Santa Casa de Misericórdia pagará dívidas milionárias e assumirá o hospital de Domingos Martins
Publicado em 11/03/2022 às 10:27
Texto: Julio Huber / Fotos: Julio Huber e Sidney Dalvi
Com sete votos de um total de 52 representantes da Fundação Hospitalar e de Assistência Social de Domingos Martins (Fhasdomar), foi aprovada, na noite da última quarta-feira (09), a incorporação do Hospital e Maternidade Dr. Arthur Gerhardt (HMAG), de Domingos Martins, pela Santa Casa de Misericórdia de Vitória.
A Fhasdomar é mantenedora do HMAG, mas desde maio de 2018 já não possui uma diretoria constituída, quando houve a renúncia de todos aos cargos. Desde então, o hospital passou a ser administrado por um interventor nomeado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES). Atualmente o hospital possui uma dívida milionária com fornecedores, instituições bancárias e com encargos trabalhistas. Além disso, mensalmente o prejuízo ultrapassa R$ 200 mil.
Desde que a diretoria renunciou, as dívidas continuaram a crescer. Nesse período, foram feitas diversas tentativas de montar uma nova diretoria, mas nunca surgiram interessados entre os 52 representantes de várias entidades e organizações de Domingos Martins e de Marechal Floriano, que integram a Fundação.
Nos últimos meses, a Fhasdomar passou a ser procurada por grupos hospitalares do Espírito Santo. Durante a assembleia realizada na última quarta-feira, foram apresentadas as propostas de incorporação da Santa Casa de Misericórdia e da Associação Evangélica Beneficente Espírito-Santense (Aebes), instituidora do Hospital Evangélico de Vila Velha. A Kora Saúde, dona do grupo Meridional, apresentou uma proposta para administrar o hospital por um período mínimo de cinco anos.
VOTAÇÃO SECRETA – Cada proposta foi apresentada pelos seus representantes durante 15 minutos cada, e os membros legais da Fhasdomar tiveram mais 15 minutos para tirar suas dúvidas relacionadas a cada proposta. Antes de ser iniciada a escolha do grupo vencedor, foi levantada a possibilidade de não ocorrer a votação no mesmo dia, diante de dúvidas ainda existentes quanto ao formato de incorporação e de gestão apresentadas ao HMAG.
Entretanto, após alguns debates, ficou definido que seria necessária a votação imediata. Em seguida, foi apresentada a possibilidade de votação aberta e justificada, e de votação secreta. A maioria dos representantes presentes optou por votação secreta, por meio de cédulas de papel depositadas em uma urna.
A Santa Casa recebeu sete votos, o Grupo Meridional 5 votos e a Aebes teve 4 votos. Considerando o total de 52 possíveis votos,13,46% dos representantes aprovaram a proposta de incorporação da Santa Casa. Dessa forma, a Fhasdomar deixará de ser a mantenedora do HMAG e todo o patrimônio do hospital passará a ser de posse da Santa Casa. Durante a apresentação da proposta, representantes da Santa Casa garantiram que os serviços de saúde serão ampliados com a incorporação.
TRANSIÇÃO – Como o atual interventor deixa a função na próxima segunda-feira (14), uma comissão provisória foi montada para comandar a transição, assinar documentos necessários para o funcionamento do hospital durante esse período e analisar o contrato que será apresentado pela Santa Casa.
A presidente eleita da comissão foi a administradora e empresária Lays Santana, representante da Associação Comercial, Industrial, Agroindustrial e de Serviços de Marechal Floriano (Aciasmaf), além do pastor Edivaldo Binow, da Paróquia de Califórnia; João Batista Junqueira, representante do Grupo Espírita Ergue-te e Caminha e o médico Stênio Maia Teixeira, representante da Loja Maçônica de Marechal Floriano.
A promotora de Justiça Noranei Ingle também esteve presente na eleição. Ela desejou sucesso à equipe de transição. “Esperamos que o que foi decido seja o melhor para a população que depende do hospital”, disse a promotora, que é representante do Ministério Público e acompanha todas as ações realizadas desde que a diretoria renunciou, em 2018.
O médico Stênio Maia Teixeira acredita que o modelo de gestão apresentado pela Santa Casa levará mais qualidade nos atendimentos do HMAG. “Sempre é importante visar o atendimento de saúde pública de qualidade e esperamos que tenhamos uma ampliação nos serviços e nas especialidades ofertadas. É necessário ter equipamentos adequados para os mais diversos atendimentos, como em casos de acidentes graves que acontecem na BR-262”, disse.
Segundo Stênio, as três propostas apresentadas tiveram pontos fortes e características diferentes. “É difícil tomar uma decisão tão rápido. Eu tenho a preocupação em saber exatamente o que está por trás de cada proposta. Mas acredito e espero muito que a Santa Casa atenda a necessidade dos municípios e da sociedade. A nossa comissão estudará o que for melhor para a população, e analisaremos com cuidado os termos do contrato”, destacou.
O pastor Edivaldo Binow disse ter esperança de que tudo seja resolvido da melhor forma, mas destacou que a situação do hospital ainda é muito delicada. “Há uma dívida muito grande e, junto com a entidade escolhida para administrar, vamos analisar como será na prática e como será feito o contrato. Enquanto igreja, sempre buscamos defender o povo que necessita desse hospital, que é uma herança de um trabalho em conjunto de diversas entidades”, relatou.
Ele disse que tudo será analisado com muito cuidado, e antes da assinatura do contrato, deverá haver uma assembleia para que todos conheçam como será feita a gestão a partir do momento em que a Santa Casa assumir definitivamente o HMAG. “O contrato será analisado, mas a decisão será da assembleia”, garantiu.
A nova gestora eleita da Fhasdomar informou que se reunirá na próxima segunda-feira (14), com o atual interventor e com a equipe do hospital, para entender a real situação do HMAG. Ela contou que colocou seu nome à disposição diante da contínua ausência de candidatos para compor os cargos da direção da fundação.
“Disponibilizei meu nome para essa fase de transição até que ocorra a incorporação da nova gestão do hospital. Isso se faz necessário para que as atividades não sejam paralisadas. Nesse momento vamos contar com o apoio do então interventor e de um comitê composto por três representantes de associados. Como gestora de um grupo de empresas do setor de exportação de gengibre na região, a disponibilidade para este cargo voluntário é reduzida, porém com a ajuda de todos associados, pretendemos concluir essa fase de transitória da melhor maneira possível”, afirmou Lays.