Dados enviados pelo público geram registros inéditos de anfíbio exclusivo da Mata Atlântica

Publicado em 24/10/2024 às 16:13

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Gravações e fotografias enviadas por cidadãos cientistas permitiram mapear novas ocorrências do sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii), um anfíbio exclusivo da Mata Atlântica, classificado como Quase Ameaçado (NT) de extinção pela IUCN. Com essas novas localizações, especialistas coletaram pela primeira vez material genético e gravações do repertório vocal dessa espécie pouco estudada. O resultado desse trabalho foi publicado no periódico internacional PeerJ, com a participação de pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Federal do ABC (UFABC).

O estudo apresenta, de forma inédita, uma comprovação de identidade e relações evolutivas baseadas em DNA, além de detalhar o repertório vocal desse sapinho e fornecer informações atualizadas sobre seu estado de conservação. “Este trabalho é um exemplo prático de como o envolvimento da sociedade em projetos de pesquisa, através da Ciência Cidadã, pode ampliar o conhecimento científico e contribuir para a conservação das espécies”, afirma João Victor A. Lacerda, pesquisador do INMA e um dos autores do artigo.

Em 2020, pesquisadores do INMA, sediado em Santa Teresa, Espírito Santo, criaram o projeto “Cantoria de Quintal”, que incentiva o público a registrar espécies de anfíbios. Utilizando o WhatsApp, participantes enviam gravações de sons ou fotos, que são analisadas por especialistas. Em menos de quatro anos, o projeto recebeu mais de 900 arquivos de 160 cidadãos cientistas, registrando cerca de 40 espécies, incluindo algumas ameaçadas, raras ou pouco conhecidas.

Entre os registros, destacaram-se os do sapinho-de-chifre-paviotii, uma espécie pouco estudada e classificada como Quase Ameaçada. Foram enviados 42 registros por 10 cidadãos cientistas da região de Santa Teresa/ES, permitindo o mapeamento preciso da espécie. Com base nessas ocorrências, os especialistas conduziram pesquisas de campo para coletar gravações vocais e amostras genéticas, que confirmaram se tratar de uma espécie única, relacionada a outras três do Brasil.

Os anfíbios estão entre os animais mais ameaçados de extinção no planeta, com 40% das espécies em risco de desaparecer. “Projetos de Ciência Cidadã têm contribuído significativamente para a geração de dados sobre anfíbios em todo o mundo”, ressalta Natalia Pirani Ghilardi-Lopes, professora da UFABC e coautora do estudo.

O projeto “Cantoria de Quintal” é pioneiro no Brasil ao trabalhar com gravações sonoras enviadas pelo público. “Esperamos que este estudo inspire o surgimento de iniciativas semelhantes, especialmente no Brasil, o país mais diverso em espécies de anfíbios do mundo!”, diz João Victor, coordenador do projeto.

O sapinho-de-chifre-paviotii, classificado como Quase Ameaçado, não é tão raro quanto se pensava, sendo encontrado até em áreas urbanas. A expectativa é que, em avaliações futuras, sua classificação seja rebaixada para Menos Preocupante (LC). No entanto, a busca por populações desconhecidas e o monitoramento contínuo são recomendados. A descrição do repertório vocal e da identidade genética da espécie facilitará futuros registros e estratégias de conservação.

A participação pública no estudo foi limitada ao envio de dados de ocorrência, mas o envolvimento em projetos de Ciência Cidadã pode ser mais abrangente, incluindo a proposição de perguntas de pesquisa, coleta e análise de dados, e divulgação dos resultados. O “Cantoria de Quintal” busca aumentar esse engajamento, colaborando com escolas e visitantes de Unidades de Conservação.

“É recompensador ver o crescente envolvimento da sociedade com a ciência e a conservação, especialmente de anfíbios, que muitas vezes enfrentam preconceitos. Além de gerar dados valiosos, o projeto visa aproximar o público do método científico, mudando a forma como as pessoas entendem e valorizam a ciência”, conclui João Victor.

Fonte: INMA

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