POMERANA

Coluna Pomerana

Costumes da Páscoa na Pomerânia

Publicado em 17/04/2020 às 16:44

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O intenso trabalho exigido dos primeiros assentados da imigração pomerana no Brasil (Agudo/RS a partir de 1857), fez com que muitos costumes antigos, rapidamente começassem a cair no esquecimento. A segunda geração de pomeranos brasileiros muito pouco conhecia da vida dos seus antepassados.

Costumes da Páscoa na PomerâniaHoje, graças aos meios de comunicação e aos próprios vínculos que aos pouco vão sendo restabelecidos com as terras dos nossos ancestrais, os acontecimentos por eles vivenciados estão sendo conhecidos e passam a ser preservados no imaginário da população pomerana. Assim, mesmo que hoje estejamos levando uma vida relativamente isolada, em função da pandemia do coronavírus, alguns belos costumes vinculados à páscoa da antiga Pomerânia estão se fazendo cada vez mais presentes. Muitos deles já passaram a fazer parte do dia-a-dia da população, como se constituíssem uma grande colcha de retalhos da história, na qual, de fragmento em fragmento, estivesse sendo remontada toda a antiga páscoa pomerana.

Um desses costumes diz respeito à chamada água da páscoa (Oosterwåter) que tinha que ser colhida pelas moças solteiras. Apesar desse costume ser originário da cidade alemã de Hannover, essa prática se estendeu por toda Pomerânia, tornando-se muito popular em meio a sua população. Aquelas jovens que quisessem obter sua água da páscoa, teriam que se manter em silêncio, a partir da meia-noite de sábado. No domingo pela manhã, antes do nascer do sol, a água tinha que ser colhida. Aquela que tivesse sido colhida por quem tivesse quebrado o silêncio, perderia o poder de cura, pois era considerada um ” Slårewåter ” (água da Páscoa que perdeu encanto).

 Costumes da Páscoa na Pomerânia 2Da mesma forma, os galhos de bétula tinham que ser recolhidos bem antes da páscoa e deixados em um local mais aquecido, para que pudessem folhear (brotar). Já no domingo da páscoa, alguém da família, com um desses galhinhos, agora com folhas novas, precisava ir até o quarto de dormir do último dorminhoco da casa e cutucá-lo até que acordasse. (Stiepen – em Santa Catarina ou aspergir a água através da janela – em Espirito Santo).

A história do lobo da páscoa nos leva ao ano de 1451. Segundo o folclorista Karl Kaiser, da cidade pomerana de Greifswald. A guilda (sindicato) dos padeiros dessa cidade recebeu como desafio, a elaboração de um pão especial com formato de um lobo com olhos feitos com passas de uva. O costume perdurou por anos, tanto que, em 1558, na cidade de Stralsund, os pães, para as comemorações do Ano Novo, foram chamados de pães de lobo. Eram preparados na quinta-feira e no sábado antes da Páscoa e depois consumidos em grande quantidade pela população desses lugares. Será preciso lembrar que, pelo calendário gregoriano (1582), o ano iniciava com a comemoração da páscoa.

Os biscoitos em forma de lobo são uma referência às alcateias de lobos, que nos tempos antigos, percorriam as extensas planícies da Pomerânia.

Na Pomerânia, depois de longos invernos e de uma vida difícil, a páscoa sempre costumava ser muito aguardada. A semana que iniciava com o domingo de ramos e era tida como uma semana de paz, assim como uma manhã de páscoa ensolarada era um prenúncio de dias bons por um longo tempo.

Costumes da Páscoa na Pomerânia 3Também havia uma serie de crendices, envolvendo as próprias festividades da vida religiosa da população. Assim, por exemplo, nos dias de Natal, Páscoa e Pentecostes, tudo precisava ser feito em silêncio. Não se podia pisar com força no chão, cortar madeira ou fazer tarefas que gerassem fortes ruídos. Nas próprias igrejas das cidades, como na igreja de São Jacó, em Stettin (Szczecin) o órgão permanecia em silêncio. Uma simpatia, para não ter dor de dente, ainda hoje, muito praticada no Rio Grande do Sul, recomenda que, na sexta-feira santa, se deve cortar as unhas de forma cruzada, antes do sol nascer, isto é, mão esquerda-pé direito, mão direita-pé esquerdo.

É possível que muitos costumes dos antigos pomeranos tivessem origem em uma realidade muito diferente da que hoje conhecemos. A quase totalidade da população era constituída de servos (Leibeichene) e eram analfabetos e extremamente pobres. Era uma verdadeira massa de manobra que sempre podia ser manipulada pelos senhores feudais daquela época (nobres e grandes proprietários de terras). A alimentação muito farta nas mesas da nobreza (assados, arenques defumados, amêndoas, muitas frutas, doces, vinhos, etc), contrastava com a sopa de batata com ervas frescas, pães de aveia e bolos com passas (semelhança com a alimentação dos nossos pomeranos de hoje).

Costumes da Páscoa na Pomerânia 4Na sexta-feira era proibido assobiar, cantar e o trabalho braçal era restrito ao essencial. Já o sábado era dedicado à arrumação da casa, ao preparo do pão e dos ovos tingidos com ervas do campo.

Na manhã da Páscoa uma maçã devia ser ingerida com o estômago vazio (eram pobres e a alimentação era frugal), para se ficar protegido durante todo o ano, contra as doenças e a febre. Todos participavam dos ofícios religiosos nas igrejas, para depois retornarem para as suas casas, para um almoço em família. O secular costume da visita à casa dos avós, na tarde do domingo de páscoa, de certa forma ainda é encontrado no interior de Itarana, em Vila Pavão e no Alto Jatibocas, no Estado do Espírito Santo. Ainda hoje, as muitas flores espalhadas pelo chão do caminho para a casa dos avós, simbolizam a vinda de Cristo e representam uma saudação calorosa aos visitantes dessa casa.

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