Coluna Pomerana
Os alemães e seus vegetais – História da agricultura
Publicado em 06/07/2023 às 09:32
Da Idade Média à Libertação Camponesa
A dependência do clima e da fertilidade do solo dificulta o cultivo. A queda de neve na primavera ou da chuva contínua durante a época de colheita podem levar os agricultores de toda uma região à beira da falência. Desde o início da Idade Média, foram os monges e os agricultores das proximidades de mosteiros que liberaram novas terras aráveis da floresta, drenaram pântanos ou transformaram
terrenos baldios em áreas produtivas.
Mesmo assim, boa parte das florestas foram desmatadas. Novos assentamentos camponeses surgiram em outras terras cultiváveis, que estavam sob a proteção de um senhorio, um conde ou um mosteiro.
Assim, desenvolveram-se novas comunidades agrícolas, que cultivavam seus campos em uma alternância anual com culturas de verão ou inverno e de acordo com a chamada agricultura de três campos, depois das colheitas os usavam como pastagens para seus animais e no terceiro ano os deixavam repousar para uma recuperação do solo.
Na verdade, os proprietários aristocráticos não participavam da expansão das terras aráveis, mas, para liberarem os arrendamentos exigiam trabalho compulsório e impostos.
O trabalho árduo para, a partir de um solo estéril, produzirem o pão de cada dia, os caprichos da natureza e a subserviência feudal, que os latifundiários exacerbaram desde o final da Idade Média, durante séculos regravam a vida da maioria dos camponeses.
Dois eventos desencadearam uma verdadeira revolução agrária na Alemanha: a libertação camponesa de 1807 na Prússia, ao abolir a servidão camponesa e a converter em um sistema de arrendamentos e, na década de 1840, a invenção do fertilizante mineral por Justus von Liebig.
O químico descobriu que a adubação poderia repor os nutrientes que passavam a faltar no solo. Através do uso de fertilizantes orgânicos, como esterco molhado ou seco, ou a utilização de fertilizantes minerais, ricos em nitrogênio, os agricultores agora conseguiam cultivar seus campos todos os anos, além de
aumentar significativamente a produtividade das culturas.
No início do século 20, a Alemanha ainda era um Estado agrário, onde os camponeses representavam cerca de 60% da população. Mais da metade deles cultivava áreas de terra não maiores do que dois hectares. As pequenas e médias propriedades tinham entre dois e vinte hectares. Apenas cinco por cento de todas as fazendas pertenciam aos grandes proprietários.
Geograficamente, o modo de produção agrícola, que se desenvolveu como resultado de uma divisão intergeracional da herança, apresentou grandes diferenças entre Norte e Sul e Oeste e Leste.
Em Baden, Württemberg e Hesse, praticava-se a
divisão real: cada filho do sexo masculino herdava uma parte, o que levou a uma fragmentação das áreas cultivadas. Em Hanôver, Vestfália e Schleswig-Holstein, por outro lado, aplicava-se o princípio da sucessão indivisa, ou seja, havia apenas um herdeiro que recebia a totalidade das terras. Na Prússia Oriental, Pomerânia, Poznań e Silésia havia grandes casas senhoriais e seus proprietários muitas vezes detinham um título de nobreza.
O desenvolvimento na Alemanha Oriente e Ocidente após 1945
Na Alemanha Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial, as definições da nova política agrícola e da terra esteve na vanguarda. O principal objetivo foi vencer a escassez de alimentos, onipresente em todos os anos do pós-guerra.
Nessa mesma época, a Alemanha Oriental enfrentou grandes convulsões sociais nas suas áreas rurais. O Partido Comunista havia decidido por uma reforma agrária de grande abrangência nessa área de ocupação soviética (Sowjetische Besatzungszone = SBZ) sob o slogan “Junkerland in Bauernhand”
(terras da nobreza para as mãos camponesas). A partir de 1945, as florestas e as terras cultiváveis foram rigorosamente distribuídas. A administração comunista desapropriou, sem indenização, as grandes propriedades e os grandes latifúndios com mais de 100 hectares. Cerca de 3,3 milhões de hectares de áreas agrícultáveis tornaram-se propriedade de trabalhadores rurais, pequenos agricultores e refugiados.
Já em meados da década de 1950, a agricultura da Alemanha Oriental experimentou uma segunda profunda reviravolta: a coletivização. Esses novos agricultores tiveram que ajustar as suas propriedades nas chamadas “Landwirtschaftliche Produktionsgenossenschaften” (GLP), ou seja, uma espécie de
Cooperativas de Produção Agrícola”. O objetivo político era introduzir o “socialismo no campo”, visando fundamentalmente transformar a sociedade rural.
A coletivização da agricultura levou à readequação das propriedades rurais em fazendas de criação de animais e fazendas agrícolas. Novas profissões foram surgindo, como as geradas por essa especialização de mão de obra e da criação de gado, como o de ordenhador.
Após a queda do Muro de Berlim, muitos GLPs foram convertidos em sociedades limitadas ou fazendas cooperativas, de modo que até hoje grandes empresas rurais especializadas ainda dominam a agricultura no Oriente.
Agricultura hoje
Hoje, cerca de dois por cento dos alemães ainda vivem da agricultura, em é cerca de 266.000 fazendas (fonte: Federal Statistical Office, a partir de 2019).
A forma de agricultura hoje difundida na Alemanha é a agriculturaconvencional, na qual fertilizantes e pesticidas são usados de forma muito racional.
Essa agricultura convencional é predominantemente baseada nas regras da agricultura integrada. Trata-se de métodos de cultivo em que se priorizam tanto as necessidades ecológicas como econômicas. O agricultor deve adaptar o seu método de produção às condições naturais e proteger o solo da melhor forma possível, como por exemplo, através de uma gestão ecológica e da fertilização baseada nas reais necessidades e no controlo de pragas.
Já a agricultura orgânica, que está se tornando cada vez mais popular, renuncia voluntariamente ao uso de pesticidas químicos e fertilizantes minerais.
Nesse sistema, até a alimentação dos animais deve ser produzida na própria fazenda. Não deve haver compra de alimentos complementares. A pecuária e o uso da terra estão em uma relação equilibrada e estabelecem um ciclo produtivo.
Roteiro Caminho Pomerano: União da cultura e do turismo rural
O turismo rural é concebido como um fator de desenvolvimento das áreas rurais e, em consequência disto, este tipo de atividade turística constitui um componente básico do desenvolvimento local. Diversos fatores concorreram para o crescimento da atividade do turismo no espaço rural. A maioria das experiências teve início em áreas que passaram por crises agrárias.
Desde a década de 1990, o turismo rural no Brasil tem se tornado uma possibilidade de atividade não agrícola que incentiva a permanência das famílias na zona rural, valorizando as raízes culturais e familiares.
Atualmente o segmento de turismo rural segue em crescimento no país, onde o poder público e as entidades têm fomentado a atividade na busca da valorização da agricultura familiar e dos aspectos locais, como a gastronomia típica, artesanatos, história, cultura e o cotidiano da vida rural. A região turística denominada de Costa Doce Gaúcha possui inúmeros roteiros que valorizam diversos aspectos rurais, e em especial o roteiro de turismo rural Caminho Pomerano desenvolvido no município de São Lourenço do Sul, através de uma associação coletiva desde 2005.
Criado com foco em preservar os hábitos, costumes e a língua pátria dos imigrantes Alemães/Pomeranos que chegaram à Colônia de São Lourenço em 18 de janeiro de 1858. O povo Pomerano é originário da região do Mar Báltico na Europa Central, sendo o território da Pomerânia extinto após a segunda guerra
mundial e sua área passando a integrar os países da Alemanha e Polônia.
Os hábitos, histórias e a língua do povo Pomerano seguem sendo preservados em São Lourenço do Sul, e através do roteiro Caminho Pomerano o visitante pode conhecer a gastronomia típica, artesanatos, ervas medicinais, acervos familiares, colecionismo, apresentação do Casamento Pomerano – onde a noiva veste preto -, projetos de educação ambiental, agroindústrias, cultivo de frutas e belas paisagens no interior do município que valorizam a cultura.
A atividade do Caminho Pomerano se tornou um potencial de geração de renda para as famílias integrantes do roteiro que mantém sua cultura ativa e comercializam suas potencialidades, conforme afirma o escritor e pesquisador Jairo Scholl Costa: “O Caminho Pomerano esta inserindo no trading turístico, o que duplamente beneficia os descendentes de pomeranos no interior de São Lourenço
do Sul, pois ao mesmo tempo em que preserva a língua – verdadeira pátria do povo pomerano na diáspora – tradições e cultura, também proporciona uma renda suplementar as famílias que participam como empreendedores e fortificam a atividade do turismo rural”
O roteiro Caminho Pomerano possui os mais diversos atrativos o qual anualmente recebe inúmeros visitantes de diversas regiões do mundo. Convidamos você leitor, a conhecer e viver essas experiências memoráveis em nosso roteiro de turismo rural na região da Costa Doce Gaúcha, e fortalecendo o turismo local como afirma Tolstói “Canta tua aldeia e serás universal”.
Acesse e descubra em www.caminhopomerano.com.br
(*)Rodrigo Seefeldt é condutor local e presidente do Caminho Pomerano, Bacharel em Desenvolvimento Rural, Fundador do Ruralidades Sul e escritor integrante do CEL – Centro de Escritores Lourencianos