Poesia em tempos de ódio
Publicado em 02/05/2018 às 11:40
“Escrever poesia, em tempos de ódio, é, por si só, um ato de subversão”. Assim foi uma espécie de “desabafo poético” que cometi, em uma rede social, há pouco tempo. Sempre li e, quando possível, produzi poesia. Comecei, precocemente, na literatura, aos 15 anos, com um livro de poesia. E sigo tentando, apesar das intempéries.
A palavra “poesia” vem do grego “poiésis” e quer dizer criação. Quando palestro sobre literatura, sempre dou o seguinte exemplo: você pode dizer “está chovendo” e dar um recado; ou, se preferir, pode dizer também “o céu está chorando” e fazer poesia. Isso significa: escrever um texto poético não é coisa para não-iniciados; tampouco é necessário pedir auxílio às Musas. Ter sensibilidade para enxergar além de uma simples chuva, no entanto, já é um bom começo.
Falar de poesia é algo que, certamente, vai além dos limites deste texto. Poesia é pintar um quadro mental com as palavras. É algo que aguça a mente, a imaginação, que faz viajar sem sair do lugar. Há quem ainda se fie naquela velha distinção entre poema e poesia: este é o extrato que se retira daquele. Prefiro ir além. Aposto que existe poesia para além do texto, em uma paisagem, em um quadro, em um instante. Tudo isso delineia poéticas que, certamente, nos enchem daquele algo além das palavras.
Eu me lembro do primeiro livro de poemas que li, uma velha antologia que fora da minha mãe, em sua época de ginásio. Fiquei impressionado! Gosto dos jogos de palavras; dos duplos sentidos; daqueles textos que, às vezes, a gente precisa mergulhar para retirar alguma coisa, como se caçasse uma pérola em um mar de águas turvas. Em tempo: bata na cara de um poeta, mas, jamais pergunte a ele “o que ele quis dizer”. Às vezes, ele não quis dizer nada. E, por mais estranho que pareça, não dizer nada também é dizer alguma coisa.
“Pra que isso serve?”, perguntou-me um conhecido, uma vez. Minha resposta: você pode jamais ter um quadro na parede, mas, experimente pendurar um? Há quem diga que a arte é inútil. Balela! A grande utilidade da arte é nos tornar mais humanos, sobretudo em épocas de ódio, como as de hoje. A propósito: o post do primeiro parágrafo foi compartilhado por bastante gente. Ainda resta alguma esperança.