Robô deve ajudar médicos em cirurgias com crianças que sofrem de epilepsia
Publicado em 02/05/2021 às 14:04
O novo “robô-neurocirurgião” está sendo construído e testado dentro de um dos hangares do Departamento de Engenharia Aeronáutica (SAA) da EESC. O professor Glauco Caurin, docente da Escola e coordenador do projeto, explica que o equipamento, geralmente utilizado na fabricação de aviões, agora está sendo adaptado para auxiliar profissionais da saúde. Na prática, a partir de imagens em 3D do cérebro do paciente recebidas online, a máquina irá auxiliar os profissionais de saúde a interpretá-las e a calcular exatamente onde os eletrodos devem ser inseridos, posicionando uma ferramenta tubular na cabeça da criança para que a equipe médica coloque os sensores. Uma forma colaborativa de trabalho entre o robô e o cirurgião.
O professor Hélio Machado, docente do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, instituição parceira no estudo, explica que lesões cerebrais ocorridas de forma precoce, ainda durante a formação do órgão, estão entre as principais causas de convulsões em crianças: “Essas lesões levam ao mau funcionamento de parte do cérebro, que se torna gerador de crises convulsivas. Nesses casos, é preciso descobrir o local exato onde a crise começa e para onde ela se propaga. Atualmente, a melhor forma de se estudar cada caso é inserindo no crânio do paciente de 5 a 15 eletrodos, que são conectados a um sistema de monitoramento”, explica.
Para criar a nova tecnologia, os pesquisadores importaram da Alemanha um braço mecânico articulado de última geração com aproximadamente 1,6m e 45 kg, o qual será controlado por códigos computacionais que estão sendo desenvolvidos na EESC. “Estamos aplicando na neurocirurgia sistemas criados para diferentes áreas e adaptando softwares já disponíveis no mercado, alguns desenvolvidos por universidades brasileiras, para deixar o custo de produção mais barato e, consequentemente, a inovação mais acessível para os hospitais”, explica o docente da EESC.
A parceria entre EESC e FMRP começou em 2014, quando o professor Hélio entrou em contato com Glauco após voltar de uma viagem a trabalho, onde esteve com o Chefe de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital da Fundação Rothschild, em Paris, na França, que também se dedicava a cirurgias de epilepsia na infância e foi pioneiro no uso de robôs em 2009. Durante a visita, Hélio teve a oportunidade de conhecer a fábrica da empresa que produziu o primeiro robô neurocirúrgico do mundo e voltou animado para o Brasil com a possibilidade de desenvolver algo por aqui.
“Eu fiquei muito interessado. Não conhecia o professor Glauco pessoalmente, mas já havia visto apresentações de alguns alunos dele em congressos estudantis sobre braços robóticos. Entrei em contato com ele e, em 2016, nós fizemos o primeiro workshop sobre cirurgia robótica em São Carlos. Foi aí que as coisas realmente começaram a se desenvolver”, lembra. Atualmente, as equipes trabalham de forma bem próxima, apesar do isolamento imposto pela pandemia da Covid-19. “Nós queremos identificar quais são os desafios e como a gente pode ajudar a solucionar essas dificuldades”, ressalta Glauco.
Desde a década de 80, a tecnologia vem avançando muito na área e proporcionando a produção de robôs que podem colaborar com a medicina. Ainda não existem máquinas 100% autônomas para operar pacientes e nem esse é o objetivo dos pesquisadores de São Carlos. “Nós queremos otimizar algumas habilidades preciosas dos humanos para cansar menos esses profissionais. O robô é um assistente que não vai tirar a profissão do enfermeiro, do técnico de enfermagem ou do instrumentador, muito menos dos médicos”, ressalta Glauco.
A tecnologia em desenvolvimento na EESC tem sido testada por meio de simulações em crânios artificiais, visando identificar eventuais erros do sistema e prever todos os problemas que podem surgir no momento da cirurgia. Segundo o professor da EESC, a segurança do robô precisa ser rigorosa, pois a máquina vai lidar com vidas. “Do ponto de vista de engenharia, as técnicas de controle que nós utilizamos são as melhores disponíveis atualmente no planeta. Antes da conclusão de testes exaustivos, o robô não será levado para os hospitais”, garante o coordenador do estudo. Os especialistas esperam que no segundo semestre deste ano seja possível iniciar uma fase de testes com pacientes.