Pandemia aumenta casos de gastrite e síndrome do intestino irritável
Publicado em 04/04/2021 às 13:57
Um levantamento epidemiológico do HCor, hospital multiespecialista em São Paulo, apontou um crescimento de 15% nas internações de pacientes com um desses dois diagnósticos. Nos consultórios, segundo o cirurgião do aparelho digestivo da instituição, André Siqueira, o movimento não foi diferente. A análise utiliza dados de 2019 em comparação ao ano de 2020.
“Temos visto no ambulatório um maior número de casos de pessoas com problemas gastrointestinais, sobretudo gastrite e síndrome do intestino irritável, que são doenças muito relacionadas ao estresse, de grande fundo emocional”, comenta.
Para o médico, no curto prazo, é possível que esses pacientes tenham apresentado dores de estômago e alterações do ritmo intestinal, por exemplo. Agora, com mais de um ano de pandemia, os quadros chegaram a diagnósticos mais específicos e até mesmo agravados.
Apesar de considerar as questões emocionais o principal fator para essa crescente de casos, Siqueira relembra que os hábitos alimentares da população durante o isolamento sofreram mudanças significativas, sem falar nos relatos de pessoas que passaram a consumir bebidas alcoólicas mais frequentemente – ou até diariamente.
“Vale lembrar também que o medo de procurar ambientes hospitalares e a tentativa de se prevenir da Covid-19 levou muita gente a se automedicar, e que alguns remédios têm como efeitos colaterais comuns impactos no aparelho digestivo”, destaca.
Gastrite e síndrome do intestino irritável: como diagnosticar
A gastrite é uma inflamação, infecção ou erosão no revestimento do estômago, podendo ser aguda (com duração de pouco tempo) ou crônica. O quadro é manifestado por sinais como indigestão, queimação, vômitos ou dores abdominais.
O diagnóstico da doença costuma considerar o histórico clínico do paciente e ser complementado com a realização de endoscopia. O exame é feito sob sedação, através de um tubo flexível que possui um chip responsável por capturar as imagens do sistema digestivo por meio de uma câmera.
Já a síndrome do intestino irritável, ou síndrome do cólon irritável, é um distúrbio na motilidade intestinal (capacidade que o intestino tem de realizar movimentos autônomos). A doença é caracterizada por episódios de desconforto abdominal, dor, diarreia e prisão de ventre, presentes pelo menos durante 12 semanas, consecutivas ou não.
Embora não exista um exame específico para diagnóstico da síndrome, alguns testes podem ser propostos para descartar a existência de doenças similares. São eles: exames de sangue, cultura de fezes e colonoscopias, esse último realizado também sob efeito sedativo, de forma indolor.
“A colonoscopia é um exame que permite observar o revestimento interno do intestino grosso e a parte final do intestino delgado. O procedimento requer dieta prévia e o uso de laxativos mais fortes para a limpeza do conteúdo intestinal, porém, para minimizar o mal estar durante a preparação, o paciente pode optar por fazer o preparo dentro do ambiente hospitalar, com acompanhamento especializado”, explica Paula Poletti, médica endoscopista do HCor.
Hábitos saudáveis e cuidados com a saúde mental
Algumas mudanças no estilo de vida podem melhorar o funcionamento do aparelho digestivo, tais como preferir os alimentos naturais – que possuem alto valor nutricional – e evitar os industrializados, que são extremamente calóricos e contêm aditivos artificiais que prejudicam a saúde.
Além disso, diminuir o consumo de sal, açúcar e gorduras hidrogenadas e aumentar a ingestão de fibras é recomendado em qualquer fase da vida.
Dentre outros hábitos saudáveis, o cirurgião pontua a importância de comer devagar e mastigar bem os alimentos; não fazer refeições distraído, enquanto conversa, assiste televisão ou faz qualquer outra atividade; e tomar uma quantidade adequada de líquido ao longo do dia, para ter uma boa hidratação.
Fora da mesa, para combater o estresse, a recomendação é reservar alguns momentos do dia para relaxar, além de praticar exercícios regularmente e investir em boas noites de sono.