. As fêmeas são muito férteis, o que favorece a menor quantidade de matrizes vazias e, portanto, improdutivas na fazenda.
Vida reprodutiva mais cedo
Pela elevada taxa de crescimento, os garrotes atingem pesos corporais mais rapidamente, o que consequentemente os fazem apresentar precocidade para reprodução. É comum as fêmeas com 14 meses de idade apresentarem cio e estarem aptas à reprodução e machos destinados à cobertura a campo com 14 a 16 meses.
Maior peso
O Senepol produz animais com duas arrobas de peso a mais na desmama, ou seja, os animais são desmamados com oito meses em média, com 10 arrobas de peso. O gado é abatido com idade entre 20 e 24 meses com 18 arrobas.
Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol