Arte, Crônicas e Poesia
Página em branco
Publicado em 05/01/2023 às 15:46
O ano iniciou e nesse momento é mister a reflexão: quais foram os ensinamentos do ano passado?
Obviamente que o olhar sempre tem a tendência de ver o que falta ao invés de perceber o que está presente.
Parece existir uma inclinação perigosa no coração para a reclamação e lamúria. Não importa quão agradável tenha sido o ano de 2022, nem que seja uma frase de crítica será proferida.
Esse é o ponto que muitos de nós relutamos em aceitar. Não vivemos para ser felizes, vivemos para aprender a viver. A vida tem alegria e tristeza no seu percurso e por mais que queira e até mesmo lute contra, inexorável é o movimento ondular.
A maior estupidez hoje em dia é acreditar nessa mentalidade infantilizada de “eu tudo posso”, “sou senhor de mim mesmo”, vendida a torto e a direita, nesse momento investem ainda mais na divulgação e captação de clientes, pois já é sabido que os planos de 2022 fracassaram com maestria para muitas pessoas. E muitos vendem o “segredo” para um 2023 próspero.
A página começa em branco para todos, todavia é importante trazer sempre à memória os fatos dolorosos que passaram, não como um totem de cultuação a dor e ao vitimismo, mas como um alerta para que não se repitam neste ano.
Estava a caminho do trabalho e dentro do ônibus me deparei com dois senhores em intenso diálogo sobre amenidades da vida, um aparentava ter 70 anos e o outro por volta dos 75. De repente o mais novo perguntou ao mais velho o que ele mais esperava ter no ano de 2023. Ele respondeu: “memória”.
Fiquei intrigado para entender e ele prosseguiu. “Eu quero lembrar de todo mundo que prometeu estar perto e desapareceu, lembrar de todos que me negaram ajuda, lembrar de todos e também esquecer de todos”.
Nesse instante tive que descer e não pude ouvir o complemento do diálogo. Fiquei refletindo que a vida assim conduzida evita muita dor, principalmente a repetição da dor. Temos no mais das vezes o hábito de errar duas, três… vezes. Sempre crendo que vai ser diferente e esquecendo da dor sentida.
Por isso mesmo, desejo a todos nesse ano de 2023 muita memória para lembrar dos erros de 2022 para não repeti-los e sabedoria para escrever uma história diferente agora.
Texto: Thiago Ruffine