Gastronomia
Mais um pouco da gastronomia francesa… e belga também!
Publicado em 16/11/2017 às 13:02
Eu e minha esposa visitamos, neste último mês de outubro, a cidade de Bruges, na Bélgica, além das regiões da Normandia e da Bretanha, e as cidades de Bordeaux, uma das principais produtoras de vinho, e Tours, todas na França.
Bruges, a “Veneza do Norte”, é assim chamada devido aos canais existentes, os quais permitem que se façam passeios de barco e se aprecie a variada arquitetura e as construções medievais características do local. Seu centro histórico foi merecidamente tombado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e a praça central, Grote Markt, é o coração da cidade. Cada lado da praça é cheio de prédios em diferentes estilos, construídos ao longo de vários séculos. Ali também está o Campanário com sua torre, cujo acesso se faz por uma escada com366 degraus, e seu carrilhão, que possui 47 sinos.
Grote Markt / Campanário
Diversos restaurantes estão localizados em torno desta praça, onde se pode saborear uma das diversas cervejas (visitamos uma das pequenas produtoras locais…), cuja elaboração os belgas são pródigos.Ou, também, as “gaufres”, que nós conhecemos como waffles, servidos com as mais variadas coberturas, como Nutella, morangos frescos ou, simplesmente, açúcar de confeiteiro!
Nos trailers existentes na praça também se pode degustar as deliciosas, especiais, únicas, batatas fritas (belgian fries)! Servidas em embalagens de papelão, podem vir cobertas por alguns tipos de molho à base de maionese e mostarda, uns picantes e outros MUITO picantes! Fritas na hora, crocantes por fora e macias por dentro, são inigualáveis! Acompanham muito bem uma cervejinha gelada…
Gaufres / Belgian frie
E os chocolates? Não poderia deixar de citá-los, já que os de fabricação belga tem fama internacional e não é a toa: são, realmente, insuperáveis! Várias são as lojas que vendem os mais diversos tipos: trufas, barras, pralinés e muito mais… Nós experimentamos as trufas, divinas!
Loja de chocolates em Bruges
De Bruges seguimos para a Normandia, cujas praias foram palco do desembarque das forças aliadas que libertaram a Europa do domínio alemão, e tem uma gastronomia baseada nas maçãs e nos laticínios. Dizem, inclusive, que em nenhuma outra parte da França se produz laticínios como ali! Para que fique bem clara a procedência dos produtos, muitosqueijos levam nomes de cidades da região, a exemplo dos Livarot, Pont l’Evêque e Neufchâtel.
Entretanto o mais famoso deles é o Camembert, que com sua crosta esbranquiçada, apresenta interior pastoso e sabor mais suave que os outros. A bebida que o acompanha é a cidre (cidra), produzida a partir da fermentação do suco da maçã. Além dela, há o calvados (pronuncia-se calvadô), um destilado também de maçã, que só existe nesta região.
Tanto ele como o pommeau, um aperitivo que mistura as duas bebidas, são muito usados como facilitadores da digestão. O costume é finalizar almoço ou jantar com um pequeno copo de um dos digestivos para garantir bem estar até a próxima refeição. Afinal, para um normando, comer bem chega a ser um dever.
Função dos 600 km de costa, a qualidade dos frutos do mar disponíveis na Normandia é fantástica e pode ser comprovada nas diversas preparações oferecidas. Eu experimentei, e adorei, as “moules frites à la marinière”: mexilhões cozidos servidos ainda na casca em uma panelinha ladeados por uma porção das excelentes batatas fritas que vem em outro recipiente, com molho à base de vinho branco e ervas aromáticas, mas que podem ser servidas também com um molho de creme azedo, especialidade local. Tudo devidamente acompanhado por uma taça de cidra bem fria…
Nesta região tivemos a oportunidade de visitar várias cidades, dentre elas Le Havre, Honfleur, Caen, Étretat, Trouville e Deauville, onde ficamos hospedados e é uma pequena e antiga vila de pescadores, mas que se transforma em um destino de celebridades francesas e estrangeiras durante o verão e é onde acontece um festival de cinema muito badalado, o Festival du Cinéma Américain de Deauville, uma vez a cada ano, em setembro. E estivemos também no MontSaint-Michel, situado numa ilha que, dependendo da altura da maré, se consegue chegar a pé!
Impossível abordar o tema “gastronomia” na Europa e não falar das feiras de rua, os “marchés”, em francês, ou os mercados municipais fechados, os “halles”. Sempre que nos deparamos com um deles, não temos dúvidas, vamos visitá-los.
Ali é possível adquirir produtos frescos, vindo diretamente das fazendas ou pequenas indústrias familiares e artesanais, e de tudo, praticamente: pães, biscoitos, queijos, embutidos, doces, vinhos, frutas, verduras, legumes, frango assado, frutos do mar, mel, doces, comidas prontas para levar para casa, flores, roupas, calçados, utilidades domésticas e muito, muito mais! As cores e os aromas encontrados são incríveis e inesquecíveis. Vale a pena, sempre, uma visita!
Já na Bretanha, às margens do canal da Mancha, ficamos hospedados em outra pequena cidade turística, Saint-Malo (eles falam Sã Malô…), onde parte dela é medieval e fica cercada por uma enorme muralha, e aliestão vários restaurantes e lojas de souvenires. Ficamos também em Brest, importante cidade portuária mais a oeste do país e onde está uma das bases militares da marinha francesa. Em seguida viajamos até Rennes, que é a capital da região.
A gastronomia local é baseada nos crêpes, aquelas panquecas fininhas servidas com uma cobertura doce, seja o caramel beurre sucrée (um produto genuinamente bretão: calda de caramelo com uma pequena dose de manteiga salgada…), calda de chocolate, frutas, mel ou geléias, ou nas galettes, preparadas com trigo sarraceno, mais escuro, e recheadas com algo salgado: presunto e queijo, ovo estrelado, cogumelos salteados na manteiga e muito mais. Para acompanhar um bollée de cidra (eles a tomam numa espécie de xícara, não em taças!)…
Crêpe / Galette
A Bretanha também é rica em frutos do mar e as especialidades são as ostras, especialmente as de Cancale e as de Bélon, vendidas às dúzias e fresquíssimas, para saborear cruas, abertas na hora, com gotas de limão e fatias de baguette e manteiga, como manda o figurino, mas que também podem ser gratinadas…
E as Coquilles Saint-Jacques, nossas conhecidas “vieiras”, preparadas grelhadas ligeiramente no azeite e salpicadas com salsinha ou, então, gratinadas na própria concha! Além destas opções, diversos pescados e caranguejos podem ser degustados na região.
Ostras frescas (huitres) / Coquilles Saint Jacques
O destino seguinte foi à cidade de Bordeaux, passando pelo balneário de La Rochelle, que estava lotada de turistas, afinal era um sábado! Ficamos poucas horas ali…
Bordeaux é a capital dos vinhos de muita tradição, qualidade e preços que alcançam valores estratosféricos, como os Chateau Petrus e Chateau Margaux, dentre muitos outros, elaborados sempre com uma mistura (blend, como eles dizem…) das uvas cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc, sendo que cada produtor usa uma proporção de cada uma delas que acha mais apropriada. Visitamos a Cité du Vin (Cidade do Vinho), uma construção super moderna e espetacular onde há um enorme museu, você pode ter aulas de enologia, fazer degustações (pagas, é claro…), adquirir vinhos e souvenires, como livros, decanters, taças das mais variadas formas, saca-rolhas, etc.
La Cité du Vin, Bordeaux
Visitamos, ainda, duas pequenas cidades próximas cujo foco é a vitivinicultura e muito visitadas por turistas e negociantes de vinhos: Saint-Émilion, ao sul, e Margaux, ao norte, onde fica o castelo (chateaux) de mesmo nome. A paisagem é sempre muito parecida: parreirais e mais parreirais, castelos e pequenas vilas no trajeto. As estradas são estreitas, porém todas muito bem pavimentadas, sinalizadas e conservadas.
Saint-Émilion / Chateau Margaux
A última etapa de nossa viagem foi um pernoite em Tours, meio caminho entre Bordeaux e o aeroporto Charles De Gaulle (CDG), onde iniciamos este passeio e também embarcamos de volta ao Brasil, após 14 dias passeando. Berço francês do renascimento e banhada pelo rio Loire – Patrimônio Mundial da UNESCO, Toursé conhecida e apreciada por sua intensa vida cultural, gastronômica e artística. Foi a capital da França nos séculos XV e XVI e conserva um importante patrimônio. Atualmente possui 135 mil habitantes, sendo que 40 mil são estudantes que frequentam a Universidade.
Place Plumereau, Tours
Depois de uma noite bem dormida e de rodarmos por 270 km, chegamos ao aeroporto CDG, devolvemos o carro alugado, despachamos as malas direto para o Rio de Janeiro, embarcamos e nos despedimos destes ótimos dias passados no interior da França, já fazendo planos e o roteiro para uma próxima viagem!