Coluna Pomerana
Construindo uma herança comum para os pomeranos brasileiros
Publicado em 26/01/2021 às 12:26
Quem se dedica ao estudo dos pomeranos brasileiros, certamente vai perguntar, qual seria a melhor maneira de interligar as diferentes comunidades desse grupo étnico, que vivem no Brasil. As distâncias entre as principais regiões de assentamento nos estados de Rondônia, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são muito grandes. Várias tentativas já foram feitas para melhorar a troca de informações entre esses grupos.
No passado, tivemos o jornal impresso, “Pommerblad”, o qual, em suas diferentes edições ao longo de dez anos, contribuiu muito para o Fig 2 – Capa do livro: O Povo Pomerano. despertar de uma “consciência“ pomerana. Nos últimos anos, também houve a adesão a uma iniciativa governamental na qual estava sendo proposta uma união das chamadas minorias étnicas brasileiras, entre as squais os pemeranos estavam sendo incluídos. Este plano pretendia abrir novos caminhos para o desenvolvimento, especialmente, no que se refere ao trabalho no campo e nas áreas de educação e saúde.
Há décadas, os descendentes desses imigrantes sabem que muito pouco podem esperar do governo. Já há 150 anos, os filhos dos primeiros colonos se viam sem escolas e sem assistência religiosa. Eles tiveram que encontrar seus próprios caminhos e criar escolas de campo (Kolonieschaul), onde alguns agricultores trabalhavam na metade do dia em suas terras, para que na outra metade do dia pudessem contribuir para a alfabetização das crianças dos assentados.
Algo não muito diferente aconteceu com a assistência religiosa, pois, aos imigrantes, sequer era permitido construírem suas próprias igrejas. Afinal, templos deveriam existier apenas para a população católica. E, se os construissem, não poderiam ter características que os identificassem como igreja, como por exemplo, a presença de torres ou sinos, “porque afinal, a religião oficial do Império Brasileiro era a católica romana”. Além disso, até 1889, para que os filhos de imigrantes não corressem o risco de serem considerados ilegítimos, os casamentos precisavam ser abençoados pelos padres católicos.
Como os imigrantes da Pomerânia eram principalmente luteranos ou calvinistas e o Estado não tinha interesse em contratar e pagar pastores, também na assistência religiosa tiveram que encontrar uma solução. Foi assim que se organizaram como “comunidades livres”. Dessa forma, em muitos assentamentos no sul do Brasil, como em 1855, na vila de Belém, no Espírito Santo, compatriotas com um pouco mais de conhecimento religioso, foram chamados como pastores para essas congregações.
Já mais tarde, na chamada década de analfabetismo, que durou de 1935 a 1945, na qual as escolas comunitárias dos imigrantes foram fechadas e não substituídas por escolas públicas, nossos pomeranos continuaram na sua luta por uma melhor qualidade de vida.
Apenas após 1945, atendendo ao seu grande desejo de conseguirem uma melhor educação e uma melhoria da assistência médica, em parte, esse objetivo começou a ser alcançado, quando os primeiros jovens começaram a chegar nas escolas de formação de professores (Normalistas) e a partir de 1955, os primeiros filhos de pomeranos chegaram nas universidades. (Para citar apenas alguns: Reinoldo Seibel – 1955 – pastor, Floriano Schwarz – 1955 – médico, Bruno Seibel – 1958 – pastor, Heinrich Seick – 1958 – pastor, Ivan Seibel – 1960 – médico).
Hoje, com mais de 400 mil descendentes dos pomeranos espalhados por quase dez estados brasileiros, é inegável que a integração dessa população passou a trazer benefícios para esse grupo étnico, embora a aculturação também tenha causado alguns prejuízos. Em muitos lugares, valores inerentes ao povo pomerano foram esquecidos. Refiro-me à própria cultura pomerânia, às suas ricas tradições, à sua música, às suas danças folclóricas e, sobretudo, à sua estreita vinculação ao trabalho no campo, à natureza de seu desenvolvimento intelectual e seu crescimento pessoal.
Embora atualmente não exista uma associação nacional desses pomeranos que vivem nos diferentes estados, uma melhor documentação de seus valores culturais poderia ajudar na preservação da memória de seus antepassados. Já houve algumas experiências interessantes, como o próprio Encontro Nacional dos Pomeranos, Pomer BR. Esse tipo de evento, como geradores de conhecimento, mostrou resultados relativos. Pode-se dizer, que, na sua atual forma já está um tanto desgastada. A publicação de diferentes livros ou textos com o objetivo de estruturar uma representação dos pomeranos brasileiros também não atingiu seu objetivo. Infelizmente, interesses pessoais e radicalizações políticas constribuíram para que a ideia da criação de uma associação nacional pomerana ficasse deturpada.
Os pomeranos não precisam de “cotas nas universidades”, pois a história das conquistas desse grupo étnico, ao longo desses últimos cento e cinquenta anos tem demonstrado claramente seu perfil de luta, seu compromisso com o trabalho, à família e sua estima ao Brasil. Eles sabem que nunca receberam nada do governo e que sempre tiveram que investir muito no seu próprio trabalho para conseguirem seguir em frente. Hoje, os descendentes desses imigrantes pomeranos que chegaram no Brasil em meados do século XIX sentem muito orgulho em serem chamados de pomeranos brasileiros.
O que hoje eles precisam, é de um melhor acesso aos meios de comunicação, seja pela qualificação dos conteúdos divulgados nas redes sociais parceiras, pelo enriquecimento dos museus pomeranos e por meio de outras formas de divulgação de temas pertinentes, como a publicação de livros e periódicos e pelo acesso a jornais gratuitos como, por exemplo, a “Folha Pomerana”.