Roberto Anselmo Kautsky: o botânico capixaba que revelou ao mundo a beleza das orquídeas do Espírito Santo
Publicado em 25/05/2024 às 10:43
Texto: Bruno Caetano / Fotos: Divulgação
Nas matas verdes das montanhas capixabas, um homem singular, com um olhar atento, herdou do pai o amor pela natureza. Roberto Anselmo Kautsky, com uma paixão que florescia como as próprias orquídeas que estudava, desvendou centenas de espécies da flora e fauna brasileira e revelou ao mundo belezas do Espírito Santo. Em 2024 é celebrado o centenário do botânico em uma série de eventos em sua homenagem.
‘Seu Roberto’ como era conhecido, foi professor, orquidófilo, bromeliófilo, autodidata e Doutor Honorário pela Universidade do Rio de Janeiro. Nasceu em 1924 em Santa Isabel, município de Domingos Martins. Visionário, fundou o Núcleo Orquidófilo de Domingos Martins e Marechal Floriano, e em 1999, eternizou sua paixão com o livro: “Beleza Exótica das Orquídeas e Bromélias do Espírito Santo”.
Amigo e tido como filho por ‘Seu Roberto’, Leoderio Velten relembra os 39 anos de amizade. Ele conta que o pesquisador por diversas vezes o chamava para acompanhá-lo nos estudos de novas espécies. Para Leoderio, Roberto foi um defensor da natureza. “Quando havia desmatamento, ele me convidava para retirar as orquídeas e bromélias daquele local, levando-as para sua reserva a fim de preservá-las”, disse o amigo.
Leoderio diz que amizade e respeito sempre foi um pilar entre os dois. E com o tempo ‘Seu Roberto’ virou um mestre para o amigo, que ensinava diariamente sobre o valor da natureza e a importância da preservação ambiental. “Roberto foi não só uma inspiração para a cidade de Domingos Martins, mas para o mundo, por ser um excelente profissional e um pai para mim”, disse Leoderio.
RECONHECIMENTO – O trabalho iniciado por Roberto em 1963 trouxe resultados. Reconhecido internacionalmente, ele recebeu visitas das mais renomadas autoridades botânicas globais. Domingos Martins e Marechal Floriano se transformaram em um centro de atração para cientistas e professores de renomadas universidades. Suas pesquisas foram publicadas em várias línguas e o nome do botânico tornou-se uma referência.
Durante quase sete décadas, Dr. Roberto Anselmo Kautsky dedicou-se incansavelmente à taxonomia vegetal, com foco especial nas orquídeas e bromélias. Desde o início de sua jornada, em 18 de outubro de 1963, quando começou a classificar as riquezas botânicas do Brasil, trouxe à luz mais de 800 das 2.350 orquídeas conhecidas no país.
SAUDADES – Aos 86 anos, ‘Seu Roberto’ faleceu em 25 de maio de 2010, deixando para trás sua esposa, dois filhos e cinco netos. Roberto Simon Kautsky, um dos netos e atual presidente do Instituto que leva o nome do avô, relembra com carinho a infância ao lado dele. Descreve-o como uma presença tranquila, repleta de sabedoria perene. Para Roberto, o avô permanece como uma fonte inesgotável de aprendizado, tanto para a família quanto para a vida.
O neto relembra com afeto as memórias do avô, marcadas por seu labor dedicado e sua paixão pela preservação das orquídeas e das belezas naturais. Ele enfatiza que a continuidade do trabalho iniciado pelo avô representa seu maior legado. “Ele agregou muito ao município”, declara o neto, Roberto Simon. “O reconhecimento que ele alcançou no Estado, no Brasil e no mundo fez de Domingos Martins uma referência, conhecida como a Cidade do Verde”, enfatiza.
Instituto Kautsky continua a preservação pela natureza
“Os homens passam, mas suas boas obras permanecem. O tempo cuidará de dar-lhes o valor que merecem”, declarou o “Poeta da Natureza”, como era conhecido, Roberto Kautsky. Ele é reconhecido como o maior descobridor de orquídeas do Brasil. Hoje, o trabalho por ele realizado reflete exatamente o que expressou em seus versos de 1998.
Em 2003, montou o Instituto Kautsky, que realiza pesquisas e projetos em prol da preservação ambiental. Também foi o responsável pela Reserva Kautsky, uma área de 335 mil metros quadrados, com mais de 100 mil espécies, constantemente visitada por pesquisadores do mundo todo.
O médico, cofundador do Instituto Kaustky e então professor de Medicina na UFES, Laerte Damaceno, conta que conheceu pela mídia o trabalho de Roberto Kautsky e via na biodiversidade uma grande oportunidade para negócios sustentáveis. Embora não o conhecesse, marcou um encontro para discutir ideias e rapidamente perceberam a afinidade de propósitos.
Laerte relembra que concordaram sobre a necessidade de criar uma instituição que sustentasse um Centro de Ensino e Pesquisa da Biodiversidade, utilizando a orquídea e o acervo de Kautsky como base. “Nós reunimos um grupo de amigos de Campinho e Vitória para elaborar o estatuto, cumprir formalidades, e fundamos o Instituto Kautsky em tempo recorde”, diz o Médico Laerte Damasceno.
A reserva natural hoje contém 16 trilhas, além das inúmeras descobertas já documentadas, algumas das quais foram publicadas internacionalmente (no Japão, Estados Unidos e Alemanha). Várias outras aguardam registro e publicação.
O pesquisador foi um dos idealizadores do Núcleo de Orquidófilos de Domingos Martins e Marechal Floriano, criado no ano de 1998. Em sua homenagem também foi criado o “Dia do Orquidófilo Martinense”, instituído há dois anos por meio da Lei Municipal n.º 2.626/2014. A data, celebrada em 23 de maio, coincide com o nascimento de Kautsky.