Coluna Pomerana
WEEGE – Empreendedorismo Pomerano
Publicado em 13/11/2020 às 11:50
Ao longo da história, as crises sempre foram “um motor” que impulsiona um novo status para a realidade vivenciada até aquele momento. As guerras entre as tribos, por exemplo, sempre acabaram gerando novos reinos e miscigenações; as crises sanitárias também mobilizaram a busca por tecnologias que melhorassem a qualidade de vida das pessoas; a ruptura do modelo produtivo como a Revolução Industrial e seu consequente desemprego no campo, forçaram a emigração de povos para vários lugares do mundo.
Fatos históricos demonstram que quando o ser humano se encontra num cenário de “desconforto”, ele irá buscar melhores condições. São ocasiões em que acontecem os maiores saltos no desenvolvimento econômico e social. No pequeno Vale do Rio do Testo (Pomerode), a família Weege exerceu na plenitude esse instinto de busca pela evolução. Aqui no Brasil tudo estava por fazer, e esse foi o maior estímulo para empreender e mostrar que é possível fazer a diferença.
A família Weege emigrou da vila de Labes (margens do rio Rega) do Kreis Regenwalde da antiga Pomerânia. O casal Johann Carl Friedrich Wilhelm Weege (1823 – 1888) e sua esposa Henriette Düsing (1820 – 1897) chegaram ao Brasil em 1868 no veleiro Lord Brougham, assentando-se na localidade de Pomerode Fundos. Com eles vieram quatro filhos: Auguste, Friedrich, Carl e Albertine. O filho Carl Weege, que na ocasião da emigração tinha 12 anos, mais tarde se casou com Caroline Auguste Sophie Grützmacher e negociou a aquisição de um lote de terra com a Companhia Colonizadora. Cultivou a terra da qual saía a sobrevivência como todos os demais imigrantes. Em 1919 Carl construiu um comércio de secos e molhados, um salão de bailes e um engenho para moer milho (atafona). Os moradores da região traziam o milho para moer na atafona e na “venda” também ocorria a comercialização de mercadorias. Em 1920 sua esposa Auguste morre e Carl inconsolado migra para Jaraguá do Sul aos 64 anos de idade.
Descendentes de Carl e Auguste continuaram os negócios em Pomerode Fundos e hoje a empresa Frigorífico Zinnke é a continuidade do empreendimento. Mas muito antes de Carl Weege empreender no ano de 1919, a história de outro empreendedor da família começava a ser traçada. Carl e Auguste tiveram 15 filhos, e destes, somente um teve a oportunidade de sair da colônia e se capacitar em outro ofício que não fosse o cultivo da terra e a lida com animais. Esse filho nasceu em 28 de maio de 1877 em Rio do Testo e recebeu o nome de Hermann Weege. Teve a oportunidade de estudar no colégio Franciscano do Stadplatz (centro de Blumenau), atualmente colégio Bom Jesus.
Em 1891, aos 14 anos, Hermann foi trabalhar como aprendiz na Casa comercial Malburg em Itajaí, e, aos 18 anos, decide ir trabalhar em Curitiba na firma Francisco Hauer. Depois de tres anos em Curitiba, decide regressar para a casa dos pais, viagem feita de bicicleta Curitiba/Pomerode. Em 1901 Hermann decide se casar com Pauline Karsten (filha de Johann e Margarida Karsten – fundadores da Cia Karsten). No mesmo ano, eles decidem fundar seu próprio negócio com as economias que Hermann fez no tempo que trabalhou fora da colônia, surgindo assim em agosto de 1901 o embrião do futuro complexo Weege.
Notadamente Hermann foi um homem determinado e arrojado para seu tempo. Iniciando seu comércio de secos e molhados, o objetivo era a compra e venda dos excedentes agrícolas dos colonos. Logo ele se posicionou como “uma ponte” entre o produtor rural e a comercialização dos excedentes para fora da vila. Com o aumento da população local os negócios foram ampliando e Hermann decide incorporar ao comércio um abatedouro de suínos que almejava a produção de carne, embutidos e banha. Mas sua visão ia muito além do tradicional modelo de troca e venda de mercadorias/abatedouro (várias vilas da região passaram a adotar essa estrutura clássica). Hermann havia tido contato com a capital Curitiba e certamente isso encorajava e subsidiava sua visão empreendedora.
Em 1912 ele adquiriu o primeiro automóvel de Pomerode. Na ocasião, o automóvel teve que ficar armazenado no Stadtplatz Blumenau pois não havia estrada para que o automóvel rodasse até Pomerode. Consta que Hermann “bancou” a construção da estrada nos tempos livres com o apoio de uma equipe, e depois, doou a estrada aos órgãos públicos. Em 1913 construiu o primeiro hotel de Pomerode em um terreno da Firma Weege. O local concentrava os eventos sociais da comunidade compreendendo um salão de bailes e restaurante. Mais tarde neste hotel também se concentrava a parada dos ônibus que passavam pela cidade (atualmente no mesmo prédio funciona o Restaurante Pomerode).