Coluna Pomerana
Agricultura na Pomerânia, de 1850 até 1900
Publicado em 11/03/2022 às 17:01
Elaborado a partir do original publicado em https://www.landesmuseummv.de/themen/landwirtschaft/1850-bis-1900/Bearbeitet von Dr Ivan Seibel
Frequentemente perguntamos pelas razões da evasão pomerana no decorrer do século XIX. As explicações são muitas, contudo, a visualização das questões agrárias são fundamentais para a compreensão dessa quase diáspora que nossos antepassados presenciaram.
Alguns hábitos e costumes da cultura pomerana são, no mínimo, curiosos e tem sua origem na própria formação da antiga Pomerânia. Para entender melhor, tentemos rever alguns dados desse antigo país. Da mesma forma como na Índia, onde ao longo dos séculos sempre houve as chamadas “castas”, também a população desse ducado europeu era dividida em dois níveis sociais bem distintos, ou seja, sempre houver dois grupos populacionais distintos. De um lado, na Idade Média, os Cavaleiros Teutões, na medida em que avançavam para o oriente, também construíam as suas fortalezas e se tornavam senhores feudais. Com o passar dos séculos, estas famílias continuaram se mantendo vinculadas aos exércitos de reis e de duques, aos quais prestavam serviço como militares.
Praticamente até o início do século XX, estes integrantes da chamada “baixa nobreza” continuaram fornecendo oficiais para as tropas prussianas e depois para o Império Alemão (1871-1914). Também não podemos esquecer que toda essa região sempre foi um grande corredor de passagem de exércitos estrangeiros e de “predadores” estrangeiros. Em meio a tudo isso, a população rural, ou seja, os trabalhadores braçais, de uma forma ou de outra sempre dependeram da proteção desses “poderosos”. Ou seja, precisavam de alguém com poder, com armas e com recursos financeiros para os protegerem das incursões de inimigos.
Isso fez com que uma verdadeira simbiose se estabelecesse entre os senhores feudais, transformados em “Gutsherren”, ou seja, os senhores das terras e da população rural desprotegida. Os mais fortes passaram a impor as suas regras em troca de proteção. Os servos, ou seja, os “Leibeichene”, termo literalmente traduzido para “pessoas que tinham dono” passaram e ter a sua própria liberdade de movimentação restrita à propriedade rural dos seus “donos”.
A abolição da servidão na Pomerâcia, de certa forma, aconteceu em 1806, com a emissão de um decreto pelo rei da Suécia, o qual, na época, detinha o poder sobre a Pomerânia Ocidental. Com tudo, a sua efetiva implantação terminou sendo retardada em função da invasão napoleônica e a da própria pressão dos latifundiários.
Ao longo da história, a Pomerânia era e continuava sendo dominada pela agricultura. A baixa nobreza e os latifundiários, representando 1 % (hum) da população, detinham cerca de 60% de toda a área agricultável. As áreas mais férteis se localizavam na região ocidental e que hoje faz parte da Província de Mecklenburgo Vorpommern.
A chamada abolição da servidão dos camponeses, de certa forma, se transformou em um novo pesadelo para o povo, pois, dentro do próprio processo de libertação dos “servos”, agora transformados em “homens livres”, estes, como compensação por terem sido libertados da servidão, não poucas vezes tiveram que entregar suas terras e casas aos latifundiários. Os latifúndios, agora cada vez maiores e com a utilização das novas máquinas agrícolas, ampliaram as suas áreas de plantação e de novas pastagens para o gado. Pomerânia se transformou no maior celeiro de produção de batatas da Alemanha.
Na Pomerânia ocidental, trabalhadores sazonais estrangeiros foram substituindo a mão de obra faltante. Apenas em 1879, com a criação de subsídios governamentais para a agricultura, e o suporte financeiro para a aquisição de máquinas agrícolas, como colheitadeiras, a situação passa a melhorar para a população remanescente.
Em 1862, a partir de uma nova lei, o chamado arrendamento hereditário das propriedades passa a vigorar. Com isso, os trabalhadores dos latifúndios muitas vezes não conseguiam arcar com as taxas de arrendamento daí decorrentes. Como resultado, essas pequenas propriedades, agora passam a ser transformadas em uma espécie de propriedade arrendada, porém incorporadas aos latifúndios.
A partir dessa época, a comercialização de propriedades com mais de 100 hectares passa a ter um importante aquecimento. O número de máquinas e de Fig. 6 – Pomerânia, na primeira metade do século XIX. Imagem obtido no Pommersches Landesmuseum de Greifswald. animais de tração passa a sobrepujar em número o da própria população da região de Mecklenburg. Uma exceção se verificou na região de Ratzenburg, em Mecklengburg-Strelitz, onde esse processo não chegou a se desenvolver, preservando mais a agricultura familiar.
Foi nesse momento que um grande contingente de aldeões, saídos da servidão, foi em busca de um futuro melhor, pelo mundo afora. Há cálculos que sinalizam com números em torno de 240.000 pomeranos somente os que que ao longo de século XIX teriam deixado a região e seguido para os Estados Unidos da América. Também provenientes de terras com esse panorama, que os nossos cerca de 20.000 antepassados pomeranos, sobretudo, entre 1860 e 1873, depois de uma verdadeira viagem de pesadelos, desembarcaram em portos do Brasil Império.