A Mega da Virada e o sonho brasileiro

Foto: Freepik

Metade de dezembro se foi e como todo ano, nessa época, um sentimento quase palpável toma conta de cada brasileiro: a expectativa. Ela está nas ruas, nas lojas, nos pontos de ônibus, nas filas do supermercado e, claro, nas mesas de bar. E se você acha que a principal expectativa de dezembro gira em torno de rituais de Natal, presentes e possibilidades de viagens, sinto dizer, mas você está enganado. A Mega da Virada é quem entrega aos corações brasileiros uma ampla cartela de possibilidades. Ouso dizer que todos nós somos um pouco ricos na véspera da mega, fazendo planos, distribuindo presentes imaginários, repartindo riquezas lendárias, cada conversa gira em torno de tudo aquilo que poderia ser, de uma promessa, que depende unicamente de marcar os números certos em um bilhete

Quando eu era criança, assistia meu pai, ano  a ano, depositar sua esperança na “fezinha”. E mesmo que você não seja um jogador fiel, nessa época do ano, não há como fugir. Nos ambientes de trabalho acontecem os bolões e mesmo aquele que nunca participa de nenhuma atividade com os colegas, nessa hora não quer ser deixado de fora. Afinal, quem quer correr o risco de ver os colegas ganhando e ser o único a continuar encarando sua CLT? Se alguém te perguntar, “Você vai jogar na Mega?”, a resposta é quase sempre a mesma: “Claro!” E mesmo que o salário esteja apertado, a gente dá um jeito, afinal quando for sorteado vai valer a pena o investimento. No fundo, o que queremos é acreditar que nossa realidade pode mudar, que dormir assalariado e acordar milionário, comprando a casa dos sonhos e viajando pelo mundo é um merecimento, e se alguém tem que ganhar, então, por que não eu?

Vale tudo, desde palpites, manhas, truques e até revelação em sonhos. Na fila da lotérica, todo mundo tem uma certeza para compartilhar: “Sabe que 7 é o número da sorte, né?” Ainda tem aquele alguém que conhece alguém que tem um tio que já ganhou R$100 mil no sorteio do ano passado, aí o otimismo se fortalece, a esperança se alimenta, cresce e se espalha.

A cada ano as apostas aumentam, e o brasileiro, com sua fé inabalável e sua eterna esperança, continua acreditando que, por mais improvável que seja, existe uma chance, por mínima que seja, de que o destino lhe sorria. A Mega da Virada parece ser a nossa grande chance de realizar aquele sonho que a gente guarda em segredo, mas que, no fundo, nunca abandona. E não importa, se no final das contas, o vencedor for alguém de longe, de um dos grandes centros urbanos ou de uma desconhecida cidade do interior, o que motiva o brasileiro é a sensação de que a vida pode dar uma reviravolta de repente, de que a sorte, em algum momento, vai bater à sua porta. E se não for neste ano, quem sabe no próximo?

Priscila Aquino

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