Arte, Crônicas e Poesia
Insônia meditativa
Publicado em 10/10/2024 às 10:15
O silêncio da noite traz consigo o turbilhão mental, enquanto as vozes externas silenciam, dentro de mim um coral desafinado vem à tona. A distinção entre passado, presente e futuro inexiste, tudo são devaneios.
Quando criança os sonhos eram tão reais e nítidos, a consciência transformou em sépia o que era vívido e intenso, o grito infante ao menor descobrimento, êxtase, rapidamente tornou-se uma inércia taciturna. Um velho sentado em sua cadeira de balanço, vagueia o olhar sobre o que um dia foram desejos.
Assim todos somos ou um dia há de sermos, o enigma está justamente no caminho até lá, a bússola deveria indicar algo, mas assim como tudo, observa sem direcionamento. Parece que estamos sobre um monte de areia e nele, em um ponto desconhecido, tem um diamante a nos esperar, será que um dia acharemos?
A velhice traz consigo a culpa, a consciência sempre vem de forma tardia, tenho a impressão que fica à espreita, esperando o momento oportuno, oriundo do arrependimento por ter seguido jornada distinta da que queria, induzido pelo menor esforço. Certamente em outro caminho teria chegado a lugares distintos, mas a dor é inevitável?
A doença é um dos grandes megafones da dor, ao emitir seu aviso, tudo mais é silenciado, não existe nada mais urgente. Durante a noite de febre, envolto a delírios, sozinho, nada mais importa do que a cura. Dinheiro, poder, inteligência, etc, tudo se esvai na esperança da cura.
A dor maior sem dúvida é aquela que a esperança não é o remédio, as dores da alma, tão silenciosas e insidiosas, muitas vezes atrás de um sorriso largo e expansivo esconde uma tristeza e angústia inenarrável.
Nosso olhar está em tudo, menos nos sentimentos alheios, o outro é uma edição velha de jornal no nosso inconsciente. Em exercício rápido de memória, quantas pessoas queridas estão esquecidas, sufocadas nas obrigações diárias e anseios insanos de controle.
Um telefone, uma mensagem, do outro lado o recado que um amigo faleceu, atônito, nesse momento vem à memória todo negligenciamento, a morte ocorreu há muito tempo, a morte em vida, quando já não sabia mais nada do outro, nenhuma percepção da vida ou sentimentos do amigo.
E por mais que se tenha bons motivos, todos enfrentamos adversidades, não adianta, foi sempre uma escolha, por mais doloroso que possa ser essa conscientização. Para tudo na vida desenhamos um roteiro, um cronograma, e com cada idade acreditamos que estaremos em determinado ponto: estudar, trabalhar, casar, filhos, etc. Obviamente que isso é individual, para muitos hoje o auge é liberdade financeira. Mas, independente do que se planeja, nada garante que conquistará.
Nessa execução de roteiro que os amigos, familiares, colegas, etc tornam-se apenas memórias distantes. Muitos escolhem subir a montanha sozinhos, logrando êxito com esforço e determinação. O grande ponto é o que acontece depois que alcança o cume, como será a vida isolado? Muitos homens de sucesso, os que independente da área alcançam o auge, falam da solidão no sucesso.
E a cada um cabe seguir o seu rumo, de preferência ciente, nem tudo ganho, nem tudo perco.