Braúna a árvore que foi base das casas dos primeiros imigrantes de Venda Nova
Publicado em 29/04/2018 às 12:19
Braúna, guaraúna, muiraúna, árvore-da-chuva, perovaúna. Os nomes dessa árvore nativa da Mata Atlântica são muitos, assim como as benesses que ela trouxe para os primeiros imigrantes que chegaram à Região Serrana do Espírito Santo. Se hoje essas árvores são preservadas, e suas flores amarelas e copas frondosas encantam quem para um pouco para apreciar, no início do século passado foi dessa árvore que surgiram as primeiras fundações das casas dos imigrantes italianos. Não é demais falar que a madeira da braúna, com sua dureza, foi a base de muitos lares e famílias de Venda Nova.
Mas, se essa madeira tão nobre ajudou os imigrantes a darem uma fundação sólida às suas casas, o amor pela natureza levou-os a deixar várias delas intactas pelas matas. Somente em Venda Nova, numa rápida contagem, há umas cem braúnas pelas matas. Todas centenárias.
Basta um olhar cuidadoso nas matas para ver o amarelo das braúnas
Ângelo Falqueto, ou “seu” Angelim, tem muita coisa para contar. Segundo ele, a madeira da braúna era usada como esteio das casas.
“A casa do meu avô – e olha que ela tem mais de cem anos – tem os esteios feitos de braúna. Ela tem dois andares e ainda está de pé, depois de todo esse tempo. Nossos avós usavam essa madeira pra fazer a base da casa, porque ela aguenta muito bem a umidade, não apodrece. Os paiois de antigamente, chiqueiros, galinheiros, cercas e toda construção que tinha que ser feita diretamente no chão era com essa árvore”, conta.
Não é para menos. A braúna é conhecida com uma das mais duras e incorruptíveis madeiras de lei brasileiras. Acastanhada, ela é quase negra nos espécimes mais velhos. “Lascar” uma peça dessas não era tarefa fácil. Serrotes e martelos de madeiras de cinco quilos eram usados para dar forma à madeira retirada das árvores. “Às vezes era uma lida de um dia inteiro para derrubar só uma árvore. Haja força”, conta seu Angelim.
Uso consciente da madeira, mesmo quando não se falava ainda em preservação ambiental, deixou várias dessas árvores intactas em meio à Mata Atlântica
E o uso consciente dessa madeira tão nobre nos deixou relíquias pelas matas afora. Uma delas, conta seu Angelim, tem ao menos algumas centenas de anos. A planta, que fica em Lavrinhas, tem mais de cinco metros de diâmetro e encanta a todos com sua florada anual. “Acho muito difícil calcular a idade dessas árvores. Mas vou dar um exemplo. Fiz várias mudas há uns vinte anos e, hoje, elas estão com o tronco da grossura de um copo. Imagina uma dessas que tem cinco, seis metros de diâmetro. Certamente elas têm centenas de anos”, avalia.
Mas seu Angelim é enfático em falar do amor que os nonnos e nonnas tinham pela natureza. “Mesmo sendo uma madeira muito apreciada pelos antigos, eles tinham muito respeito por essas árvores. Não cortavam todas não. Tanto que hoje a gente pode ver árvores nas nossas matas. Isso porque eles sabiam usar o que a natureza dava e também preservar parte dessas riquezas”.