Crianças aprendem com cooperativa como preservar o meio ambiente
Publicado em 10/11/2017 às 14:24
Nos últimos anos, o Espírito Santo tem passado por sérios problemas devido à falta de água. Alguns rios estão com a vazão abaixo do normal, outros estão secando e terrenos estão deixando de produzir. Para tentar minimizar os impactos negativos dessa grave crise hídrica, muitas ações têm sido feitas em várias partes do Estado.
E sensibilizar crianças para contribuir com essa luta contra o desmatamento, assoreamento de rios e tantos outros problemas que prejudicam o meio ambiente é uma tarefa importante para que as gerações futuras tenham menos problemas causados pela falta de água.
Em Afonso Cláudio, um projeto que uniu o Núcleo Feminino da Cooperativa de Transportes da Região Sudoeste Serrana (Cooptac) e a Escola Municipal Fortaleza, na localidade de Fortaleza, envolveu mais de 120 estudantes, da educação infantil à 8ª série, com o objetivo principal de plantar árvores em uma região onde antigamente existia uma farta nascente, mas hoje o que se vê é uma região degradada e seca.
Mulheres do Núcleo Feminino da Cooptac, professoras e alunos plantaram 150 árvores para recuperar três nascentes
A presidente do Núcleo Feminino da Cooptac, Renata Eller Lima Dela Costa, conta como surgiu essa iniciativa. “A ideia de reflorestar áreas degradadas surgiu em um workshop feminino oferecido pela OCB/Sescoop no ano de 2015. Nesse workshop, tínhamos que elaborar um projeto, e como a escassez de água está tão grande, optamos por uma ação que envolvia o meio ambiente. Daí surgiu o ‘Coopere com o Meio Ambiente e Plante uma Árvore”, explicou Renata.
O projeto foi posto em prática em 2016, com o plantio de cerca de 100 mudas de árvores no sítio de uma cooperada. “Esse ano, pensamos em fazer diferente, e como temos o envolvimento com as escolas, por meio do transporte escolar, por que não inserir as crianças nesse processo? Foi quando conversamos com a diretora da Escola Municipal Fortaleza, que abraçou a causa na mesma hora”, disse Renata.
E o Núcleo Feminino foi ainda mais longe: conseguiu unir também a Escola Municipal Agrícola. “Como na escola agrícola há a produção de mudas de árvores, e como eles estavam precisando comprar galinhas para um projeto, a Cooptac juntou o dinheiro das mulheres do Núcleo, que seria para a compra de árvores, e compramos os pintinhos para a escola agrícola, que nos cedeu as mudas de árvores”, relatou a presidente do Núcleo Feminino.
A área escolhida para o plantio de 150 árvores fica ao redor da escola, localizada em um vale, onde antigamente havia fartura de água. Atualmente, o que se vê são pastos e áreas secas, degradadas e sem floresta. As primeiras mudas de árvores, de diversas espécies, foram plantadas pelos alunos ao redor de uma nascente onde hoje os canos estão secos.
COOPERATIVISMO – Antes das crianças partirem para o plantio, houve um momento de conversa entre os parceiros do projeto. O presidente da Cooptac, Valteci Wil, explicou aos alunos o que é o sistema cooperativista. “Cooperativa vem de cooperar. Quando uma pessoa tem um objetivo e quer fazer uma coisa, muitas vezes ele sozinho não consegue. Então, ele se junta com outras pessoas para unir forças, assim é na cooperativa”, disse.
Valteci comentou que, atualmente, a Cooptac possui dois projetos em destaque. Um é o comandado pelo Núcleo Feminino, cujo objetivo é ampliar o plantio de árvores em áreas degradadas e recuperar nascentes. Outro projeto é o “Coopere e doe sangue”, que objetiva a doação de sangue. Ele comentou que frequentemente cooperados se juntam e doam sangue. Apenas em 2017, mais de 70 cooperados já doaram sangue.
O presidente também elogiou o projeto ambiental realizado em parceria com a escola. “Essa é uma ação muito importante do Núcleo Feminino da nossa cooperativa. Muitas mulheres deixam seus afazeres para doar um pouco do seu tempo a projetos como esse. O meio ambiente precisa da união de todos para que possamos mudar essa triste realidade de solos degradados e nascentes secando”, afirmou.
Objetivo é recuperar água da comunidade
Na comunidade de Fortaleza, em Afonso Cláudio, onde fica a escola que fez parte do projeto de plantio de árvores, antigamente existiam importantes nascentes, que abasteciam as residências da vila e também a escola. Atualmente, essas nascentes estão praticamente secas.
Além do plantio dessas primeiras árvores ao redor de uma dessas nascentes, até o final do ano mais árvores serão plantadas em outras duas nascentes, que também deixaram de fornecer água.
O plantio de árvores é uma das ações em prol da recuperação de nascentes
A diretora da Escola Municipal Fortaleza, Maria Aparecida Martins Barros, espera que o projeto seja continuado. “Há alguns anos visitamos com os alunos uma das principais nascentes da vila, que fornecia água para a escola e para as residências, mas infelizmente não foi dado prosseguimento à conscientização dos proprietários. Dessa vez, quando a Renata me apresentou o projeto, logo me interessei. Pelo menos nesses dois anos em que estarei à frente da direção escolar vamos colocar em prática”, afirmou.
Entretanto, a diretora lembra que é preciso conscientizar também os pais dos alunos. “Temos que ir nas famílias, conversar e tentar mostrar aos pais a importância da preservação. Muitas vezes, os pais não ouvem o que os filhos falam. Já estamos envolvendo os pais, e queremos fazer muito mais. Nosso sonho é ver novamente essas nascentes fornecendo água”, reafirmou.
O local onde foram plantadas as árvores fica na propriedade da professora Maria José Holtz Roriz, que lembra com saudade do tempo em que a nascente abastecia três casas. Atualmente, a água não é suficiente para o fornecimento nem para uma residência.
“Eu espero que a nascente volte como era antes. Antigamente, a região era cercada por matas, plantações de taioba e banana. Hoje é só pasto e praticamente não há outra vegetação. Estamos reflorestando para tentar resgatar a água. Antigamente a água dessa nascente enchia uma caixa d’água de 500 litros em 20 minutos, hoje é preciso de dois dias”, lamentou a professora.
Núcleo Feminino da Cooptac é o único do Brasil no ramo de transportes
O Núcleo Feminino da Cooptac é o único do Brasil no segmento de transportes. A informação é do analista de monitoramento da OCB/ES, David Duarte Ribeiro. Ele destacou que ações como a desenvolvida em Afonso Cláudio demonstram a importância da união das mulheres para a sociedade.
A analista de Desenvolvimento Humano da OCB/ES, Josiane Correia Mariano, também reforçou a participação feminina na comunidade local e na cooperativa. “De acordo com os valores e princípios cooperativistas, por meio de ações organizadas como esta, buscamos a sustentabilidade da atividade econômica da família e da cooperativa, promovendo ainda a integração da família cooperada na cooperativa”, destacou.
Sobre o plantio de árvores, Josiane Mariano enfatizou a importância da atividade. “A ação é muito importante por dois motivos: primeiro pela seca que vários municípios enfrentam, já que a conscientização sobre reflorestamento e a preservação do meio ambiente são muito importantes. A segunda pelo envolvimento das crianças, pois plantando a semente nos pequenos teremos adultos que irão preservar o meio ambiente e irão cuidar para que não nos falte água”, afirmou.
Ela ainda fez questão de destacar o envolvimento das mulheres. “Elas são os pilares da família e são capazes de envolver os maridos e os filhos em atividades que a cooperativa pratica. E neste caso em específico, o negócio destas mulheres é o transporte escolar. Elas estão ligadas ao destas crianças, uma ação muito positiva para nós do sistema OCB/ES”, concluiu.
Escola agrícola preserva mais de 60 nascentes
A professora Valquíria Karla Carnielli Tonoli, que é diretora da Escola Municipal Agrícola de Afonso Cláudio, que fica na localidade de Empoçado, também esteve presente na Escola Fortaleza e falou do sucesso de um projeto iniciado no ano de 2003 na escola em que ela é diretora.
Nessa época, muitas nascentes das propriedades rurais de Empoçado estavam secando. No ano de 2004, segundo a diretora, o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) lançou a campanha de redação “O Cooperativismo e a Conservação de Água como Fonte de Vida”. A escola venceu o programa estadual e foi contemplada com a produção de uma revista, feita com histórias dos alunos.
“Nessa revista, os alunos contaram as dificuldades que os produtores passam sem a água em sua propriedade. Infelizmente, estamos vivendo aquelas histórias atualmente”, lamentou a diretora. A partir dessa campanha, surgiu na escola o projeto “Adote uma Nascente”, que tem recuperado dezenas de nascentes desde então.
“Na época, esse concurso foi tão incentivador que os alunos questionaram se não poderíamos fazer mais, além da edição da revista. Eles queriam fazer algo de prático, contribuir de fato com a preservação. Foi aí que surgiram os caçadores de nascentes”, contou a diretora.
Os professores e alunos arregaçaram as mangas e começaram a identificar onde existiam nascentes nas propriedades da localidade de Empoçado. A ideia seria recuperar e proteger essas nascentes, com a proteção por meio de cercamento.
“Se não tivermos essa iniciativa, talvez daqui a algum tempo não tenhamos água nem para beber. E esse projeto envolve os alunos todos os anos desde 2005. Fizemos o cadastro de 62 nascentes. A partir daí, avaliamos quais teriam que ter uma ação com plantio de árvores e quais que apenas cercando o tempo iria se encarregar de recuperá-las. O primeiro passo foi cercar todas. Depois plantamos árvores em 33”, contou Valquíria.
NASCENTES RESURGIRAM – Segundo a diretora da escola agrícola, alguns proprietários abraçaram a causa e as nascentes se regeneraram e a água voltou. “Há locais que atualmente existem grandes árvores. Algumas propriedades têm água suficiente para atender até aos vizinhos. Isso nos deixa muito feliz, pois vemos que conseguimos fazer nossa parte”, afirmou.
A diretora ainda enfatizou a importância de os alunos já se sensibilizarem e recuperarem as nascentes nas propriedades de suas famílias. Uma das alunas que fazem parte do projeto é Camila Zorzal Mageski, de 14 anos. Ela contou que o projeto já existia quando começou a estudar na escola, mas ela logo se interessou.
“Comecei a ajudar a mapear as nascentes na nossa região. Uma vez por semana, ficávamos à tarde na escola para essa ação. Nós mesmos cercamos as nascentes e plantamos as árvores. Na casa dos meus pais, na localidade de Arrependido, já cercamos três nascentes e duas delas já se recuperaram totalmente”, contou a jovem.
Outro aluno que conta, entusiasmado, sobre o projeto é Lucas Pianissolla Temoteo, 15 anos. “Uma das primeiras nascentes a serem recuperadas pelo projeto foi no terreno da minha tia, e hoje parte dessa nascente também é da minha família. Queremos que esse projeto não pare. É preciso ter força de vontade e saber que se não tiver água, não tem como produzir nada”, garante.