Edu do Restaurante promete drone na agricultura e banheiro nas comunidades
Publicado em 26/09/2024 às 11:15
Texto e fotos: Gleberson Nascimento
Com uma voz mansa, cercado por números que vinham do celular e de papéis organizados sobre a mesa, sob o olhar atento de assessores e do vice da chapa, Sargento Wagner (PL), o candidato de oposição à atual gestão do prefeito de Domingos Martins, Wanzete Kruger (sem partido), Eduardo José Ramos, o Edu do Restaurante (PL), partiu para o ataque, mas também apresentou suas propostas aos eleitores, como a implantação de drones na agricultura e a construção de banheiros públicos nas comunidades.
Na entrevista concedida à reportagem do Montanhas Capixabas, na última sexta-feira (20), no apartamento da sua coordenadora de campanha e amiga Angela Módulo Assunção, Edu foi categórico e apontou com detalhes o que ele acredita ser as principais falhas da atual administração, que apoia o seu adversário na disputa do dia 6, Fabinho Trarbach (PSD), atual vice-prefeito.
“Hoje, o município gasta mal. São R$ 2 milhões em aluguel por ano com a parte administrativa, as secretarias. O município tem locado dois caminhões coletores de lixo, no valor de R$ 592 mil, sendo que nós temos dois coletores parados na unidade de Santa Isabel. Não há planejamento”, criticou Edu.
Para o candidato do PL, o poder público abandonou o agricultor martinense, ao ponto de o secretário de Agricultura ser um professor. “Ele deveria ser aproveitado na Educação. Se eleito, quero colocar pessoas com um perfil técnico na Agricultura (…). Domingos Martins nunca recebeu uma feira do agronegócio”, apontou. Ele garante que, se eleito, o município passará por um choque de gestão.
Edu é o segundo entrevistado da série do Montanhas Capixabas com os candidatos à prefeitura de Domingos Martins. As entrevistas estão sendo publicadas de acordo com a ordem alfabética do nome de urna dos candidatos.
Montanhas Capixabas – Por que o senhor quer ser prefeito de Domingos Martins?
Edu do Restaurante – Eu não tenho sonho de ser prefeito, mas tenho muita vontade. Porque sonho é algo muito pessoal, né! Mas eu tenho muita vontade de ser prefeito porque Domingos Martins pode mais. Tem muitas ações que não estão acontecendo. Não é só trocar o nome do prefeito.
A maneira de fazer gestão é que precisa ser colocada em pauta. A gestão tem de ser eficiente. Uma gestão planejada é o segredo de tudo. Os municípios desenvolvidos estão fazendo isso, e tem dado certo. O município já fica planejado para o sucessor. A cultura do interior ainda não é essa.
Quando o próximo gestor chegar à administração, ele terá que pensar e fazer. Os municípios do interior não têm se desenvolvido diante desse perfil de gestão.
Estou querendo fazer tudo diferente. Planejar os quatro anos, planejar a próxima gestão para oito anos e, também, planejar o município para daqui a 20 anos. Como será Domingos Martins daqui a 10, 20 anos? Acho que isso é fundamental. O próximo gestor tem de entender isso.
“Como será Domingos Martins daqui a 10, 20 anos? Acho que isso é fundamental. O próximo gestor tem de entender isso”
O senhor defende equipes técnicas?
Não se pode abrir mão de uma equipe técnica. O secretário tem de ser técnico. Senão, ele não vai conseguir colocar em prática suas ações. Mas não adianta só o secretário ser técnico. Ele tem de criar sua própria equipe. É ele quem vai desenvolvê-la.
Hoje, os secretários de Domingos Martins não se ausentam das secretarias. Um dos motivos é que as equipes não foram formadas por eles. Mas o secretário precisa ir ao interior, ver como está a educação, precisa visitar as escolas.
Isso não tem acontecido, pois ele não tem uma equipe preparada para substituí-lo na ausência. Falo da descentralização dos serviços. Hoje, os serviços são concentrados muito na sede.
Pedra Azul é uma realidade distante de nós. São 50 quilômetros daqui (sede). Então, os serviços em Pedra Azul precisam ser feitos por Pedra Azul, tanto na parte administrativa quanto na de manutenção da frota, assim como em Ponto Alto. Precisamos ter muita responsabilidade com o dia a dia.
Hoje, o município gasta mal. São R$ 2 milhões com aluguel por ano na parte administrativa, das secretarias. E também gasta com equipamentos, por exemplo. O município tem locado dois caminhões coletores de lixo por R$ 592 mil, sendo que temos dois coletores parados na unidade de Santa Isabel, pertencentes à Secretaria de Interior e Transporte.
“Hoje, o município gasta mal. São R$ 2 milhões com aluguel por ano na parte administrativa, das secretarias. E também gasta com equipamentos, por exemplo”
Sua resposta tem relação com a próxima pergunta. Como o senhor avalia a administração municipal?
A administração municipal, em termos de gestão do gasto público, vai muito mal! Não há planejamento. Hoje, pensa-se e faz-se. Por exemplo, citei os caminhões coletores alugados, mesmo tendo caminhões disponíveis.
Estamos em 2024, ou seja, são 131 anos de emancipação política. Ainda não temos a nossa sede da Prefeitura Municipal, e ela é necessária. Gabinete do prefeito, secretarias, auditório público e Câmara Municipal, tudo isso deve estar no mesmo prédio.
Obter uma licença ou liberação de alvará para condomínios precisa ser um procedimento mais rápido, para atrair novas empresas. Não pode demorar três, quatro anos. As pessoas e os empreendedores não podem esperar!
Infelizmente, isso ainda acontece em Domingos Martins. Esse é um ponto que eu acredito que resolveria muita coisa e facilitaria a vinda de novos empreendedores. Aí também entra o gasto de R$ 8 milhões em quatro anos com o pagamento de aluguel. Eu investiria muito com esses R$ 8 milhões.
Também enfrentamos um problema sério e caótico, que é o trânsito municipal. Nós abriríamos mais de 150 vagas de estacionamento, pois teríamos um amplo estacionamento na cidade. Hoje, os espaços alugados pelo poder público incluem garagens. Vou citar a Câmara Municipal. São 35 servidores e 13 vereadores, ou seja, 48 pessoas. Muitos veículos ficam no centro da cidade, ocupando vagas que poderiam estar sendo usadas por outros cidadãos.
“A administração municipal, em termos de gestão do gasto público, vai muito mal! Não há planejamento”
Caso o senhor seja eleito prefeito, como será a relação com os vereadores?
Tem de ser a melhor possível. O Poder Executivo não tem uma boa relação com a Câmara Municipal. Seis milhões do Orçamento Municipal são destinados ao Legislativo por ano. Devolvem-se R$ 2,5 milhões, mas gastam-se R$ 3,5 milhões. O vereador, na eleição, está junto com o prefeito. Ele é aliado do prefeito e pede votos para o prefeito.
A chapa do senhor tem quantos candidatos a vereador?
São 27, ao todo, que estão no mesmo grupo.
O senhor acredita que vai conseguir eleger quantos?
Nós pretendemos eleger de seis a sete.
O senhor terá apoio suficiente, maioria na Câmara, para aprovar seus projetos, caso eleito?
Sim, com certeza. Isso é construído pelo poder público, pelo Executivo. Vamos tratar todos por igual. Eu já fui vereador, sei como isso funciona. Vamos trabalhar com todos, porque é um desperdício de recurso público não trabalhar com todos os vereadores.
Há um investimento na Câmara Municipal, e é o segundo maior poder aqui no município. É um poder importante e, trabalhando juntos, com certeza, poderemos fazer muito mais. São ações, convênios e emendas que virão para o nosso município com o apoio dos vereadores.
O município tem suas limitações orçamentárias. Como será a relação do senhor com o governador Renato Casagrande e com o presidente Lula?
Quando se fala em governador, talvez você restrinja muito o poder de ação do município. Mas, quando você fala em governo de Estado, onde se apresentam projetos, buscam-se convênios e emendas parlamentares, o município cresce, o Estado cresce, e é nessa relação que pretendemos desenvolver muitas ações em Domingos Martins, junto com o governo do Estado e o governo federal. Quando falo governo, amplio as negociações, os projetos e a capacidade de elaborar projetos padronizados.
A gestão será padronizada, inteligente, e isso nos permitirá criar projetos científicos. Por exemplo, se eu quiser alcançar verbas federais, vou construir um projeto cultural com a Lei Rouanet e a Lei Aldir Blanc.
É ciência com ciência. O que percebemos no município é a ausência de projetos. Projetos bem estruturados e materializados nos possibilitarão estabelecer uma ponte tanto com o governo estadual quanto com o federal.
“Projetos bem estruturados e materializados nos possibilitarão estabelecer uma ponte tanto com o governo estadual quanto com o federal”
O senhor acredita que o seu vice está preparado para substituí-lo?
Com certeza. O Sargento Wagner (da Conceição) está preparado. Ele tem uma formação extensa em várias áreas e também conhece o município. Está há mais de sete anos na 6ª Companhia da Polícia Militar, foi chefe da Patrulha Rural e da Patrulha da Lei Maria da Penha.
Ele atuou no Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), é turismólogo, terapeuta, professor universitário, historiador e passou 30 anos na polícia. A estrutura da prefeitura é ferro, cimento e barro, mas quem vive nela são as pessoas, e precisamos aprender a tratá-las. Temos uma tríade: gestão descentralizada, gestão humanística e gestão técnica.
Como será a relação do senhor com a bancada federal? Um problema muito sério é a questão da duplicação da BR-262.
A relação com a bancada federal tem de ser a melhor. Hoje, todo candidato é filiado a um partido para concorrer à eleição. Mas a eleição acaba, e então precisamos trabalhar com todos.
Os deputados federais têm interesse em apoiar tanto os municípios quanto o Estado. O deputado não vive apenas de projetos de lei; para terem sucesso, precisam ser atuantes, executar algo, seja no município ou no Estado.
Nós temos projetos para a BR-262 que pretendemos apresentar. Por exemplo, a curva do Vale da Estação não vejo tanta dificuldade em melhorar. Apresentaremos projetos para todos os 10 deputados federais, pois isso une a bancada.
Existem emendas individuais e de bancada, e contamos também com três senadores. Em relação ao Brasil, trabalharemos com todos. Apresentaremos projetos unificados, não só direcionados a um parlamentar, mas para toda a bancada federal.
Quais parlamentares já manifestaram apoio à sua candidatura a prefeito em Domingos Martins?
Tenho apoio do deputado Gilvan da Federal e do senador Magno Malta. Na bancada estadual, estão comigo Lucas Polese, Capitão Assumção, Danilo Baiense e Wellington Calegari. Michele Bolsonaro, que esteve no Estado, gravou um depoimento, e também temos o apoio do nosso presidente Jair Bolsonaro, que já gravou um vídeo.
Quais são as propostas do senhor para a agricultura?
O poder público está muito ausente da vida do agricultor, e a propriedade é um grande negócio, uma grande empresa. Mas precisa de mais investimento. Afinal, R$ 4 milhões são apenas 2% do nosso orçamento para agricultura. É pouco!
Precisamos estar mais próximos do produtor. Primeiro, o secretário da área (agricultura) tem de ser aliado do agricultor e entender de agricultura. Hoje, nosso secretário é professor. Eu entendo diferente, mas a atual gestão escolheu assim. Nada contra a pessoa, afinal, o professor, para atuar, precisa de conhecimento.
Ele deveria ser aproveitado na Educação. Se eleito, quero colocar pessoas com perfil técnico na agricultura, para poder desenvolver mais esse setor, que é muito importante em Domingos Martins.
“O secretário da área (agricultura) tem de ser aliado do agricultor e entender de agricultura. Hoje, nosso secretário é professor”
Mas quais são os principais desafios hoje do agricultor de Domingos Martins? E o que o senhor propõe como solução?
Falta acompanhamento técnico. O poder público não tem feito esse acompanhamento e não está chegando às propriedades como deveria. Vejo isso como uma grande dificuldade para o agricultor.
Temos o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do governo federal, que deu certo, mas precisamos ampliar a estrutura. Hoje, os equipamentos e as máquinas não conseguem chegar a todas as propriedades. E quando chegam, demoram de seis meses a um ano.
Por exemplo, hoje o Pronaf não conta com drones. O drone tem economizado tempo, e somado muito à agricultura, mas o nosso Pronaf ainda não dispõe dessa estrutura. Vamos implantar isso. É um ganho muito grande, pois os proprietários hoje alugam esse equipamento, e o custo não é baixo. Domingos Martins nunca recebeu uma feira do agronegócio, uma feira da agricultura.
Como assim?
Nunca! Se o agricultor quer conhecer um equipamento diferente, mudas, sementes ou novidades do mercado para a agricultura, ele tem que ir a São Paulo ou ao Rio de Janeiro. Então, pretendemos trazer feiras para cá, para que o produtor esteja mais próximo e conheça de perto o que há de novo.
Conceição do Castelo, um município menor que o nosso, realizou uma feira nos últimos três ou quatro meses que movimentou 30 mil pessoas. Além de alavancar o comércio financeiramente, você leva conhecimento e capacitação. Não podemos abrir mão disso.
Os municípios também já têm oferecido, em relação a barragens, projetos e equipamentos para o produtor fazer intervenções para reter água em sua propriedade. Domingos Martins ainda não faz isso. Tenho a intenção de levar essa assessoria para o nosso produtor, o que é de grande relevância, especialmente considerando que este ano enfrentamos a maior seca dos últimos 40 anos. O município de Presidente Kennedy tem sido uma grande inspiração nesse sentido, pois implementou ações bem-sucedidas nessa área.
O senhor está de olho nas inovações tecnológicas?
Tenho visitado propriedades que utilizam estufas para o plantio de tomate. Em uma delas, a produção aumentou muito, e o mais interessante: sem agrotóxicos. Um tomate que duraria três dias está lá há 40 dias, pronto para o mercado de consumo.
Isso é uma inovação muito grande que devemos adotar, pois agrega valor às propriedades. Hoje, muitos filhos de agricultores vão para a Grande Vitória e não voltam. Acredito que eles podem estudar, se capacitar e retornar para manter a sucessão familiar. O município precisa acompanhar isso de perto e trazer as informações necessárias para o nosso agricultor.
O senhor tem propostas para o empreendedorismo feminino?
Hoje, as mães precisam trabalhar, e vejo que, ao manipular alimentos, agregam valor. Queremos levar capacitação para essas famílias, para que as mulheres possam desenvolver seus próprios negócios. Tenho visto algumas iniciando isso por conta própria, sem apoio do poder público, e tem dado certo. Podemos ampliar bastante o empreendedorismo feminino nas propriedades.
E quais são suas propostas para o comércio?
O comércio local caminha com as próprias pernas, sem incentivos. Temos bons negócios aqui, principalmente nas áreas de gastronomia e choperia. Algo que já acontece há 14 anos nos estados do Sul e chegou recentemente a Domingos Martins.
Temos um grande potencial a ser ampliado, mas o município oferece pouco apoio. Hoje, na Rua de Lazer, na sede, há cinco pontos disponíveis para aluguel. Quando o município não investe no turismo, deixa de investir no comércio local. Precisamos, urgentemente, atrair pessoas para visitarem Domingos Martins, mas, além de visitarem, fazerem compras.
Precisamos oferecer entretenimento. A gastronomia é boa, a choperia é uma realidade, mas o que fazer além disso? Se conseguimos manter o turista aqui de sexta a domingo, ele vai gastar mais no nosso comércio.
“Precisamos, urgentemente, atrair pessoas para visitarem Domingos Martins, mas, além de visitarem, fazerem compras”
O que o senhor faria para fortalecer o turismo?
O comércio da sede depende muito do turismo. É uma realidade. Na minha opinião, o nosso calendário turístico está ultrapassado. Precisamos rever os principais eventos. Temos a Sommerfest, o Carnaval, o Festival de Inverno e o Brilho de Natal. Fora isso, não há nada. Somos um município turístico, então devemos promover turismo durante todo o ano.
Há várias ações que podemos desenvolver para atrair pessoas à sede do município. A inovação do calendário turístico será fundamental. O município trabalha com a alta temporada, mas não se preocupa com a baixa temporada.
Este ano, por exemplo, tivemos menos frio na alta temporada. Isso é algo com que o município precisa se preocupar, pois as mudanças climáticas também afetam o turismo de Domingos Martins.
“Vamos resgatar e trazer de volta a capela mortuária na sede do município”
O senhor gostaria de apresentar mais alguma proposta?
Sim. Na minha gestão, haverá banheiros públicos em todas as comunidades. As pessoas têm solicitado muito, e isso é uma necessidade. Hoje, quem vai às comunidades para prestar algum serviço não encontra banheiro público. Entendemos essa necessidade e temos toda a intenção de levar banheiros públicos para as comunidades. Outra proposta é o retorno da capela mortuária. A capela mortuária era um espaço muito bem organizado pelas voluntárias martinenses, mas o município perdeu esse local. Vamos resgatar e trazer de volta a capela mortuária na sede do município.