Coluna Pomerana
O APRENDIZADO DO TRABALHO DOS IMIGRANTES POMERANOS
Publicado em 05/10/2021 às 11:27
Ao hoje analisarmos as diferentes profissões que encontramos entre os descendentes promeranos, facilmente podemos constatar que essas em nada se diferenciam das existentes entre os grupos populacionais de outros grupos étnicos radicados aqui no Brasil. Porém, isso nem sempre foi assim.
A absoluta maioria dos imigrantes pomeranos que chegou nas chamadas colonias brasileiras, era constituído de antigos “servos”, em outras palavras, eram trabalhadores do campo. Foi também assim, que esses imigrantes que continuaram a atuar nas lavouras, por definição, também passaram a ser chamados de lavradores, agricultores ou colonos. A grande maioria seguiu para as suas pequenas propriedades. Aos poucos, porém, com o passar do tempo outras atividades profissionais foram se tornando necessárias. Eram trabalhos não vinculadas diretamente às lidas do campo, mas também indispensáveis à economia do ambiente rural, como o pequeno comerciante e o professor rural.
As atribuições que cada um passava a ter na família pomerana efetivamente formada, se constituem em informações no mínimo curiosas. O homem era responsável pelo trabalho no campo, pela conservação da casa, pela provisão da alimentação, pelos cuidados com os grandes animais e a comercialização do excedente da produção agrícola e dos grandes animais. Assim, por exemplo, no Espírito Santo, a venda de café costumava ser atribuída aos homens.
Já para vender coisas pequenas como manteiga e ovos, geralmente as mulheres seguiam até a venda. Aliás, as mulheres cuidavam dos afazeres da casa, do preparo da alimentação, da lavação das roupas e dos cuidados com as aves e da ordenha das vacas. Em geral, era a partir da comercialização dos excedentes de ovos, manteiga e aves que costumavam adquirir sal, trigo, querosene, tecido etc.
Na cadeia alimentar adaptada ao consumo de peixes como o arenque salgado, apesar de ser encontrado em praticamente todas as vendas, no dia a dia, o Hering passou a ser substituído pelos peixes de rios ou de açudes. O peixe salgado do mar chegou a ficar escasso. Mas, a Manjuba salgada costumava ser barata e era muito consumida. Aliás, até existe uma expressão: “Não ter medo de sardela, porque ele não tem cabeça”. O Hering vinha salgado e sem cabeça, mas geralmente ainda com os miúdos.
O aprendizado da aprofissão pelas crianças pomeranas sempre se constituiu em um processo muito próprio. Ao contrário do que muitas vezes já se falou, ou ainda se fala, ou até já se escreveu em artigos sensacionalistas, o trabalho no campo precisava ser aprendido. Na década de 1970 chegou a ser publicada uma ampla reportagem em um jornal da Alemanha, descrevendo o que chamaram de “trabalho escravo infantil”.
É notório que havia uma grande deficiência no próprio processo de alfabetização, pela absoluta falta de disponibilização pelos governos da época, de escolas para a alfabetização da população dos antigos assentamentos. Isso fez com que na agricultura, alguns hábitos e costumes se tornassem fundamentais, seja para a alfabertização como também para a aprendizagem da futura profissão no campo. Não se pode esquecer que, na medida em que as crianças cresciam, também precisavam adquirir noções básicas de escrita e de matemática. Isso fez com que pastores e mesmo alguns agricultores com uma alfabetização pouco melhor, passassem a atuar com instrutores, nas chamadas Gemeideschauls ou seja, nas escolas de comunidade.
Também era preciso aprender a trabalhar. Não havia escolas agrícolas e era necessário acompanhar os seus pais no dia-a-dia da roça. Era a sua preparação para a vida. Na prática, os agricultores costumavam ter uma prole muito munerosa e também era necessário obter sustento para seis, oito, dez ao mais filhos. Era impossivel apenas os pais trabalharem no campo, enquanto toda essa população jovem desocupada ficasse em casa. Ao contrário do que as leis brasileiras de hoje recomendam, ou seja, de trabalharem no campo apenas depois do dezoito anos de idade, os adolescentes daqueles tempos precisavam ver, ouvir e assimilar o que os mais velhos faziam e diziam. Os diversos momentos do dia-dia da família precisavam ser vivenciados. Iso também acontecia na iniciação na agricultura. Era uma forma de aprendizado pela observação e pela prática.
Esse processo também se estendia aos momentos da visitação a outras famílias. Dizia-se que “a criança não fala, ela ouve”. Frequentemente sequer podiam ficar na sala de estar, quando as visitas chegavam. Ou seja, não lhes era permitido participar das conversas dos adultos. Mas, para compensar a falta da famigerada televisão do mundo moderno, com seus bombardeios perversos, à noite todos sentavam em torno da mesa e os adultos contavam histórias sobre a vida, sobre o trabalho, ou até sobre fantasmas.
Era assim que os conhecimentos costumavam ser repassados de geração em geração. Eram outros tempos.