Níveis de metais em pescados preocupam quase dez anos após tragédia da Samarco

Publicado em 21/03/2025 às 08:49

Compartilhe

capa_48368_CipedoRioDoce20032025EllenCampanharo

Debate acontece dentro da Semana Legislativa de Proteção ao Rio Doce / Foto: Ellen Campanharo

Quase uma década após o desastre causado pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), os níveis de metais pesados encontrados nos pescados continuam sendo motivo de preocupação, especialmente em relação aos peixes e camarões marinhos. Segundo pesquisas recentes, a contaminação desses animais apresenta índices ainda mais alarmantes do que nos primeiros anos após o acidente.

Nesta quinta-feira (20), pescadores do Rio Doce e da costa capixaba discutiram o tema com Adalto Bianchini, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Durante o encontro, Bianchini detalhou os resultados de um estudo realizado desde 2016, que analisa três partes dos peixes: as guelras (em contato direto com a água), o fígado (responsável pelo metabolismo) e o músculo (parte consumida pelos humanos).

Os dados indicam que, nos primeiros três a quatro anos de monitoramento, peixes e camarões de água doce apresentaram altas concentrações de metais como o mercúrio. Embora esses níveis tenham diminuído, ainda permanecem significativamente acima dos valores registrados antes do desastre.

Por outro lado, os pescados marinhos continuam apresentando resultados preocupantes. As últimas análises revelaram que os camarões vêm acumulando níveis extremamente altos de arsênio e mercúrio. Nos peixes, a concentração de arsênio segue elevada, e a de mercúrio continua aumentando. Além disso, caranguejos coletados em manguezais também mostram crescimento na contaminação por mercúrio.

Bianchini destacou que a principal fonte de poluição atualmente é o sedimento, que continua altamente contaminado. Segundo ele, a água já não é o maior problema, mas fatores como chuvas e frentes frias podem remexer os sedimentos e redistribuir os contaminantes, impactando novamente a qualidade da água e dos organismos marinhos.

Preocupação entre os pescadores

Após a apresentação dos dados, os pescadores manifestaram preocupação e indignação. José Carlos Lambisgóia, presidente do Sindicato dos Pescadores e Marisqueiros do Espírito Santo (Sindipesmes), afirmou que a situação os coloca em um dilema ético e de saúde. “Nos sentimos como se estivéssemos nos envenenando, envenenando nossas famílias e as famílias de quem consome o que pescamos”, desabafou.

Joca Thomé, coordenador do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática e do Centro Tamar, defendeu a necessidade de uma nova fase na relação entre os órgãos públicos e as comunidades atingidas. Segundo ele, com o fim da Fundação Renova, cabe agora aos governos e à sociedade decidir os próximos passos.

“Precisamos discutir juntos o que deve ser feito. Suspender a pesca do camarão por dois ou três anos e compensar os pescadores financeiramente? Reduzir determinados tipos de pesca? São decisões que devem ser tomadas coletivamente”, afirmou.

Thomé também ressaltou que a política de pesca no Brasil sofre constantes mudanças e que a participação ativa dos pescadores é essencial para garantir soluções efetivas. “Até agora, a luta foi contra a Renova, que deveria resolver o problema, mas que, ao resolvê-lo, deixaria de existir. Agora, a responsabilidade está em nossas mãos”, destacou.

A deputada Janete de Sá (PSB), presidente da Cipe Rio Doce, cobrou do governo federal a continuidade das pesquisas sobre a contaminação dos pescados e atenção à saúde dos pescadores. Ela defendeu que todos os trabalhadores da pesca na região capixaba sejam submetidos a exames clínicos para avaliar possíveis impactos da contaminação em seus organismos.

Monitoramento da atividade pesqueira

Durante o encontro, o professor Maurício Hostim, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), apresentou dados do Projeto de Monitoramento e Caracterização Socioeconômica da Atividade Pesqueira no Rio Doce e no litoral do Espírito Santo.

Desde 2021, o projeto acompanha a produção pesqueira da região, que, entre 2021 e janeiro de 2025, deve gerar um valor total de R$ 176,3 milhões e uma produção de 16 mil toneladas. Esses dados são coletados com a participação direta dos pescadores, que fornecem informações voluntárias sobre suas atividades.

“Nosso objetivo é entender como está a produção pesqueira no Espírito Santo e, para isso, precisamos do envolvimento direto dos pescadores. Com essas informações, podemos tomar decisões mais acertadas para a gestão dos recursos pesqueiros”, explicou Hostim.

Enquanto as pesquisas continuam, pescadores e especialistas seguem cobrando ações concretas para mitigar os impactos da contaminação e garantir um futuro sustentável para a pesca na região.

Texto: Luan Antunes/ Fonte: ALES

Veja também

sesa coren es

Sesa marca presença no II Congresso Capixaba de Urgência e Emergência promovido pelo Coren-ES

dia mundial da agua

Governo do Estado anuncia novos investimentos em alusão ao dia Mundial da Água

reforma e ampliação de ginasio

Ginásio Jones dos Santos Neves (DED) passará por obras de reforma e ampliação

cafe conilon

Ricardo Ferraço participa da assembleia da maior cooperativa de café conilon do Brasil

Texto: Roberly Pereira / Fotos: Roberly Pereira

Polícia Militar prende foragido da Justiça em Marechal Floriano

Imagem do WhatsApp de 2025-03-21 à(s) 16.22.36_472f3cf9

Polícia encontra entorpecentes em plantação de café em Domingos Martins

capa materia Feira dos Municípios 2025 lançamentos regionais são concluídos nas dez regiões turísticas do Estado

Feira dos Municípios 2025: lançamentos regionais finalizados nas dez regiões turísticas do Estado

4216288

Incêndio em subestação causa apagão e fecha aeroporto de Heathrow, afetando milhares de voos