Coluna Pomerana
A superstição dos pomeranos
Publicado em 29/01/2020 às 12:22
Todas as pessoas supersticiosas se apegam a valores sobrenaturais. Ou seja, seguem conselhos oriundos de crendices populares. Enfim, são pessoas que acreditam que estas ações, sejam elas voluntárias ou não, como rezas ritualísticas, portar amuletos ou participar de rituais, podem influenciar o dia-a-dia de suas vidas. Por meio desse pensamento mágico, acreditam em poder obter resultados não atingíveis dentro do modo de agir lógico, pois, por meio desses procedimentos passariam a poder contar com poderes sobrenaturais para atingir seus objetivos.
Os pomeranos históricamente são supersticiosos. Essas superstições ainda existem e possivelmente são reminiscências de uma cultura pomerana pagã milenar. São heranças que poderiam ser explicadas por antigos costumes e pela mitologia dos povos primitivos que deram origem aos pomeranos. Da mesma forma como cultivam os rituais que representam uma passagem para uma nova fase da sua vida, como o batismo, em que a criança passa a ser protegida por uma áura do “ser Cristão”. Em um momento posterior, a confirmação lhes dá o status de adulto. Com ele passam a poder fumar, beber e dançar. Por último, já como adultos, com o casamento, ingressam em sua fase de pleno direito. A morte, com todo o seu cerimonial de despedida da vida, com as janelas abertas para que “a alma possa sair livremente” e a ceia com Wittbrot (pão branco), preparado pelas vizinhas para depois do sepultamento, irá fechar todo esse círculo do nascimento, da sua existência e da esperança por uma “nova” vida.
Assim, essas transições são bem marcadas dentro do ciclo de vida do povo. O seu dia a dia também se cerca de elementos mágicos, para, quem sabe, protegê-los nessa sua vida tão tumultuada pela opressão e ao longo das intermináveis guerras pelas quais passaram no passado.Também a gravidez já precisava ser mantida em sigilo. Depois do nascimento, a parturiente permanecia em um rígido resguardo. Por ocasião do batismo a mãe precisava conduzir a criança até a igreja, mesmo que isto representasse uma tarefa extremamente cansativa em função do longo e difícil percurso a ser vencido até o local do culto e da bênção.
No batismo os padrinhos tinham uma atribuição muito especial. Seus votos vinham simbolizados pelo conteúdo do “Patenzetel” um pequeno envelope a ser entregue de forma discreta para não ser visto pelo pastor. “Colocavam milho, café, agulhas, linha, cabelos, moedas…” Eram os votos que deveriam sinalizar com um futuro promissor. Cada coisa era um desejo de sucesso.
Também no dia-a-dia o grito do gavião” hakalo” (anauê) precisava ser observado. Pois, como diziam, quando alguém morria, ele passava a gritar… Quando ele canta, é porque alguém morreu. Quando canta em uma árvore verde… vai chover … em uma árvore seca … alguém morreu. As Cartas de Proteção, as Cartas do Céu e a Cartas dos Anjos se constituíam em uma espécie de amuleto com poderes de proteção mágicos.
Os pomeranos realmente acreditavam que se tivessem uma carta de proteção no bolso, mesmo que alguém tentasse agredilos com faca ou tentasse atirar contra eles, sempre estariam protegidos. Era importante que este amuleto do
“Himmelsbraif” estivesse no bolso ao lado do coração, pois, não estando nesse local, não tinha qualquer valor mágico.
Também as “assombrações” eram imagens “observadas” e que mereciam as mais variadas interpretações. Diziam que por “vezes eram cavalos […] Eram montarias que não saiam do lugar…]” Segundo outros relatos, podiam ser observados vultos, ruídos…
Naquele tempo, enterravam as pessoas em covas muito rasas. Isto provocava a exalação de gases, conhecidos como fogos-fátuos. Durante a noite esses gases costumavam ser fosforescentes. O mesmo acontecia no pântano onde materiais em decomposição, sobretudo em noites de luar, podiam criar imagens em movimento. Como se essas imagens criadas pelo vapor estivessem em movimento.
Quando questionados sobre a veracidade destes relatos, as respostas dos pomeranos costumam ser evasivas: “Assombrações, existem nos cemitérios, no bambuzal, nas pedras”. . Um outro afirmou que “… Tenho uma empregada que ainda acredita em benzedura. Sempre dizem que, se a gente acredita, realmente ajuda. Naturalmente as coisas são feitas às escondidas.” “Dizem sempre que quem já assistiu ao aparecimento de assombrações, realmente passa a acreditar na sua existência. ” . Já outros afirmam que “Isto foi tudo invenção. Eu nunca vi, e também não acredito neles. Mas contavam muito”. Aqui em cima onde morou o… Meu pai contava […] Meu avô contava […] Os viajantes contavam muito [… eles foram ao pastor e este mandou reunir a vizinhança de cantar uma determinada canção da igreja. Que ainda deveriam ler um trecho bíblico e cantar esta canção todas as noites. Assim, com o passar dos dias a assombração teria desaparecido. Muitos se perguntam: Existia tal coisa? O pastor dizia que sim. “Gute Sache” um Böse Sache
(São coisas boas e coisas ruins). As pessoas acreditavam nisso. Depois tudo desapareceu…”
Enfim, superstição, crenças, crendices fazem parte no imaginário do povo pomerano. É cultural e certamente vem sendo repassado de geração em geração, possivelmente desde antes da cristianização. Em outras palavras, trata-se de uma cultura milenar e precisa ser respeitada…