Onça-pintada é vista por moradores e deixa comunidade assustada
Publicado em 21/06/2017 às 01:25
O aparecimento de uma onça-pintada, que segundo moradores comeu pelo menos nove galinhas e foi vista por três moradores da localidade de Bom Jesus, em Marechal Floriano, tem deixado moradores locais assustados e trancados dentro de suas casas.
A reportagem do Montanhas Capixabas foi na região, que fica na divisa entre os municípios de Marechal Floriano, Domingos Martins e Viana, e possui uma vasta área de mata, o que favorece a permanência do felino. O trabalhador de serviços gerais Paulo Henrique Ramires, 42 anos, contou como foi encontrar com a onça-pintada perto de sua plantação de jiló, há cerca de 10 dias.
“Como eu faço todos os dias bem cedo, fui à minha plantação de jiló. Quando olhei para o lado, vi a onça-pintada bem perto. Eu só tinha um facão na cintura e fiquei sem saber o que fazer. Olhei para ela, ela olhou para mim, e continuou andando. Tenho certeza que é uma onça-pintada. Conheço suçuarana e jaguatirica, e tenho certeza que o que eu vi foi uma grande onça-pintada”, afirmou Paulo.
Paulo contou que a onça estava magra, mas era bem grande. “Esse foi o único dia que eu vi a onça, mas estou com medo de andar por essa região. Muitas pessoas não acreditam, mas eu tenho certeza do que vi, mas não quero ver novamente”, garantiu.
Mas ele não foi o único que viu o felino na região. O morador Domingos Fajoli, 60, contou que seu vizinho teve nove galinhas comidas possivelmente pela onça. “Tem alguns meses que esse meu vizinho viu a onça atacando o galinheiro e ele garantiu que era a onça. As galinhas foram retiradas do galinheiro e arrastada para o meio da mata”, contou.
Domingos informou também que ouviu várias vezes a onça rugindo e miando em matas ao lado de sua casa. “Eu morei alguns anos no Mato Grosso e sei bem como uma onça-pintada mia e ruge. Tenho medo de que crianças que precisam passar cedo por essa estrada para ir à escola sejam atacadas por esse animal”, acredita o agricultor.
Outro morador que teme o ataque do felino é José Luiz Fajoli, 65. Ele contou que o animal pode até ter sido solto por algum circo ou outra pessoa, porque não é comum esse tipo de animal na região “Todos estão assustados. Algo precisa ser feito para tranquilizar os moradores. Estamos correndo risco, pois mesmo sem ter visto, eu acredito que a onça está aqui na região”, disse.
A dona de casa Maria do Carmo Fajoli, 45, contou que se sente aprisionada. “Moro aqui há mais de 30 anos e nunca passamos por tanta aflição. Há mais de três meses a onça foi vista pela primeira vez, e agora ela reapareceu. Ligamos para os órgãos competentes, mas nada foi feito. Na última semana a Polícia Ambiental veio aqui, mas não encontraram nada”, contou a moradora.
Ela disse que há alguns meses, uma pessoa que trabalhava em um sítio na região foi embora porque garantiu que teria visto a onça. “Ele falou que a onça queria pegar ele, mas ninguém acreditou. Agora ela está se aproximando das casas. Minha mãe precisa fazer caminhada porque tem problema de saúde, mas não pode mais sair de casa porque todos estão com medo”, relatou.
Polícia Ambiental e Ibama podem visitar o local
O capitão Patrício Fiorin, do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), informou que foi acionado no último dia (12) para uma ocorrência dando conta de que havia uma onça na região de Bom Jesus. “A PMA realizou o preventivo local e nada foi constatado. Foi feita uma incursão com os residentes locais, mas as informações obtidas se resumiram a relatos. É muito provável que a repercussão dos dias seguintes sejam ecos desse primeiro acionamento, no entanto, entendo que cabe sim uma visita do IEMA ou IBAMA no local, para nova avaliação da possibilidade de realmente termos uma onça-pintada na região”, destacou a nota.
O analista ambiental do Núcleo de Fauna do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Vinícius de Seixas Queiroz contou que o órgão recebeu um telefonema, no dia de ontem (19), de uma cidadã que teria avistado uma onça pintada no município de Marechal Floriano.
Ele contou que não há registro de ocorrência de onças pintadas fora do complexo Sooretama / Reserva da Vale (Linhares). “É muito comum as pessoas confundirem jaguatiricas com onças-pintadas por pura desinformação, já que fora do complexo citado, a jaguatirica é o maior felino pintado que temos notícia ainda ocorrer com relativa abundância. No entanto nada pode ser descartado e é necessário um aprofundamento nas investigações”, destacou.
De acordo com o analista ambiental, conflitos entre seres humanos e predadores naturais são ocorrências que demandam o envolvimento e atuação conjunta não apenas do Ibama e da Polícia Ambiental, como também do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CENAP/ICMBio), de prefeituras, por meio de suas secretarias de agricultura e meio ambiente e de órgãos de proteção ambiental e extensão rural, como IDAF e INCAPER.
“A necessidade do envolvimento de múltiplos atores se deve a característica multifatorial dos ataques, que envolvem questões ambientais, mas também questões que afetam a segurança pública (risco á vida humana) e aos sistemas de produção pecuários (criação de gado bovino, ovino e aves)”, finalizou o representante do Ibama.