Coluna Pomerana
Pão com banha: uma herança da Pomerânia
Publicado em 24/01/2019 às 13:40
A Pomerânia destacava-se na criação de animais. Afinal, a carne e seus derivados eram importante fonte de alimentação. Neste cenário, o porco merece destaque.
Para se ter uma ideia, no ano de 1816 já havia 137.664 porcos na Pomerânia. Perto de um século depois, no ano de 1912, foram apurados 1.178.036 porcos (Fonte: Livro Das Alte Pommern (editado por Genemir Raduenz), quase dez vezes mais suínos (um dos maiores crescimentos entre os animais domésticos). Isso significa que o porco era presença constante nas vilas e nos pátios das casas feudais. No documentário “Als der Osten noch Heimat war – Pommern”, Irma Pliquet, que hoje mora na Alemanha, lembra da sua infância na Pomerânia, onde sua mãe, todos os anos, criava três porcos: um era abatido para o Natal, outro era comercializado mediante venda ou escambo, e o terceiro era abatido no inverno para abastecer a estação fria com carne e banha. No Brasil, em Pomerode e região, não era diferente. Nas suas propriedades de policultura de subsistência as famílias criavam galinhas, vacas, cavalos e muito porco, rica fonte de carne e banha.
Ao longo do tempo, à medida que o colono ganhava mais produtividade e gerava excedentes, surgia uma rudimentar e caseira indústria de transformação. Alguns imigrantes, ou seus filhos, iniciavam as chamadas “vendas”, estabelecimentos que vendiam ou trocavam produtos que o colono não produzia, como sal, trigo, fósforo, querosene, ferramentas agrícolas e sementes.
Por sua vez, o colono usava o excedente de seus suínos como moeda de troca com os comerciantes. Junto à “venda” geralmente havia um açougue, onde se fazia o abate dos porcos criados pelos colonos, assim gerando um crédito para trocar por produtos que necessitassem. O porco e outros animais foram, durante muito tempo, um poderoso e conveniente instrumento para o escambo. Um aspecto interessante é que o valor do porco estava na banha que ele rendia, sendo que o porco preto se destacava com essa característica. Com o aumento gradativo dos excedentes de suínos dos colonos, toda a região do Vale do Itajaí foi se consolidando como uma referência na produção e comercialização de banha, “exportando-a” além-fronteiras. Em Pomerode, muitas dessas pequenas casas comerciais foram crescendo e participaram desse desenvolvimento: a Indústria e Comércio Weege (fundada por Hermann Weege em 1901), a Haut Companhia Ltda (fundada em 1903 por Georg Haut), a casa comercial Passold (fundada por Heinrich Passold em 1928), a tradicional “venda” de Hermann Koch (fundada por volta de 1930), a indústria Zinnke (anteriormente pertencente a Lauro Guenther), a Big Frios (fundada pela família Storch) e muitas outras. Todas essas empresas foram precursoras na produção de muitos alimentos que hoje fazem parte da identidade gastronômica da cidade, como a geleia de porco (Sülze), a tão famosa linguiça Blumenau (Wurst), o torresmo prensado (Kriefen), a morcilha, entre outros.
A suinocultura exerceu relevante papel no desenvolvimento econômico de Pomerode e sem dúvida moldou os hábitos alimentares dos pomerodenses. Quantos não já ouviram relatos de seus avós de que antigamente comiam “pão com banha” (Fettbrot).