Altas temperaturas aumentam riscos de doenças vasculares e circulatórias

Publicado em 13/02/2021 às 12:17

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A condição, somada às altas temperaturas, é fomentada pelo acúmulo de líquidos em espaços ao redor dos tecidos e órgãos.  “O inchaço, embora seja mais frequente no verão, é sempre um sinal de alerta em qualquer época, principalmente se há persistência após algumas horas de repouso, pois demostra uma sobrecarga no sistema circulatório”, destaca o Dr. Paulo Eduardo Bochio, cirurgião vascular da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

Ele explica que esta sobrecarga pode ser provocada por uma condição fisiológica, como a dilatação das veias destas áreas, e também pode ser um indício de trombose venosa profunda. “Sendo assim, inchaços persistentes necessitam de avaliação médica.” Segundo o especialista, as mulheres são as que mais sofrem com os problemas vasculares durante o verão. E esclarece que os hormônios femininos, principalmente o estrógeno, estão associados à piora dos sintomas de doenças vasculares, como peso, cansaço e inchaço. 

“Em alguns casos, o uso de medicamentos com estrógenos pode até causar ou agravar a própria doença, como em pessoas com predisposição genética ou fumantes, seja piorando os sintomas e aspecto do membro, ou mesmo levando à trombose venosa, principalmente em mulheres acima dos 35 anos”, explica. E frisa que, normalmente, a principal queixa das pacientes durante esta estação é sobre os inchaços nas pernas, um dos principais sintomas da insuficiência venosa crônica, que acomete um número significativo de pessoas da população geral e principalmente do sexo feminino. “Este problema, na maior parte das vezes, é benigno, quando tratado de maneira adequada.” 

Para pessoas que têm problemas vasculares prévios, como insuficiência venosa crônica (varizes), o médico pede atenção às altas temperaturas, assim como nas doenças arteriais para as baixas temperaturas. “As varizes dos membros inferiores são veias dilatadas e tortuosas, incapazes de conduzir adequadamente o sangue das pernas para o coração. No sistema superficial de veias, essa dificuldade de retorno se chama estase venosa, e facilita o aparecimento de edema e até flebites (inflamação aguda da veia)”, ressalta.

De acordo com o especialista, em casos mais graves, principalmente quando há acometimento do sistema venoso profundo, como no caso de pacientes que já tiveram trombose, podem aparecer úlceras varicosas ou novos episódios de trombose.

Trombose 

A pandemia de Covid-19 impôs à população muitas mudanças de comportamento e estilo de vida. 

“Essas mudanças fizeram com que muitos deixassem um pouco de lado os cuidados com a saúde, aumentando o risco, principalmente agora no verão, de ocorrência de doenças como a trombose”, relata o cirurgião vascular. 

A trombose é um problema de circulação, causado pela criação de um coágulo em locais em que não ocorreram qualquer tipo de sangramento. “Em condições normais, a formação do trombo (coágulo) é um mecanismo fisiológico do sistema circulatório que cessa qualquer tipo de sangramento, por exemplo no caso de um ferimento. Porém, com a trombose, esse trombo se forma dentro de um vaso, dificultando ou impedindo a circulação sanguínea na região ou em um órgão específico”, afirma o especialista. 

A trombose acontece em diferentes tipos de vasos sanguíneos, podendo se apresentar como:

Trombose venosa profunda: afeta principalmente as veias nos membros inferiores, geralmente na região das coxas e panturrilhas, podendo acometer outros vasos, como os abdominais. Sua principal e mais temida complicação é a embolia pulmonar, quando o trombo é levado pela corrente sanguínea e entope a circulação dos pulmões, causando grande risco à vida.

Trombose arterial: forma-se nas artérias, os sintomas principais são causados pela falta de suprimento sanguíneo adequado, ao órgão ou região acometida, por exemplo, no coração, angina ou infarto, no cérebro, um AVCI (acidente vascular cerebral isquêmico, causado pela) nas pernas: frialdade, arroxeamento e alteração da sensibilidade, com risco de perda do membro.

As doenças arteriais normalmente têm sua maior incidência no inverno e,  como principais fatores de risco, diabetes, hipertensão, tabagismo e colesterol elevado. A obesidade e o sedentarismo são fatores de risco tanto para a doença venosa como para a arterial.

Outra preocupação, apresentada pela SBACV, foi a identificação da doença em pacientes que tiveram Covid-19.

“A doença pode ser grave em pacientes que já tinham algum fator de risco prévio, como obesidade ou tabagismo. No entanto, estamos observando o aparecimento de trombose em pacientes previamente saudáveis. Ao que parece, o processo inflamatório extremo causado pela Covid- 19 está intimamente relacionado à trombose”, destaca o cirurgião vascular. Alguns dos fatores que, segundo a especialista, podem causar a trombose são:  período de gravidez, uso de anticoncepcionais e a permanência na mesma posição por longos períodos.

“Ficar muito tempo de pé ou sentado, durante o horário de trabalho ou em viagens, dificulta o retorno do sangue e líquidos ao coração, já que a musculatura e o próprio movimento em si têm um papel fundamental na circulação”, explica o Dr. Paulo, que dá algumas recomendações para as pessoas que passam muito tempo em pé ou sentadas, mesmo que não tenham insuficiência venosa: 

– Levantar-se pelo menos uma vez a cada hora;

– Caminhar por cerca de 5 minutos;

– Sentado ou em pé, fazer movimentos circulares com os pés;

– Elevar as pernas próximo ao nível do coração, algumas vezes ao dia;

– Utilizar meias elásticas, caso haja recomendação médica.

As dicas acima podem ajudar no bom funcionamento da circulação sanguínea e contribuem significativamente para a melhora dos sintomas e prevenção de complicações.

Cuidados

Segundo Lígia dos Santos, nutricionista da Rede, outros fatores que mais causam problemas vasculares durante o verão são a desidratação e a preexistência de doenças associadas à obesidade e ao sobrepeso, como o diabetes e a hipertensão.

“Esses são elementos que atrapalham a circulação e podem agravar quaisquer inflamações presentes nos vasos sanguíneos, levando o corpo a reter líquidos para diluir o mineral, como o sódio, e inchar”, explica a especialista.  Ela também pontua que alguns alimentos muito consumidos, como os industrializados e ultraprocessados, são prejudiciais por possuírem altos níveis de sais e açúcares em sua composição. 

Para evitar a má circulação, ela recomenda uma dieta balanceada, com a presença de alimentos diuréticos como melancia, melão, pepino e abóbora, além da ingestão de água pura, que ajuda a evitar a retenção de líquidos e a repor o potássio que é eliminado pelo suor.

“Muitos acreditam que os inchaços são causados pela quantidade de líquido ingerido, mas a hidratação, pelo contrário, é o que evita a retenção e favorece o funcionamento intestinal. A desidratação pode favorecer o aparecimento do edema.” Por fim, Lígia recomenda realizar regularmente atividades físicas. O ideal, segundo ela, é se exercitar antes das 10h ou na parte da noite, para evitar a exposição ao calor. “Realizar exercícios físicos ou caminhadas são essenciais para evitar inúmeras doenças, principalmente a trombose, pois são as formas mais eficientes de combater os incômodos causados pela má circulação. Lembrando que a atividade física deverá ser orientada por um profissional”, finaliza.

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