Gastronomia
Mais um pouco da gastronomia portuguesa
Publicado em 12/12/2018 às 12:07
Estivemos, eu e minha esposa, mais uma vez em Portugal, visitando Lisboa e algumas cidades vizinhas. O objetivo da viagem não era gastronômico, mas é impossível não deixar de participar de algumas degustações de preparações típicas, doces e salgadas, únicas e maravilhosas!
Inicio dizendo que ao lado de onde ficamos hospedados há uma “tasca”, que é como eles denominam os restaurantes locais, pequenos, normalmente familiares, com seus pratos tradicionais da culinária lusa e administrados e operados por pais e filhos (as).
Ela se chama “Coutada” e ali fomos jantar uma noite, quando saboreamos espetaculares pequenas e tenras lulas recheadas e grelhadas no azeite, acompanhadas por batatas e brócolis cozidos e uma saladinha de cenouras, repolho roxo e alface. Pedimos, ainda, uma posta de bacalhau (não poderíamos pular esta parte…) também grelhada no azeite e servida ao lado de batatas e ovos cozidos, cebola e alho fatiados e branqueados no azeite e salada de alface, cenoura e repolho roxo finamente fatiados. Acompanhamos com um vinho branco “da casa” e, para finalizar, uma dose de “bagaceira”, uma aguardente feita com o bagaço das uvas, ótimo digestivo, e um café espresso.
A “atendente de mesas”, como eles dizem lá, de nome Filomena, muito simpática, prestativa e sorridente, nos deu especial atenção. Ao pedirmos a conta, depois de muito satisfeitos com tudo, ela nos apresentou ao proprietário, Sr. Antônio Candeias, que conversou bastante conosco, contou piadas de brasileiros e tem amigos aqui. Fizemos, inclusive, uma foto junto a eles, para guardarmos de recordação.
lulas grelhadas
bacalhau grelhado
Na véspera de embarcarmos de volta ao Brasil fomos jantar na “Marisqueira dos Anjos”. Sabendo que toda a região costeira de Portugal é pródiga em frutos do mar, neste restaurante escolhemos uma bela posta de cherne grelhada, fresquinha (aliás, é importante frisar que eles primam pela qualidade e pelo frescor dos pescados e demais frutos do mar oferecidos!), a qual veio acompanhada de batatas e brócolis cozidos e salada de alface, tomate, cenoura e cebola. Além dela degustamos um delicioso “polvo a lagareiro” (“lagar” é o moinho de pedra onde se extrai o azeite das azeitonas): tentáculos cozidos e salteados no azeite com alho e cebola, ladeados por batatas “ao murro” (cozidas com casca e parcialmente esmagadas: acho que só são preparadas assim em Portugal!) e salada igual à do outro prato. Pedimos o vinho branco da casa, servido em jarrinhas de 500 ml.
posta de cherne
polvo à lagareiro
Neste local, quando chegamos por volta das 19:00 h, só havia uma mesa ocupada por um rapaz, que aguardava seu pedido chegar. A atendente nos colocou na primeira mesa do salão e, quando solicitamos que nos acomodasse na segunda, um pouco mais afastada da porta de entrada, ela nos disse que não seria possível, que estavam aguardando um grupo… E, por sorte nossa, assim que pedimos os pratos escolhidos e ela comandou a cozinha, chegou o grupo: eram, mais ou menos, uns 30 jovens, moças e rapazes italianos, que foram se acomodando nas demais mesas, até que só sobraram dois lugares na mesa contígua a nossa! E que em seguida foi ocupada por dois franceses!
Apesar das conversas cruzadas entre as e os vários jovens, muito animados, nada atrapalhou nosso jantar e eles comeram e saíram antes de nós! Minha esposa aproveitou e puxou conversa, em italiano, com duas das moças que estavam na mesa ao lado da nossa, as quais informaram que a turma era do Vêneto, mesmo local dos antepassados dela…
Bom, falou em gastronomia portuguesa falou na “doçaria conventual”, ou seja, nas diversas iguarias doces preparadas com gemas de ovos e açúcar que, conforme a história conta, as freiras dos conventos utilizavam as claras dos ovos para engomarem suas vestimentas (seus “hábitos”…) e, para não desperdiçar as gemas, desenvolveram várias receitas usando-as.
Comecemos pelos “pastéis de nata”, que na cidade vizinha, Belém, ganham seu nome e por ele são quase que internacionalmente conhecidos. São preparados com uma massa cuja receita é “segredo de família”, moldada numa forminha tipo das que fazemos empadinhas, e recheadas com um creme cuja receita é outro segredo! Acompanham muito bem um cálice de vinho do Porto ou um café espresso! E, digo por experiência própria, é impossível comer um só… Encontram-se para venda também em quase todas “pastelarias”, como eles chamam as confeitarias, e padarias do país, mas com o nome de pastel de nata.
Estivemos também em Aveiro, 250 km ao norte de Lisboa, onde nasceram os “ovos moles de Aveiro”. Igualmente preparados com gemas e açúcar, são envolvidos por uma massa finíssima como uma hóstia.
Visitamos, ainda, Sintra, na qual foram criados os “travesseiros de Sintra”, cujo recheio é à base de gemas, açúcar e farinha de amêndoas, porém contém um ingrediente secreto que os tornam insuperáveis. São envoltos em massa folhada, em forma de pequenas almofadas (daí o nome…) e polvilhados com açúcar de confeiteiro. Ainda nesta cidade são famosas as queijadinhas de Sintra, preparadas com queijo fresco local, ovos, açúcar, farinha e canela. Uma curiosidade é a “Casa Piriquita”, situada bem no centro da cidade, fundada em 1862 e principal fabricante e comercializadora destas delícias! Vale uma visita (ou várias!).
Outra de nossas incursões, durante a viagem, foi até a cidade universitária de Coimbra, 200 km ao norte de Lisboa. A Universidade de Coimbra foi fundada em 1290 e é uma das mais antigas da Europa. Como representante local da doçaria conventual, há o “pudim de ovos das Clarissas”, que leva manteiga e açúcar, além da enorme quantidade de gemas, e é uma receita das freiras do Convento de Santa Clara de Coimbra.
É de uma extensão enorme a lista de delícias doces típicas de Portugal e poderia escrever um “Tratado” a respeito. Vou citar alguns, apesar de possuírem nomes, digamos, um tanto quanto “diferentes” para nós, devem ser lembrados e degustados sempre que possível: toucinho do céu (pudim de gemas e amêndoas que, antigamente, era produzido usando banha de porco ao invés de manteiga), guardanapos (massa de bolo bem fofinha recheada com doce de ovos), arrepiados (biscoitos de amêndoas), bolas de Berlin (parece nosso “sonho”…), brisa do Liz (gemas e amêndoas, da cidade de Leiria), salame de chocolate (lembra a palha italiana, só que cilíndrica…), pastel de feijão (similar ao pastel de natas, mas o recheio é um doce de feijão!), sericaia (quase um bolo, com um toque de limão e canela), pudim da Batalha (parece uma queijadinha, mas tem pedacinhos de amêndoas), aletria (semelhante ao arroz doce, mas preparado com um macarrão fininho quebrado em pequeníssimos pedaços), Molotof (um pudim de claras), areias de Cascais (bolinhos assados de manteiga e farinha saborizados com raspas de limão ou baunilha), pudim Abade de Priscos (típico da cidade de Braga), tortas de Azeitão (um rocambole desta cidade).
Minha esposa e eu dividimos, numa pastelaria, um ”arroz doce”, sobremesa também tradicional lusitana, para comprovarmos o que queríamos: é delicioso também, lembrando bastante o que nossas avós preparavam!
Dicas:
– Restaurante Coutada
Rua da Bempostinha 18, 1150-138 Lisboa, Portugal
Telefone +351 21 885 2054
– Restaurante Marisqueira dos Anjos
Rua dos Anjos 23, 1150-018 Lisboa, Portugal
Telefone +351 21 885 1591