Coluna Pomerana
Os Pomeranos relativos
Publicado em 25/08/2023 às 10:08
Uma série de novas palavras vem surgido nos últimos tempos. Afinal de contas, precisamos nos manter atualizados.
Assim, por exemplo, agora temos uma república relativa, que o autor talvez tenha tentado relacionar com a milenar obra de Platão, na qual nos é ensinado que em uma republica verdadeira, todas as decisões terão que ser tomadas pelo povo, ou através dos seus representantes legalmente eleitos, e depois revertidos em benefício da população.
Temos também, nessa vida moderna, um casamento
relativo, onde cada uma das
partes envolvidas reside em
endereços diferentes, todos os
papeis formais foram dis-
pensados e sua autonomia
conjugal também passou a ser
relativa.
Vivemos em uma terra,
onde até o natal é relativo, pois,
com uma temperatura de 45
graus, sob um sol escaldante,
muitos ainda enfeitam os seus pinheirinhos de natal chineses com neve feike preparada com “flocos” de algodão.
Nada tenho a dizer em contrário a tudo isto, mesmo que estejamos vivendo em um país, onde a própria liberdade de manifestação e de expressão também seja relativa, porém, algumas coisas ainda podem ser comentadas.
E os nossos pomeranos? Tenho a impressão que esses também têm alguma coisa a ver com essa relatividade! Então vejamos.
Quem eram os pomeranos originais?
Dez ou doze mil anos antes da era cristã, a região da Pomerânia parece ter sido habitada por diferentes povos, entretanto nos primeiro 4 séculos do primeiro milênio cristão a região esteve muito pouco habitada. Já em torno do quinto século, diversas tribos eslavas se fixam na região do rio Elba, os Obotries e os Luitizes no vale do Oder e os Ranes na ilha de Rügen. Mais tarde seus líderes fundaram a dinastia eslava dos duques grifos da Pomerânia (povo junto ao mar) e dos pomereles.
Durante a idade média, em decorrência das intermináveis guerras e das
pandemias, sua população terminou consideravelmente diminuída, fazendo com
que seus governantes fossem em direção ao oeste, na procura por imigrantes. Foi nesse momento que
ocorreu a primeira grande miscigenação de eslavos
com a população “germânica” recém chegada da
Saxonia e de outras regiões da atual Alemanha e
até da Frísia. Porém, a última imigração para a
Pomerânia ocorreu em 1747, quando Frederico II
da Prússia mandou drenar os pântanos de muitos
lugares da Pomerania e depois assentar cerca de
300 famílias provenientes da região do Palatinado
(Pfalz).
Enfim, isto nos mostra que a população da Pomerânia da época da emigração para o Brasil não era nem eslava e nem germânica. Havia uma indescritivel miscigenação.
Com a chegada dos imigrantes pomeranos ao Brasil, ocorrida sobretudo na década de 1870/80, aconteceu uma nova adaptação.
No Rio Grande do Sul, os primeiros assentamentos ocorridos nas proximidades das charqueadas do Rio São Lourenço, durante as primeiras décadas se mantiveram em um relativo isolamento. Já o mesmo não
ocorreu em outras localidades como Agudo e Santa Cruz do Sul, onde a convivência com outros imigrantes provenientes do Vale do Reno os fez assimilarem outras hábitos e costumes e o próprio dialeto do Hunsrück.
Já em Santa Catarina, em Pomerode e Jaraguá do Sul, a sua convivência com trabalhadores de grandes empresas alemãs, faz com que muitos passassem a adotar a língua alemã, além de
outros costumes alemães.
No Espírito Santo, apesar da sua vida em um relativo isolamento até aos
anos de 1960, a evolução chegou na forma de um grande desenvolvimento na agroindústria e na própria formação profissional, seja agrotécnica ou universitária como um todo.
Muitos descendentes de imigrantes da antiga Pomerânia assentados no Brasil ainda hoje preservam os ideais de seus antepassados: o temor a Deus, viverem para o trabalho e não trabalharem para viver e se manterem em uma rígida disciplina. Contudo, aos poucos também já passa a acontecer uma aculturação cada vez mais marcante.
Nesse processo de aculturação dos pomeranos no Brasil, o que mais chama atenção é a assimilação de alguns costumes vinculados aos imigrantes bávaros, com sua vestimenta típica (calça curta e de couro), suas danças com trajes coloridos e seu gosto pelas festas da cerveja. No estado de Espirito Santo, a presença de canções com temas pomeranos, ao som de músicas e ritmo caipira denotam uma característica muito
própria daqueles grupos de descendentes de imigrantes…
Para concluir, poderíamos dizer que muitas coisas relativas vêm acontecendo com os descendentes dos nossos imigrantes pomeranos brasileiros. Poderíamos dizer que os antigos pomeranos da Pomerânia já eram pomeranos relativos, pois não eram nem alemães nem eslavos.
Chegando aqui passaram a adotar a dança e a indumentária bávara. Adotaram o gosto pelo germânico Bierschoppfest e adaptaram seus cantos à música caipira e adotaram o pão de milho do tropeiro caboclo no seu cotidiano.
Esse, portanto, é o nosso pomerano relativo, que se aculturou à nova realidade desse novo mundo e
que hoje vive uma realidade muito diferente dos seus antepassados, porém, em harmonia com a sua nova pátria brasileira.