Arte, Crônicas e Poesia
Crônica: Quais suas prioridades?
Publicado em 17/04/2024 às 15:19
O mundo tem muitos sons, inúmeras vozes clamam por atenção. Difícil distinguir o real do imaginário, obviamente, de confusão em confusão vamos adiante na vida. Por mais que não saiba onde ir, algum destino sempre tem…
A vida moderna exige que estejamos em constante conexão e informação, existe um valor nisso e quem não está é descartado assim como antigamente fazíamos com o jornal do dia anterior. Recentemente estive no interior do Estado, na cidade que passei minha infância, nesse lugar foi nítido essa ruptura. As memórias de diálogos e piadas trocadas por conversas permeadas por aparelhos celulares, nesse anteparo diziam para seus seguidores que estavam com saudades de mim. Eles não perceberam a contradição da fala e da ação.
A prioridade passou a ser a relação com o seguidor, mas o interlocutor que está diante dos seus olhos é mero espectador de uma realidade totalmente distinta. Diálogo com muitos pais que reclamam que os filhos se fecharam em uma redoma e por seu turno os filhos no mundo virtual falam que ninguém os compreende e que sofrem pela falta de interação com seus pares. No tangente aos relacionamentos afetivos, a contradição tem uma dose de dissimulação ainda maior, a publicidade excessiva de sorrisos parece ser uma cortina de fumaça, como se acreditasse que uma mentira postada mil vezes fosse virar verdade.
Obviamente que são muitas as razões de quem o faz e porque o faz, indubitavelmente a principal está no fato de ninguém ser visto como um fracassado, um perdedor, isso em qualquer área da vida, seja profissional ou pessoal.Temendo ser visto assim, a mentira é o caminho e as redes sociais é sua ferramenta mais usual.
Ouvia muito do meu avô que em dias de sol ninguém procurava vendedor de guarda-chuva e ao cair da tempestade encontravatodos desprevenidos, alertava que calmaria trazia consigo a ausência de previdência. De forma muito objetiva ensinou algo que hodiernamente é pouco percebido. O automatismo diário em que vivemos é pernicioso,profundamente ilusório, cremos que estaremos amanhã fazendo o mesmo que hoje, seguros e protegidos na nossa bolha egoística, ávidos por prazer e gozo.
Infelizmente a consciência vem nas tempestades, momentos esses que não temos qualquer tipo de controle, em cima do leito hospitalar, prostrado, irrelevante os compromissos do amanhã,desimportante o saldo bancário… Sentir a vida esvaindo retira imediatamente a venda dos olhos.
Diante do inexorável, a vida passa diante dos seus olhos como um todo, mas não como em um filme e sim como fotos, em que cada foto vamos tendo mais consciência do que tínhamos como prioridade e nossos atos para alcançar esses desejos. Como se cada foto fosse uma peça do quebra-cabeça que forma a imagem do que fomos na vida.
Por fim, no fim, não há mentiras que possam esconder quem de fato somos e o que fomos.