Coluna Pomerana
Noiva de Preto: um vestido e muitos significados
Publicado em 03/06/2021 às 14:57
Na cultura pomerana o casamento pode ser considerado um dos acontecimentos mais celebrados, com muitos rituais e significados. Trata-se de um momento representativo, pois gera rupturas e o início de uma nova vida familiar. O professor Dr. Martin Dreher, menciona que o aspecto que talvez mais distinguia os pomeranos das tradições de outros grupos no passado, foram as práticas ligadas às festas de casamento. Em um casamento tradicional pomerano, o que normalmente costuma chamar atenção é o vestido de noiva, pois em todos os registros da época está presente a foto de vestido preto.
Algumas teorias cercam este antigo costume, e encontramos argumentações de pesquisas recentes relacionadas ao tema. O vestido de noiva dos primeiros casamentos, realmente era de cor preta, comprovado pelas peças de roupas deixadas pelos antigos e também pelas imagens registradas em antigas fotografias.
Em sua viagem pelo Brasil por volta de 1970, Klaus Granzow, pesquisador pomerano, relata sua admiração ao visitar a família Friedrich: “…de repente apareceram as mulheres da família Friedrich na outra sala dançando. Elas estavam usando trajes bem antigos que serviram de vestidos de noiva e que haviam guardado por muito tempo. Os vestidos eram longos na cor preta. Até então eu apenas conhecia este tipo de vestido pelas fotos. Me admirei por ainda ter encontrado ali estas peças tão valiosas e de forma original”.
Contudo, há controvérsias quanto ao costume do uso da cor preta pelas noivas pomeranas. Para o professor Dr. Wilhelm Wachholz, existem interpretações opostas em torno do uso do vestido preto. Dr. Wachholz destaca 3 interpretações: a primeira relaciona o vestido preto com os riscos decorrentes do parto. Neste caso, o preto representa o luto, lembrando que casamento, maternidade e morte estão interligados, principalmente nos séculos passados. 2ª) Há também a crença de que o preto representa a morte social da noiva, ou seja, a separação dela da sua família, e o ingresso em outra. 3ª) Outros afirmam ser esta a roupa mais acessível da época e que possiilitaria o reuso dos vestidos.
Para o pesquisador Dr. Ivan Seibel, cabe acrescentar mais algumas interpretações. O grotesco costume feudal do direito a primeira noite de núpcias que cabia por direito ao senhor feudal e não ao noivo. O “jus primae noctis”, era uma ideia que havia em quase toda a Europa e se alastrou para alguns lugares, como na Ilha de Rügen e no interior leste das terras da Pomerânia. Assim, como forma de protesto da sociedade, resultou a adoção de uma indumentária de cor preta.
Outra teoria está relacionada ao frio, considerando que um vestido preto absorve melhor o calor. E ainda, por fim, também se elenca como uma das possibilidades de adoção do vestido preto pelas noivas, uma forma de protesto contra o Governo da Província que não dava assistência. Em linhas gerais, atualmente a tese mais difundida é a de que o vestido de cor preta tem a sua origem em uma atitude de luto ou de protesto. Por sua vez, o imaginário humano sempre foi e continua sendo criativo, desenvolvendo todo um enredo e até um folclore em torno de um fato que tem frágil embasamento histórico, se considerarmos todas essas teorias e suas variações.
A pesquisadora Angelina Wittmann, mostra que antes do século 19 em vários países da Europa, as noivas se casavam de preto, marrom, vermelho, azul e cinza. Utilizavam o seu melhor vestido e não o usavam somente no dia do casamento, mas também em outros dias. Geralmente o vestido era preto, pois era mais acessível e não aparecia estar sujo com facilidade. Poderia desta forma, ser utilizado mais vezes se comparado com um vestido de cor clara ou branco.
Dr. Seibel afirma que nos séculos XIV a moda da cor preta nas vestimentas das mulheres se torna presente nos palácios da Antuérpia e Holanda, chegando para nobreza espanhola nos séculos XV e XVI. O reinado de Maria I (1542-1587) rainha da Escócia, levou o costume para a nobreza irlandesa e inglesa e mais tarde chegou a Pomerânia. Ainda para Seibel, no dia de seu casamento a noiva pomerana queria se vestir como uma princesa, pois nos outros dias era serva de príncipes feudais e suas roupas eram feitas predominantemente de sacos de cereais ou com tecidos bem simples Segue com Parte II no próximo número.