Coluna Pomerana
O cavalo no dia a dia dos pomeranos
Publicado em 12/11/2019 às 12:55
Baio, Schimel, Foss, Check, Félix, Max, Moritz… Esses e muitos outros são nomes com que os imigrantes e pomerodenses denominavam e continuam denominando seus cavalos. Uma forma carinhosa e até funcional para a lida no dia a dia entre o homem e o animal. Os dois têm sido parceiros de trabalho e entretenimento há milhares de anos. O cavalo tem características muito sociáveis e o vínculo de união com os seres humanos é facilmente estabelecido. Não havia uma sequer propriedade que quisesse efetivamente evoluir, sem um cavalo em seu pátio. Sua força motriz era determinante para a maioria das tarefas como: retirar madeira da mata, puxar o arado/cultivar as lavouras, distribuir os excedentes de produtos da colônia ou ainda para o passeio de domingo. Milhares de registros/fotos evidenciam a relevância do cavalo para o desen-volvimento econômico das mais diversas partes do mundo. No feudalismo, o cavalo se fazia presente em grande parte das atividades que necessitavam de força.
Quando surgem os primeiros motores movidos a vapor e o consequente processo de industrialização na Europa, em especial na Inglaterra, logo se vincula a forma de medir a força desses motores em “cavalo de potência”. Antes do motor a vapor, no século XVIII nas minas de carvão inglesas, os cavalos puxavam por meio de um sistema de roldanas e cordas, baldes cheios de carvão. Quando surgiram as máquinas, logo se associou a força destas com os equinos.
O engenheiro escocês James Watt, que trabalhou no aperfeiçoamento do motor a vapor no final do século XVIII, calculou que um cavalo em média conseguia subir das minas 100 quilos de carvão a uma certa altura por minuto. Ao definir essa medida, James aumentou a carga em 50% e instituiu a medida “um cavalo de potência” como a força necessária para levantar 150 quilos por 30 metros de altura em um minuto.
Convenhamos, imortalizou, naquele momento, a relevância do cavalo para o desenvolvimento da humanidade tendo como referência o trabalho feito por cavalos em antigas minas de carvão.
Voltando ao período que antecede a industrialização, acredita-se que na época do Pleistoceno (há 2 milhões de anos), remanesce o cavalo tal qual como o conhecemos hoje. São muitos anos de aprimoramento e evolução da espécie, bem como a relação com os humanos.
Para os romanos, por exemplo, era importantíssimo criar e domesticar esse animal. O cavalo pode ser considerado um animal integrado e adaptado em praticamente todas as regiões do planeta, como no oriente e com muita intensidade no continente europeu. Não há sequer uma batalha do passado nos campos da Europa que não tenha o cavalo incluso no cenário. Pode-se assim afirmar que ele contribuiu em muito como força motriz, defesas de reinos ou para produção de alimentos. E, nesse breve contexto da relevância do cavalo para a história da humanidade, sem dúvida, ele teve fundamental papel na evolução da Pomerânia e seu povo.
Com predominância de vastos campos e sendo durante um período o celeiro da Europa, a Pomerânia se apropriou desse animal de forma intensa, quer seja para cultivar a terra, quer para a defesa do território, tendo em vista as contínuas disputas étnicas pelas terras daquela região. O exército prussiano que, durante boa parte do século XIX, tinha a missão de defender o Reino da Prússia como a grande potência europeia na ocasião, via como seu melhor aliado o cavalo, que auxiliou o exército prussiano a derrotar a Áustria e França. Posterior a unificação dos reinos germânicos que formou o Império Alemão em 1871, o exército prussiano foi a base para a criação do exército alemão.
Nas casas feudais dos campos da Pomerânia o cavalo exercia um papel preponderante, tanto no transporte nas lavouras, como na tarefa de arar e preparar a terra. Abastecer os celeiros com feno era uma importante função para que estivesse garantido o alimento para a manutenção de todos esses animais durante os rigorosos invernos. Para se ter uma ideia, no ano de 1817 havia 119.798 cavalos na Pome-rânia, já em 1912 (quase um século depois) havia um registro de 241.958 animais.
Se o Pomerano tinha grande familiaridade no convívio com os cavalos, os imigrantes que aqui chegaram continuaram essa relação próxima. A abertura das estradas tinha ativa participação dos cavalos, os produtos “exportados” pelas queijarias eram transportados por eles, o carro de mola fúnebre era encilhado com cavalos pretos, o passeio de charrete (Kutsche) aos domingos usava sua força, a produção de alimentos como o melado de cana foi possível com o auxílio do cavalo.
É justo também mencionar que touros também foram e são muito utilizados nas tarefas do campo, conhecidos no dia-a-dia como “Ochsen”. Mas os cavalos têm sua posição destacada no desenvolvimento econômico e cultural de Pomerode e toda região. Interessante observar que os cavalos, quando comprados, precisavam na maioria das vezes serem domados, então, muitos imigrantes e seus descendentes acumulavam essa função, ou seja, domadores de cavalos.
Anita Lemke (nascida Klemann), hoje com mais de 90 anos de idade, destaca que ela e seu pai, Wilhelm Klemann, negociavam cavalos na região de Testo Central Alto. Compravam, vendiam e domavam os animais. Os “tropeiros” que faziam o comércio de cavalos muitas vezes “pousavam” nas proximidades da casa de Wilhelm Klemann (propriedade onde atualmente fica a Cerâmica Lach em Testo Central Alto) e depois seguiam viagem.
Na região de Ribeirão Souto, os irmãos Rudolf e Gustav Ewald também eram domadores. Segundo relatos, uma das técnicas utilizadas pelos irmãos Ewald para domar “cavalos chucros” era colocá-los dentro do rio e então montar o animal. Dentro da água, os movimentos do cavalo ficavam limitados e assim gradativamente o animal era amansado. O pomerodense Afonso Sievert menciona que os cavalos “Félix” e “Lebuna”, que eram de sua família, são um exemplo de cavalos domados pelos irmãos Ewald.
Se discorremos sobre a importância do cavalo como força motriz, não podemos deixar de relacioná-lo com o entretenimento, sendo o principal o passeio com a “Kutsche” nos finais de semana. Era um hábito da maioria no domingo ir à igreja ou ainda visitar um parente longe com o carro de mola. Com isso, até hoje, persiste o hábito de oferecer esse passeio no centro da cidade de Pomerode.