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Arte, Crônicas e Poesia

Crônica: Fúria e turbilhão

Publicado em 12/06/2024 às 10:25

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Tudo vai passando muito rápido. Assim como o viajante que vê pelo vidro da janela a paisagem disforme na estrada, vejo o transcorrer dos dias. Todos falam que estão sem tempo, pedem desculpas pela falta de tempo, são ausentes pela falta de tempo.

O tétrico em tudo isso é que não necessariamente é por desdém ou por falta de carinho, simplesmente estamos todos sufocados por nossas rotinas de vida, cada vez mais compromissos, cada vez sendo o que querem de você e não você. O que nos torna insensíveis a tudo em volta, em modo piloto automático, em uma rota desconhecida.

A viagem ocorre até que nos deparamos com algum obstáculo e batemos muito forte neles, aos cacos, aturdidos, desesperados por estar vivendo essa batida que geralmente ocorre às 3 da manhã com telefone tocando e informando que um ente querido morreu. Nesse instante a memória busca a última conversa, o último olhar e quando foi o último encontro, por mais das vezes a mais tempo que gostaria, mas eram tantos compromissos, sempre cansados.

Após reflexão rasa e os protocolos fúnebres, a nossa capacidade de acostumar a tudo e se desligar é impressionante. Não tarda muito para a vida voltar ao piloto automático e nos tornarmos novamente pessoas sem tempo e extremamente atarefadas, e porquê? A cada um o seu guia…

Certamente, a sobrevivência exige por si só muito esforço, o mundo não é bom, as pessoas não são boas, é preciso trabalhar e ter o necessário para se prover. Desde a escola ensinam isso, estude para ter. Na seara familiar, a maioria dos pais consideram os filhos investimentos e devem gerar retorno financeiro, na vida profissional os empregadores entendem os funcionários como números que precisam gerar lucro. A vida inteira e em todas as áreas da vida a ordem é bastante clara e uníssona.

É inexorável que a provisão seja indispensável, todavia poucos pais ensinam algo de muito valor e que quando adultos faz muita falta: sabedoria emocional.E anos de negligência gerou tudo que vemos hoje: uma fragilidade exacerbada e total descontrole. Fenômeno complexo e intrigante, pessoas insensíveis e autômatas em convívio com pessoas que vivem arduamente e visceralmente todas suas emoções, o que leva a grandes distúrbios.

Por fim, recordo de ouvir de um caminhoneiro uma vez: não importa o caminho que escolha, sempre haverá problemas na viagem, mas nunca pode faltar serenidade e equilíbrio. A observação da prática é singela e muito óbvia, mas talvez esteja aí um segredo que esquecemos todos os dias: viver o simples e aproveitar a viagem.

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