Coluna Pomerana
Rambin, em Rügen: Como viviam os seus habitantes?
Publicado em 03/06/2020 às 19:16
A atual época de pandemia do coronavírus em que vivemos, faznos retroceder no tempo e podemos nos perguntar, como os antigos pomeranos vivenciaram as guerras, a fome e as epidemias. Os pomeranos que sobreviveram a essas tragédias, nada deixaram escrito. Como se tivessem apagado as suas memórias! Apenas em alguns mosteiros encontramos relatos desses tempos difíceis. Assim, por exemplo, localizado em Rambin, na Ilha de Rügen, na Pomerânia, em uma aldeia de origem eslava, fundada em 1246, havia o mosteiro Saint Jürgen, da ordem dos cistercienses, no qual, em seus anais históricos de 1334, há relatos bem ilustrativos dessa época.
Denominando de Saint Jürgen, essa localidade, no início, era um local de “contemplação piedosa” dos monges. Naqueles tempos, muitos dos habitantes sem terras, costumavam perambular pelas aldeias da Ilha, muitos mendigos e muitos doentes terminavam se aglomerando em frente ao portão do mosteiro. Isto fez com que o conselheiro do mesmo, de nome Godeke von Wickede, que morava no povoado de Stralsund, juntamente com os monges, em 1334, fundasse uma enfermaria, ou seja, uma espécie de hospital.
Na realidade, a lepra (hanseaníase), nessa época ainda fazia muitas vítimas entre a população da região. Porém, na medida em que os casos da doença foram diminuindo, muitas construções da localidade formam sendo convertias em moradias para a população em geral. Era uma espécie de programa social precoce para idosos e doentes, os quais passavam a ter seu lugar vitalício de viver.
O clero do mosteiro, durante muito tempo, costumava ser recrutado entre a aristocracia. Tinham suas próprias leis, que também costumavam ser muito severas. O latim, o grego e o hebraico lhes eram desconhecidos. A prioridade é o trabalho no campo. Ao cultivo das terras seguiam horas de orações e o trabalho em prol dos doentes e pobres.
No decorrer do ano, os monges muitas vezes saíam do mosteiro e, percorrendo as estradas e as aldeias, recolhiam esmolas para o sustento do grande número de pobres e de doentes. Na verdade, com essas tarefas, também evitavam os vícios de outros mosteiros, que eram o consumo de muitas bebidas, os faustosos banquetes e os jogos de cartas e tabuleiro. Nessa época, os mosteiros e os clérigos em geral também estavam isentos de impostos.
No “Museu do Estado da Pomerânia” (Stettin), há registros de grandes somas de dinheiro doado pelos duques pomeranos, para os mosteiros e igrejas cristãs, a partir do final do século XII. Essas doações tinham várias finalidades. Servia para custear o abrigo para membros da família dos duques ou da nobreza que tivesse problemas de saúde (mentais – demência). Os mosteiros também ofereciam um teto para jovens que engravidassem sem serem casadas. Ainda, se pessoas ligadas a superstições, bruxaria, ou viúvas, mendigos que perturbassem os transeuntes, ou prostitutas doentes ou idosas não tivessem onde morar, os mosteiros ofereciam abrigos para todos.
O duque pomerano Bogislaw X (reinado da Pomerânia-Stettin e Wolgast, (de 1474-1478) no seu governo endureceu as leis vigentes. Determinou que todos os povoados, as propriedades agrícolas, igrejas e mosteiros passassem a prestar contas de seus ganhos. O clero em Rambin, muito preocupado com a sua sobrevivência, logo criou a sua própria forma de angariar recursos financeiros, ludibriando, com isso, as ordens do governante. Idealizaram um local de peregrinações em Zudar, nas proximidades de Rambin. Não demorou muito e a localidade passou a vivenciar um grande fluxo de pessoas, vindas do interior da Pomerânia, principalmente de mulheres com crianças de colo. Aos poucos, os peregrinos começaram a chegar de todos os lugares da Pomerânia e até mesmo do outro lado do mar Báltico.
Uma grande multidão costumava percorrer as estradas e, em pouco tempo o percurso para Zudar, onde as carroças precisavam conduziam as colheitas dos produtores para outros povoados, mal permitiam o seu trânsito. Na verdade, as peregrinações trouxeram uma grande fortuna ao mosteiro de Saint Jürgen.
Mas em 1372 uma tempestade surpreendeu muitos desses peregrinos que estavam chegando pelo mar Báltico e se dirigindo para a aldeia de Zudar. Noventa pessoas, entre mulheres e crianças, faleceram nesse naufrágio. Isto fez com que, aos poucos, esse local de peregrinação perdesse importância.
A Guerra dos Trinta Anos, sobretudo entre os anos de 1618 e 1648, causou consideráveis danos ao mosteiro de Saint Jürgen. Passada a guerra, os monges repartiram as terras do mosteiro em pequenos campos de cultivo e os arrendaram aos agricultores. Desse modo, puderam garantir ao duque o pagamento dos impostos sobre as colheitas, do uso do moinho, ao mesmo tempo em que puderam dar continuidade à sua assistência social.
Com isso, nas áreas não culivadas havia extensos pomares para o cultivo de frutas. A maçã era a principal fruta e, sua produção excedente era enviada para o orfanato de Stralsund, no continente pomerano. Por curiosidade, citamos alguns nomes de famílias que no século XVII viveram na aldeia de Rambin: Lemke, Priebe, Holz, Adam, Ziemer, Gutz e Raddatz. Originalmente a Família Piske era de Rambin, mas os seus descendentes foram viver e trabalhar no interior da Pomerânia (Hinterpommern). Depois emigraram para o Brasil.
O Sr. Augusto Piske, o pioneiro dos imigrantes, aos 16 anos e acompanhado de sua irmã Emilie de 18 anos, ambarcou no navio Electric, em Hamburg, em 31/05/1869, e desembarcou em Joinville, em 10/04/1869. Vieram da aldeia de Kursewanz, atual Kurozwecz, em Köslin, atual Kosaslin. Seus pais chamavam-se Julius e Johanne.