Jovem vai pra UTI após encostar em lagarta venenosa em Domingos Martins

Publicado em 08/02/2023 às 16:30

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Texto: Julio Huber | Foto: Butantan

O jovem André Wernersbach, 28 anos, precisou ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após encostar a mão em uma lagarta venenosa, em um terreno da família, na localidade de Chapéu, próximo ao centro de Domingos Martins. Conhecida como Lonomia, a lagarta que André encostou é da família Saturniidae (lagartas “espinhudas”), com incidência rara no Espírito Santo.

O pai de André, Germano Wernersbach, contou que o filho estava na propriedade, na manhã do último domingo (05), quando encostou a mão em uma árvore. “No momento ele não sentiu nada. Ele percebeu que havia encostado nas lagartas porque a palma da mão ficou vermelha e ardeu, mas sem gravidade. No final da tarde, já em Vitória, a esposa dele percebeu que ele estava agitado, aflito e com muito calor”, contou Germano.

Diante dos sintomas, a esposa de André o levou para o hospital, e exames de sangue identificaram que o sangue dele não estava coagulando. “O veneno dessa lagarta vai direto para a corrente sanguínea e bloqueia a ação de coagulação, o que pode provocar hemorragias. Ele fez diversos exames e, graças a Deus, não tinha hemorragias internas”, relatou o pai.

Após identificarem que o veneno da lagarta estava agindo no organismo de André, foi ministrado um Soro Antilonômico, específico para o veneno da lagarta em que o jovem encostou. No final da tarde de ontem (07), Germano contou que visitou o filho no hospital, e que ele estava bem.

De acordo com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIAToxES), a lagarta é de rara ocorrência no Espírito Santo, sendo mais comum no Sul do país e em São Paulo. No Estado esse acidente é raro. Até o momento, o CIAToxES confirmou três casos. Dois foram em Domingos Martins, sendo um caso leve em 2016 e que não necessitou de soro antiveneno e este caso de André, considerado moderado. O outro caso foi em Santa Teresa, no ano de 2022, considerado moderado.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), o Brasil é o único país produtor do Soro Antilonômico (SALon), específico para o tratamento dos envenenamentos moderados e graves causados por essas lagartas.

Ainda de acordo com a Sesa, o caso de André foi informado à vigilância em saúde da regional metropolitana e município para visita ao local e possível captura para identificação e georreferenciamento. Por se tratar de uma fase do ciclo de vida de borboletas, muitas vezes durante a visita não é encontrada mais a fase larvar do animal. O diagnóstico, independente da identificação da lagarta, pode ser clínico, orientando adequadamente o diagnóstico.

Lagarta é rara no Espírito Santo

No Brasil, há duas espécies de lagartas que mais causam acidentes. Da família Megalopygidae (lagartas “cabeludas”), são geralmente solitárias e não-agressivas (de 1 a 8 cm de comprimento), possuem “pelos” dorsais longos e sedosos de colorido variado (castanho, branco, negro, róseo), que camuflam as verdadeiras cerdas pontiagudas e urticantes. As cerdas pontiagudas e curtas contêm as glândulas de veneno, entremeadas por outras longas, coloridas e inofensivas.

As lagartas Lonomia costumam ficar em grupos e possuem veneno que pode matar uma pessoa

Já da família Saturniidae (lagartas “espinhudas”), vivem em grupos, possuem cerdas urticantes em forma de espinhos, semelhantes a pequenos pinheiros verdes distribuídos no dorso da lagarta, não possuindo pelos sedosos. Têm “espinhos” ramificados e pontiagudos de aspecto arbóreo, com tonalidades esverdeadas mimetizando muitas vezes as plantas que habitam. Nesta família se inclui o gênero Lonomia, com ampla distribuição em todo o país, causador de acidentes hemorrágicos.

O que fazer em caso de acidente

No caso de dúvida do tipo de lagarta ou na confirmação de acidente por Lonomia, encaminhar a vítima imediatamente ao serviço de saúde mais próximo para que possa ser avaliada a necessidade de soro antiveneno. Somente casos moderados e graves necessitam do soro antilonômico.

Lavar o local da picada com água fria ou gelada e sabão. A identificação da lagarta causadora do acidente pode ajudar no diagnóstico. Portanto, se for possível e sem colocar a saúde de outras pessoas em risco, é recomendado levar a causadora ao serviço de saúde. Entrar em contato com o CIATox-ES através do número: 0800 283 9904, para mais informações e orientações, inclusive para apoio na identificação do animal. Nem todas as lagartas são do gênero Lonomia, e nesses casos podem ser conduzidas com medidas simples no próprio local do acidente.

Sintomas do acidente com lagartas

Normalmente, os acidentes com lagartas ocorrem quando o indivíduo toca o animal, geralmente em tronco de árvores ou ao manusear vegetação. O contato com as cerdas pontiagudas faz com que o veneno contido nos “espinhos” seja injetado na pessoa. A dor, na maioria dos casos, é violenta, irradiando-se do local da “queimadura” para outras regiões do corpo. No caso da Lonomia, algumas vezes aparecem complicações como sangramento na gengiva e aparecimento de sangue na urina. Os casos mais graves podem evoluir para insuficiência renal aguda e morte.

O que não fazer em caso de acidente

Não fazer torniquete ou garrote, furar, cortar, queimar, espremer, fazer sucção no local da ferida e nem aplicar folhas, pó de café ou terra sobre ela, para não provocar infecção. Não coçar o local. Não aplicar qualquer tipo de substância sobre o local da picada (fezes, álcool, querosene, fumo, ervas, urina), nem fazer curativos que fechem o local, pois podem favorecer a ocorrência de infecções.

Prevenção

Ter atenção ao passar próximo de troncos de árvores, gramados e arredores. Observar se as folhas de árvores estão roídas; se existem pupas ou fezes no chão. Utilizar camisas de mangas longas e calças em atividades rurais. Cuidado: se coletar alguma lagarta para identificação, faça somente com as mãos protegidas com luvas grossas e com pinças.

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