Coluna Pomerana
A “descoberta” dos pomeranos
Publicado em 12/09/2019 às 11:31
Nos últimos anos, se tem falado muito em pomeranos. A década de 1960, na realidade, se constituiu em um importante marco na divulgação da cultura pomerana brasileira. Vale salientar que, nesta época, alguns pastores já começaram a fazer os seus sermões nessa língua, o que, na época, certamente, já implicava na elaboração de eventuais anotações em pomerano. Eu diria que, dessa forma, a cerca de 50 anos atrás, já foi “ressuscitada” essa escrita que estava adormecida há séculos. Algumas décadas mais tarde, com a edição do Dicionário/Enciclopédico do Prof. Tressmann, todo esse processo de retomada da escrita foi oficializado. Foi assim que no Brasil, teve início um novo estímulo para a divulgação da cultura desse grupo étnico.
A partir de 1970, diversos eventos marcaram o começo de uma nova fase da propagação da cultura pomerana no Brasil. Em primeiro lugar, merece destaque a migração para os centros urbanos, a qual contribuiu em muito com o processo de aculturação dos descendentes desses imigrantes. Em segundo lugar, em muitos estados, a falta de espaço para novos assentamentos estimulou um fluxo de migrantes, inicialmente direcionado ao estado do Paraná e, posteriormente, para Rondônia, motivando a divulgação de um grande número de reportagens em diferentes meios de comunicação. O pomerano passava a ser notícia de jornal.
Repetiu-se o mesmo mecanismo de desbravamento já tantas vezes utilizado e que implicava nas derrubadas, nas queimadas e nas nova plantações, apenas que, desta vez, em novos estados brasileiros.
O maior problema do povo pomerano foi o que se poderia chamar de falta de acesso ao desenvolvimento. Ou seja, faltavam estradas para se chegar às áreas urbanas onde melhores recursos, seja na área de ensino ou mesmo em possibilidades de trabalho, pudessem ser encontrados. As estradas, quando existiam, costumavam ser intransitáveis. Não havia telefones e as distâncias até as escolas costumavam ser muito grandes.
E foi nessa época, na década de 1970, que os pomeranos foram “descobertos” pela mídia. Inicialmente por meio da divulgação de uma sucessão de infelizes reportagens, como por exemplo, aquela divulgada por um jornal alemão, a partir de uma manchete com o título “Trabalho escravo infantil”. Entretanto, apesar de algumas publicações de conotação extremamente negativas, essas também passaram a chamar atenção para o processo de preservação no Brasil, de um nicho cultural pomerano, ao mesmo tempo em que estes pareciam estar condenados ao desaparecimento quase que por completo na própria Alemanha. Tudo isto serviu de ponto de partida para o desencadeamento de um amplo processo de valorização e divulgação do que poderia ser chamado de cultura pomerana brasileira.