Mais de 20 pessoas estão desaparecidas em Marechal Floriano e Domingos Martins
Publicado em 29/12/2024 às 10:54
Texto: Bruno Caetano / Fotos: Divulgação
Homem branco, cabelo curto, blusa e bermuda pretas, chinelos Havaianas azuis: detalhes que a mãe, Maria Rosa Braga, guarda na memória como se fossem a última fotografia tirada do filho, Carlos Braga Guilherme, de 35 anos, que desde o dia 16 de novembro está desaparecido.
“Lembro como se fosse hoje”, conta, chorando, Maria Rosa sobre o filho. “Falei com ele às 13h35 daquele dia e, desde então… o silêncio. Um silêncio ensurdecedor que nos consome a cada minuto”, relata.
O desaparecimento de Carlos se insere em um contexto preocupante: o Espírito Santo tem registrado um aumento no número de desaparecimentos, e municípios como Marechal Floriano e Domingos Martins não ficaram alheios a essa realidade.
De acordo com o Portal de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil, atualmente há 14 pessoas desaparecidas em Marechal Floriano e 7 em Domingos Martins. Desses, 14 são homens e sete são mulheres. Os números preocupam as autoridades e geram comoção entre as famílias, que vivem momentos de angústia e incerteza.
No Espírito Santo, a Polícia Civil, responsável por registrar e investigar os desaparecimentos, reconhece o aumento dos números. Em 2022, foram 2.335 desaparecidos e, no ano passado, mais 2.462. Até julho desse ano a Polícia Civil contabilizou 1.510 desaparecidos no estado.
Os casos são variados e envolvem desaparecimentos de crianças, adolescentes, adultos e idosos. As razões para esses sumiços também são múltiplas, podendo incluir problemas familiares, saúde mental, tráfico humano ou mesmo acidentes. “Cada caso é único e requer investigação detalhada para encontrar respostas e, se possível, reunir essas pessoas às suas famílias”, afirmou o delegado Geraldo Peçanha, de Domingos Martins.
A essa angústia se soma o desaparecimento de Vanderley Espíndula, de 52 anos, residente na comunidade de Perobas, em Domingos Martins. Vanderley também foi visto pela última vez no dia 16 de novembro, por volta das 14 horas. Ele desapareceu deixando familiares e amigos em estado de apreensão. Vanderley é conhecido por sua rotina simples e por se locomover em uma bicicleta antiga entre as comunidades vizinhas.
A família percebeu o desaparecimento ao encontrar a casa de Vanderley com sinais de abandono. Segundo sua irmã, Odete Espíndula, a casa foi arrombada pela própria família, que encontrou comida estragada no fogão, sem a falta de nenhum pertence, indicando que Vanderley saiu apenas com a roupa do corpo.
DESAFIOS – Os desafios na busca por pessoas desaparecidas no Brasil são muitos. Durante uma audiência pública da Comissão de Segurança Pública (CSP), que avalia neste ano a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, um dos maiores problemas citados é a falta de conexão entre os dados dos órgãos de segurança.
Segundo Bárbara Lisboa Travassos, titular da Delegacia de Polícia de Investigações sobre Pessoas Desaparecidas, isso dificulta encontrar informações importantes sobre as pessoas. “Não existe um sistema único em todo o país, atrasando as buscas. Outro problema é a falta de dinheiro para investir em tecnologia e treinamento. As autoridades precisam de equipamentos modernos para auxiliar nas buscas”, afirma Bárbara.
Coleta de material genético
Em março deste ano, a polícia aderiu ao projeto nacional de coleta de material genético. As amostras foram juntadas à Rede Integrada de Perfis Genéticos (RIBPG), que visa recolher dados sobre pessoas desaparecidas, familiares de pessoas desaparecidas, pessoas vivas desconhecidas e cadáveres não identificados.
No Espírito Santo, o registro é possível para pessoas cujos familiares estão desaparecidos há mais de 30 dias e que registraram boletim de ocorrência do desaparecimento na Guarda Civil. O agendamento deverá ser feito pelo WhatsApp do Departamento Médico Legal. O telefone é: (27) 3225-8260.
Ao serem contatadas, as famílias serão informadas sobre a data, horário e local da coleta da amostra, que é indolor e envolve apenas a limpeza da mucosa da bochecha. Os perfis genéticos obtidos não serão utilizados para nenhum outro fim que não seja a identificação de parentes desaparecidos.
A colaboração da comunidade é fundamental para auxiliar na localização dessas pessoas. Quem tiver qualquer informação sobre o paradeiro de Carlos Braga Guilherme ou Vanderley Espíndula, ou de qualquer outra pessoa desaparecida, entre em contato imediatamente com pelo disque denuncia 181 ou pelo portal de Pessoas Desaparecidas: https://disquedenuncia181.es.gov.br/desaparecidos. Qualquer detalhe, por menor que pareça, pode ser crucial para as investigações e para trazer alívio às famílias que aguardam por notícias.