Coluna Pomerana
Religiosidade do Pomerano
Publicado em 29/01/2019 às 10:51
Para se compreender melhor as diferentes facetas da espiritualidade do povo pomerano será preciso observar a sua religiosidade. Esse modelo de comportamento social é antigo e já foi trazido pelos imigrantes que aqui chegaram. Pois para cá trouxeram muitos antigos costumes, muitos dos quais continuaram bem vivos entre os seus descendentes.
Assim, por exemplo, a descrição de um ritual do benzimento evidencia riqueza de detalhes, sempre envolta em muito fervor religioso. Para começar, quando alguém faz a benzedura, recita um texto bíblico. Ou seja, o lado místico, o lado divino da “Força” sempre é salientado. Na verdade, todo esse procedimento tem uma psicologia muito própria, isto é, mesmo considerando o seu efeito placebo, um eventual resultado alcançado pode ter como embasamento um relacionamento humano de confiança.
É preciso lembrar que, com a cristianização dos pomeranos, inicialmente pelas diferentes campanhas missionárias e/ou militares, e depois, no século XVI, com a sua conversão para o luteranismo, eles se transformaram em fervorosos praticantes cristãos. Por outro lado, pelo fato de não terem acesso a uma assistência médica e também terem os seus problemas de saúde que exigiam soluções, passaram a se valer da fé como “recurso” terapêutico. Assim, as suas orações passaram a ser a sua “força”. Eles sempre valorizaram muito sua religião e levavam a sério a sua fé em Deus. Desta forma e, certamente, em decorrência de uma necessidade física de sobrevivência, aprenderam a “curar pela fé”, valendo-se ainda da utilização dos diferentes chás provenientes da natureza do seu meio.
Ao longo dos anos a igreja tem discutido a validade de tais práticas, concomitantemente sua aceitabilidade. Ainda hoje muitos pastores consideram inaceitáveis tais práticas e, tanto a antiga igreja luterana e hoje IECLB, como a Igreja Missouri (hoje IELB) sempre têm combatido ferrenhamente a superstição ou qualquer outro costume do gênero.
O que ainda hoje sobrevive é uma espécie de misticismo que vem sendo transmitido de geração em geração ao longo dos séculos, possivelmente oriundo de antigas práticas pagãs dos antigos habitantes da Pomerânia. Naqueles tempos todos tinham os seus deuses. Esses deuses, na concepção daquela população, como também se pode ler na história de muitos outros povos, viviam na natureza e, no cotidiano, “interagiam” de diferentes formas com da população
Lamentavelmente, em uma recente publicação (“O Tiro da Bruxa” de J. Bahia), em uma infeliz correlação com a expressão Hexenschuss, que vem a ser a denominação alemã para lumbago, as mulheres pomeranas de certa forma chegaram a ser caricaturizadas como benzedeiras ou, pior, como adeptas de bruxaria. Temos aqui mais um exemplo de que, sempre que se vai generalizar uma imagem identificada por meio da análise de meia dúzia de indivíduos, corre-se o risco de criar um quadro não representativo desse grupo populacional.