Obrigado, Gisèle Pélicot’, diz Macron após fim do julgamento de francesa dopada e estuprada pelo ex-marido

Publicado em 20/12/2024 às 10:47

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Foto: Freepik

O presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou a coragem de Gisèle Pélicot, que decidiu tornar público o julgamento do caso envolvendo anos de abusos cometidos por seu ex-marido, Dominique Pélicot. O processo, que foi encerrado na quinta-feira (19), levou à condenação dele e de outros 50 homens envolvidos em crimes de estupro.

Na sexta-feira (20), Macron expressou sua gratidão e admiração pela vítima, chamando-a de “uma pioneira para as mulheres”. Ele afirmou em sua conta na rede social X: “Obrigado, Gisèle Pélicot, por enfrentar essa provação com a cabeça erguida, em nome da justiça. Sua dignidade e coragem comoveram e inspiraram a França e o mundo”.

Condenações Históricas

Dominique Pélicot, de 72 anos, foi sentenciado a 20 anos de prisão, a pena máxima para estupro qualificado na França. Ele admitiu ter drogado sua esposa com ansiolíticos durante quase uma década, facilitando os abusos cometidos por dezenas de homens que ele recrutava pela internet entre 2011 e 2020. Além disso, Dominique foi condenado por tentativa de estupro contra outras mulheres e por produzir imagens indecentes de familiares. Todos os 50 co-réus também foram declarados culpados, com penas variando de três a 20 anos de prisão.

Gisèle, que esteve casada com Dominique por 50 anos, divorciou-se em agosto de 2020, após descobrir os abusos. Durante o julgamento, ela optou por renunciar ao anonimato e pediu que as audiências fossem abertas ao público, buscando conscientizar sobre a “submissão química”, o uso de drogas para cometer crimes sexuais. A coragem de Gisèle transformou-a em um ícone feminista e inspirou milhares de pessoas na França.

Uma Luta Contra o Silêncio

Gisèle Pélicot declarou que não sentia vergonha, mas que seus agressores deveriam sentir. Durante o julgamento, ela relatou os horrores que enfrentou, inclusive o fato de que alguns dos homens a estupraram até seis vezes. Muitos dos condenados alegaram acreditar que estavam participando de uma “fantasia consensual”, organizada pelo marido. Outros admitiram os crimes, mas até 20 suspeitos continuam em liberdade devido à dificuldade das autoridades em identificá-los antes do julgamento.

A francesa também criticou duramente a “sociedade machista e patriarcal” e cobrou mudanças de atitude em relação aos crimes de estupro. Apesar do trauma, ela afirmou que não se arrependeu de enfrentar seus agressores de forma pública, enfatizando a importância de quebrar o silêncio sobre esses crimes.

Repercussão Nacional e Internacional

A classe política francesa, além da população em geral, manifestou apoio a Gisèle. No tribunal, ela foi recebida com aplausos e flores ao longo das audiências. O caso também ganhou destaque na mídia internacional, com jornais como “The New York Times” chamando-a de “heroína feminista” e “Die Zeit”, da Alemanha, referindo-se a ela como “o novo ícone da França”.

Um Passado Marcado por Desafios

Nascida em Villingen, na Alemanha, em 1952, Gisèle mudou-se para a França aos cinco anos. Aos nove, perdeu a mãe para o câncer, e aos 19, perdeu o irmão por ataque cardíaco. Em 1971, conheceu Dominique Pélicot, com quem se casaria. Apesar dos desafios, construiu uma vida como funcionária da EDF, empresa francesa de energia, onde trabalhou até se aposentar. Fora do trabalho, dedicava-se à família, ao coral local e às caminhadas.

Foi apenas em 2020, após a polícia flagrar Dominique filmando mulheres de forma indecente em um shopping, que ela compreendeu a razão dos lapsos de memória que vinha enfrentando por anos. A descoberta levou às investigações que resultaram no julgamento histórico.

Sentenças e Consequências

O tribunal de Avignon condenou os culpados a penas que variaram entre três e 20 anos de prisão. Entre eles, Dominique Pélicot recebeu a pena máxima, enquanto outros tiveram sentenças mais brandas do que o solicitado pelo Ministério Público, o que gerou controvérsias.

Os advogados de defesa ainda avaliam a possibilidade de recorrer das decisões, considerando os riscos de um novo julgamento com maior exposição midiática. Gisèle, por sua vez, afirmou que respeitará as decisões judiciais e espera que seu caso traga conscientização e mudanças profundas na forma como a sociedade e a Justiça lidam com o estupro.

Lista de Condenados e Penas

Segue uma relação parcial dos condenados e suas respectivas penas:

  • Dominique Pélicot: 20 anos de prisão por estupro qualificado.
  • Jean-Pierre Marechal: 12 anos por tentativa de estupro e estupro qualificado.
  • Charly Arbo: 13 anos por estupro qualificado.
  • Nicolas François: 8 anos por estupro qualificado e posse de imagens de abuso infantil.
  • Thierry Parisis: 8 anos por estupro qualificado.
  • Karim Sebaoui: 10 anos por estupro qualificado e posse de imagens de abuso infantil.

Outros indivíduos receberam penas entre três e 13 anos de prisão, dependendo do grau de envolvimento nos crimes. Em alguns casos, penas menores geraram revolta popular, enquanto outros condenados aguardam medidas especiais devido a condições médicas.

Um Legado de Resistência

O caso Gisèle Pélicot tornou-se um marco na história da luta contra a violência sexual na França. Sua decisão de expor o julgamento e enfrentar seus agressores em público foi um ato de coragem que inspirou milhares. Apesar das adversidades, ela continua sendo uma voz poderosa contra o silêncio e a impunidade.

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