Brasil pode transformar sobretaxa dos EUA em oportunidade de expansão comercial
Publicado em 03/04/2025 às 08:58

Divulgação/Porto de Santo
A imposição de uma sobretaxa de 10% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pode representar uma oportunidade para o Brasil expandir sua participação no mercado internacional, desde que o país saiba negociar com outros parceiros comerciais. Essa é a avaliação do economista e professor da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Adalmir Marquetti.
Em entrevista ao jornal Repórter Brasil, da TV Brasil, Marquetti enfatizou a importância da aprovação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
“O processo de negociação precisa ser considerado com atenção. É necessário pensar em medidas de retaliação para alguns produtos, mas também em estratégias para fortalecer relações comerciais com outros países. A viagem do presidente Lula ao Japão e ao Vietnã, por exemplo, é essencial para buscar novos parceiros e intensificar laços com economias emergentes”, destacou o professor.
Segundo Marquetti, a parceria Mercosul–UE é uma ferramenta estratégica para mitigar os impactos da decisão do governo de Donald Trump. Além de afetar a balança comercial de bens, o acordo pode beneficiar a balança de serviços, na qual o Brasil tem um déficit significativo, consumindo cerca de 40% do superávit comercial.
“A sobretaxação imposta por Trump cria um espaço para novas negociações e parcerias comerciais. Esse é o momento ideal para implementar o acordo entre Mercosul e União Europeia, garantindo avanços tanto na balança de bens quanto na de serviços. O Brasil possui uma balança comercial favorável, mas ainda enfrenta desafios na balança de serviços, que é deficitária”, explicou Marquetti.
O economista ressaltou que a decisão dos Estados Unidos afeta apenas a importação de bens, não de serviços, uma área em que o país se destaca como um dos maiores exportadores globais, especialmente nos setores tecnológico e audiovisual.
Além disso, Marquetti pontuou que, como uma das maiores economias do mundo, o Brasil tem potencial para expandir sua presença no mercado global, especialmente diante de eventuais retaliações contra os EUA por parte de outras nações. Contudo, ele alertou que esse avanço deve ir além da exportação de produtos agrícolas e minerais, incluindo também bens de maior valor agregado.
“O Brasil pode aproveitar as brechas deixadas por países que reduzam suas compras dos EUA. A China, por exemplo, já aumentou a importação de produtos agrícolas brasileiros. Mas o desafio está em transformar essa crise comercial em uma oportunidade para diversificar nossa pauta de exportação, incluindo mais produtos industriais e de maior valor agregado”, concluiu o professor.
Lei da Reciprocidade Comercial
Após o anúncio das medidas por Trump, a Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quarta-feira (2), o Projeto de Lei 2.088/2023, que institui a Lei da Reciprocidade Comercial. A nova legislação autoriza o governo brasileiro a adotar medidas contra países e blocos que imponham barreiras aos produtos nacionais no mercado global. O texto segue agora para sanção presidencial.
Paralelamente, os ministérios das Relações Exteriores (Itamaraty) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) informaram que o governo brasileiro não descarta recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas impostas pelos EUA. No entanto, a prioridade no momento é buscar a reversão das medidas por meio da negociação.
Fonte: Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil*