A força do cooperativismo para crescer em momentos de crises
Publicado em 30/10/2017 às 13:46
Um velho ditado popular diz que “a união faz a força”. E um exemplo da veracidade desse ditado é o sistema cooperativista, que agrega várias pessoas com o mesmo objetivo. E em momentos de crises financeiras como a que o Brasil está atravessando, as cooperativas podem ser a saída para enfrentar esses momentos de turbulência nas finanças.
E a importância desse segmento foi confirmada pelo renomado consultor, escritor e administrador de empresas Max Gehringer, que esteve no Espírito Santo, nesse mês de outubro, a convite do Sicoob Centro-Serrano. Na avaliação de Gehringer, que falou para um público formado por associados do Sicoob, a união promovida pelo cooperativismo propicia a acessibilidade aos produtos e serviços a todos que compõem o quadro social, uma vez que cada um contribui e obtém retorno.
Max Gehringer conversou com exclusividade com o portal Montanhas Capixabas e falou sobre a importância do cooperativismo. “Se pegarmos a história do mundo como base, os países mais poderosos do mundo são os que têm os melhores exércitos. Ou seja, eles formaram um grupo que tinham um interesse comum e sabiam como se comportar no campo de batalha, recolhiam os espólios daquilo que conquistavam, reinvestiam e ficavam cada vez mais fortes. O cooperativismo é tudo isso sem a guerra, sem a batalha e sem machucar o próximo”, afirmou Gehringer.
Ele ainda destacou que muita gente tem seu perfil individual, que gosta de fazer as coisas sozinhas e não ter que dar satisfação a ninguém, mas ele garante que se essas pessoas fizerem parte de um grupo forte, a possibilidade de convencer alguém, mudar uma situação ou negociar é muito maior de que se cada um tentar sozinho.
O palestrante também falou sobre a importância de se atualizar constantemente. “Com o passar do tempo, as mudanças nos pegam e vai depender se estamos ou não preparadas para ela. Para mim, a mudança perfeita é aquela que não tem sobressalto, é aquela que você vai fazendo um pouco de cada vez e não percebe que está mudando”, comenta.
Gehringer citou um exemplo: “É como se a gente pegasse uma foto de 15 anos do nosso ambiente de trabalho e uma atual. A gente vai ver que não nos lembramos de quando mudamos, mas nada é o que parece. Essa é a mudança perfeita. A imperfeita é aquela que vamos postergando, resistindo, e chega uma hora que precisamos mudar abruptamente, aí a empresa precisa dispensar pessoas, cortar benefícios e outras coisas”, pontuou.
O especialista comentou que é o caso que está ocorrendo com o governo brasileiro, que está tendo que fazer as Reformas Trabalhista e Previdenciária. Na opinião dele, as mudanças poderiam ter sido feitas um pouco de cada vez, para não ter a necessidade de mudar muita coisa de uma só vez.
Fazendo um link com o cooperativismo, Gehringer falou que a boa gestão é aquela que vai mudando e se adaptando constantemente. “Com o tempo, uma única cooperativa pode gerar sete ou oito filhotes. Geridas individualmente elas podem ser fortes, mas sempre fazendo algo que congregue todas elas, como é o caso do Sicoob”, informou.
COOPERATIVAS x SUPERAÇÃO DE CRISES – “Para quem precisa de recursos, fazer parte de uma cooperativa é quase uma bênção. Eu fiz parte de uma cooperativa quando tinha 17 anos. Eu batia uma lista de preços de uma cooperativa de consumo e eu sempre falava com o presidente que não entendia porque nos supermercados os produtos tinham um preço e nas nossas lojas era até 30% menor. Foi quando ele me explicou o que era cooperativismo”, lembrou o palestrante.
Nesse sistema, como destacou Gehringer, todos pagam para que o preço para todos seja menor. “O cooperativismo na minha vida é algo muito antigo. Eu entendi muito cedo o que significava e sempre incentivei em empresas que eu trabalhei e não vejo como isso possa diminuir no futuro. A única tendência é aumentar”, acredita.
SUCESSÃO FAMILIAR – Um assunto que preocupa muitas famílias, seja proprietárias de pequenas, médias e grandes empresas ou até mesmo de uma propriedade rural, é a sucessão familiar, quando as novas gerações começam a administrar e conduzir os trabalhos.
Sobre esse assunto, o especialista em gerenciamento de empresas Max Gehringer deixou a dica para que essa mudança não seja sentida. “A minha sugestão para o filho é que ele saia, arrume um emprego, abra seu negócio ou faça qualquer coisa na vida para mostrar que ele é bom. Assim ele pode voltar como um sócio importante, não como um parente que precisa ter um emprego. Então, prove-se lá fora, aí teu pai vai acreditar em você. Não adianta falar alto com seu pai, não é uma boa ideia. Ele pode até concordar na hora, mas a relação não será a mesma”, garante.
Em cooperativas, por exemplo, há vários exemplos de pessoas mais jovens que continuam os negócios e também atuam em diretorias dessas cooperativas. “Além da relação profissional que existe em negócios que têm pais e filhos ou parentes de um modo geral, existem as relações pessoais, e as pessoas são diferentes. Tem gente que nasce irritado e morre irritado, outro nasce de bom humor e morre de bom humor. A gente nunca entende o que afetou esses temperamentos em uma mesma família. Assim pode haver vontades diferentes, habilidades diferentes”, disse.
Gehringer acrescentou que a pior situação é aquela em que os pais construíram um negócio e o filho acha que vai conseguir mudar aquilo sem nunca ter dado nenhuma demonstração prática na vida de que vai conseguir fazer uma mudança que dê certo e principalmente de forma radical.
PALESTRA – Durante o encontro com os associados, que ocorreu em Vila Velha, o palestrante iniciou uma reflexão sobre a necessidade de se adequar às mudanças que vêm ocorrendo no mundo para conseguir melhores possibilidades de negócios e relacionamento.
Ele também fez uma análise dos momentos atuais, comparando com décadas passadas, e as perspectivas otimistas para o futuro. Além disso, o palestrante destacou a importância da presença dos centenas de cooperados ao evento, que sempre é importante para a qualificação e desenvolvimento, segundo ele.
Arno Kerckhoff, presidente do Sicoob Centro-Serrano, afirma que este tipo de debate é essencial para a atualização dos associados e para a análise das possibilidades existentes diante dessa nova perspectiva. “A interação com o ponto de vista do palestrante nos proporciona uma troca de ideias e o vislumbre de opções que muitas vezes não enxergamos em nosso dia a dia”, explica.
A gerente da cooperativa do Sicoob de Domingos Martins, Wilma Barth, comentou que é muito importante a presença dos cooperados em eventos como este. “A palestra tratou sobre gerenciamento de mudanças. Foi um bate-papo interessante sobre como as mudanças são cada vez mais velozes e não há uma receita certa para lidar com elas. Devemos estar atentos”, alertou Wilma.
Ela ainda acrescentou que em momentos de crises, as cooperativas são excelentes opções para a redução de custos. “Como Max Gehringer disse em sua palestra, os sistemas de cooperativas de crédito possuem as menores tarifas e taxas do mercado, e ainda há a divisão de lucro anualmente entre os cooperados”, destacou.
Max Gehringer é comentarista da Rádio CBN e do Fantástico, na TV Globo. Administrador de Empresas, foi presidente da Pepsi-Cola Engarrafadora e da Pullman/Santista Alimentos. Também é conhecido por seus artigos em revistas como Época, Exame e Você S/A. É autor de vários livros, dentre eles “Comédia Corporativa” e “Emprego de A a Z”, e um dos palestrantes mais requisitados do país.
Sistema Sicoob
O Sicoob é o maior sistema cooperativo de crédito do país. Aberto a empresas e a pessoas físicas, trabalha com produtos e serviços tipicamente bancários, com custos menores do que os do mercado. Os associados, que são donos do negócio, participam dos resultados e dispõem de tecnologia que facilita a movimentação. Além disso, têm a mesma segurança que os clientes de bancos comerciais, pois a instituição garante cobertura de R$ 250 mil por cliente.
Com operação no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, o Sicoob ES tem 230 mil associados. São oito as cooperativas filiadas: Norte, Leste Capixaba, Centro-Serrano, Sul-Serrano, Sul, Sul-Litorâneo, Sicoob Credirochas e Sicoob Credestiva. O sistema atua em todo o Brasil, com 2,5 mil unidades, e atende 3,7 milhões de associados.