Coluna Pomerana
As perspectivas da cultura pomerana no Brasil
Publicado em 25/08/2020 às 16:43
O VII Congresso (VII Pomer BR) dos pomeranos brasileiros terminou não ocorrendo em função das limitações impostas pela epidemia do COVID 19. Foi uma grande perda. Foi a perda de um momento em que os representantes de diferentes comunidades pomeranas poderiam ter reavaliado as suas vivências didáticas, poderiam ter trocado experiências de vida, compartilhados resultados obtidos com os trabalhos desenvolvidos com os seus grupos musicais, ou suas danças folclóricas.
Mas, como certa vez disse o prof. Tressmann, precisamos deixar os pomeranos serem pomeranos.
Mas, afinal, quem são os nossos pomenanos brasileiros? São os descendentes daqueles imigrantes provenientes da extinta Pomerânia, região da Europa, situada na margem do Mar Báltico, entre a Alemanha e a Polônia. Na busca por novas perspectivas de vida, mas também motivados pelas dificuldades causadas pelas guerras, pela fome e até em decorrencia de intolerância religiosa, a partir de 01 11 1857 (Colônia de Santo ngelo, na atual cidade de Agudo), esse grupo emigrou para o Brasil e outros países, em seus novos assentamentos, reconstituíram seu modo de vida e adotaram outros costumes que foram sendo incorporados aos seus novos valores culturais. Diante da amplitude e dinâmica desse processo de aculturação, logo o próprio cardápio pomerano se transformou em um dos principais elementos de estudos.
Por estar presente em praticamente todos os contextos do cotidiano, os pratos típicos, presentes em rituais e festividades, se tornaram importantes marcadores de identidade grupal e das relações sociais entre as famílias. Ao se estudar a cultura pomerana e os marcadores de identidade desse povo, facilmente se observa, em especial nos seus aspectos culturais, que a própria culinária parece estar vinculada a rituais do cotidiano (como o do pão branco pós-sepultamento, ou na janta do quebra-louça dos casamentos. Longe da Pomerânia e dos seus antepassados europeus, os imigrantes reinventaram o seu modo de vida no Brasil.
Entretanto, a cultura, como um todo,, continua sendo pomerana, pois o ato de emigrar representou um rompimento com o país de origem, mas não com as suas tradições. Assim, muitos dos aspectos culturais pomeranos continuam presentes e marcam a sua identidade, tais como a língua, a forma de ser, de trabalhar, de festejar, a religião, o vestuário e a arquitetura.
O grande dessafio foi a adaptação da alimentação. Tiveram que reinventar suas práticas alimentares, de acordo com a disponibilidade de fontes alimentares nas diferentes regiões do Brasil. As tradições e os rituais alimentares contêm e transmitem as características culturas de quem as pratica, constituindo-se em heranças que são preservadas e repassadas entre as gerações e que estão dotadas de simbolismos, crenças e afetividades.
A alimentação de um povo também incorpora dimensões sociais e
culturais que podem ser evidenciadas nos atos de doar, receber e retribuir
presentes alimentares entre familiares, amigos e vizinhos.
O trabalho é um marcador de identidade pomerana fundamental, pois por meio dele percebe-se as formas de organização da sociedade, questões de gênero e até de transmissão de herança. Ressalta-se o trabalho em mutirão para realização de atividades de interesse coletivo, sejam eles trabalhos comunitários, agrícolas ou até mesmo na organização de festividades.
Além desses aspectos, os idosos foram considerados guardiões da cultura pomerana. No entanto, os jovens e os adultos jovens também têm seu ponto de vista e facilmente se identificam percepções divergentes. Para alguns idosos, talvez os aspectos culturais pomeranos e a culinária não deveriam ser mais valorizados. Já para os jovens e os adultos jovens, as mudanças pelas quais as comunidades pomeranas têm passado, não se constituem em grandes dificuldades de assimilação, desde que elas convivam no mesmo espaço que as tradições.
Quanto às perspectivas futuras, muitos questionamentos ainda serão feitos. Sobretudo, no que se refere ao processo de aculturação brasileira em andamento. Assim, as perspectivas quanto à evolução da sociedade rural pomerana em uma comparação com os efeitos da modernidade sobre o ambiente urbano, certamente terão uma grande influência na própria preservação da língua materna.
A velocidade de comunicação, sobretudo pelas redes sociais, certamente representará um avanço no desenvolvimento socioeconômico e cultural, como um todo. Porém, também devem ocorrer perdas, como na própria conservação da língua materna e nas expressões culturais a ela vinculadas, como os cantos e a literatura pomerana.