Importação de café causará demissões e Espírito Santo deverá perder R$ 1,5 bilhão
Publicado em 19/02/2017 às 10:27
Os cafeicultores capixabas estão apreensivos com a possibilidade de importação de café conilon do Vietnã. Caso isso ocorra, os produtores do Espírito Santo podem ter prejuízo de R$ 1,5 bilhão.
Produtores de café conilon do Espírito Santo estão organizando um protesto que poderá fechar a BR-101 nos próximos dias. Eles querem que o governo estadual intervenha para que a importação dos grãos não seja autorizada pelo governo federal. A apreensão do setor, além da perda financeira, é de que haja demissões e redução da área plantada de café no Estado. A pretensão dos cafeicultores é levar tratores até a frente do Palácio Anchieta, em Vitória, sede do governo estadual.
Na última quarta-feira (15), o Comitê Executivo de Gestão (Gecex) ligado à Câmara de Comércio Exterior (Camex), publicou encaminhamento de indicação favorável à autorização da importação pelo Brasil. O volume autorizado é de um milhão de sacas, entre fevereiro e maio deste ano, com limite de 250 mil sacas por mês.
Esta decisão de caráter técnico dará subsídio à decisão final da Camex, que se reunirá no próximo dia 22. Na semana passada, a Federação da Agricultura e Pecuária do ES (FAES) esteve com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, quando foi acordado que o Ministério receberia o relatório de estoque de café conilon no Espírito Santo, Rondônia e sul da Bahia, que contabiliza 4,4 milhões de sacas de café, mais que o dobro da quantia levantada pela Conab, e sepultaria a importação.
“Estamos todos mobilizados, e pedindo que confiram os estoques que constam no relatório. A expectativa é que o ministro honre sua palavra, como combinado. A solução provável, é uma intensa pressão de toda a bancada federal sobre os componentes da Camex”, afirma Júlio Rocha, presidente da FAES, que ressalta ainda que a estratégia é conseguir quatro votos contrários dos seis que compõem a Câmara.
CAMEX – O Conselho da Camex é o órgão de deliberação superior e final da Câmara de Comércio e, além da Casa Civil, é composto ainda pelos ministros das Relações Exteriores; Fazenda; Agricultura; Indústria, Comércio Exterior e Serviços; Planejamento; e pelo secretário executivo da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos.
PRODUÇÃO – O Espírito Santo é o maior produtor de conilon do País. A atividade cafeeira capixaba é responsável por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola do Estado e gera cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos. Por outro lado, toda a indústria de torrefação do país gera menos de dois mil empregos, destaca o presidente da FAES.
DOENÇAS – Responsável por 78% da produção nacional do café conilon, principal atividade de renda de 80% das propriedades rurais capixabas, o Estado ainda corre riscos fitossanitários de se trazer o grão verde de fora para o Brasil.
Estudo realizado pela Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), apontou o risco de pragas ausentes no País serem contraídas em caso de importação de café da África, da Ásia e até mesmo da América do Sul.
Foram identificadas ao menos quatro pragas de café existentes nessas regiões. Os estudos apontaram o risco das seguintes pragas quarentenárias: Coffee Berry Disease (CBD), Coffee Wilt Disease (CWD), Brocas dos ramos e tronco do cafeeiro, insetos Cochonilhas e Striga.
ESTOQUE – O argumento das grandes empresas de torrefação de café do Brasil para a liberação da importação é de que não há café suficiente no país para abastecer o mercado. A Conab fez um levantamento de estoque e apontou que há 2,2 milhões de sacas armazenadas.
Por outro lado, entidades ligadas ao setor afirmam que há, no mínimo, o dobro de produto em todo o Brasil. Para resolver de vez essa questão, o deputado federal Evair de Melo sugeriu, durante uma sessão na Câmara Federal, em Brasília, que seja instalada uma comissão que possa conferir, in loco, os estoques existentes, conforme o relatório entregue no MAPA.
“Com a constatação dessa quantidade de café não haveria a necessidade de importação porque o estoque será suficiente para abastecer as indústrias. Fiz um apelo ao Presidente da República para que não coloque no currículo do seu mandato o certificado do Presidente que autorizou a importação do café, rasgando e manchando a história do Brasil”, disse deputado Evair de Melo.