POMERANA

Coluna Pomerana

A medicina popular dos primeiros imigrantes

Publicado em 01/11/2018 às 14:41

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A assistência médica disponível para os imigrantes europeus que chegaram no Brasil a partir de 1824 foi muito precária durante quase cem anos. O mesmo também deve ser dito para os pioneiros pomeranos. A solução encontrada por eles mesmos, residia justamente na busca por uma assistência proporcionada pelos “Walddoktors”, ou seja, pelos “médicos da floresta”, ou pessoas detentoras de um conhecimento, por vezes mínimo, de medicina popular dentro de uma cultura essencialmente rural.

Segundo alguns relatos, já mais tarde, “quem vinha da Alemanha terminava trazendo de lá remédios ou mandava vir. Alguns já tinham aprendido um pouquinho de medicina na Alemanha”. É o que ainda hoje se pode ouvir de pessoas das gerações nais antigas. Já segundo os relatos de descendentes do assentamento de Belém, presumivelmente a primeira comunidade pomerana, de 1854, na então Província de Espírito Santo, na falta de um profissional com formação acadêmica, nomeram um “médico” dentre a meia dúzia de famílias ali residentes. Alguém precisava assumir esta função e fazer o esforço possível para obter o conhecimento necessário para o desempenho desta sua função tal. Eram tempos difíceis e precisavam encaminhar algum tipo de solução.

Ainda hoje há pessoas que, com o seu cabedal medicamentoso, se valem da medicina popular ao invés da medicina moderna. Acreditam no poder de cura dos chás preparados a partir de ervas ou outros ingredientes tirados da natureza.

Vivenciar uma consulta de um Walddoktor ou seja, de um “curandeiro” é algo, no mínimo curioso, até mesmo pela própria naturalidade com que o acontecimento costuma transcorrer. Em geral é um diálogo agradável. Tive o privilégio de vivenciar esta situação. Quando chegou uma cliente para a “consulta”, por ocasião da entrevista com o autor, o “médico” disse que teria que atender. Ponderei que fizesse o seu trabalho e que, enquanto isso, iria seguir conversando com os outros presentes. Seguiu-se uma rápida conversa entre a “paciente” e o curador (aquele que cura, conforme denominação usada pelos pomeranos) e finalmente o “doutor” levou a paciente para uma sala de onde ainda podia ser vista, sem que, porém, eu pudesse entender o conteúdo do diálogo. Nossa conversa com outros familiares seguiu baixinho para não atrapalhar a “consulta”. “O que consulta com ele? ”. “De tudo.”. “Ela (a “paciente”) está com dor nas costas”. “Ele é nosso doutor”. “Ele examina e dá uma receita […]” “Dá remédio para os meninos. Para vermes. Tem lápis e caneta e papel e anota tudo isso. Depois vamos para a farmácia e compramos o remédio. Ele é nosso doutor. O seu sobrinho, o […] também é doutor. A mãe do […] também era. Agora passou para o […]. […]. Ele também cura, é walddoktor. […], o remédio é bom. Ele escreve no papel. A gente pega na farmácia e sempre fica bom. Ele tem respeito pela pessoa. […] Direitinho. É tudo que precisa. E dá certinho”.

Como se pode constatar pelo diálogo, aqui existe algo que muito médico facultativo desconhece: a confiança e o tempo para ouvir as pessoas. E isso já representa a metade do tratamento.

 

 

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