Projeto pretende preservar abelha uruçu capixaba, espécie ameaçada de extinção
Publicado em 01/05/2018 às 14:54
Além de concentrar as principais nascentes do Rio Jucu, responsável pelo abastecimento de água de boa parte da Grande Vitória, Domingos Martins é um dos municípios que se destacam com sua grande área de Mata Atlântica. E com o objetivo de contribuir com a preservação vegetal natural da região, foi lançado, durante o mês de março, o Projeto Uruçu Capixaba.
Com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Uruçu Capixaba é promovido pelo Instituto Brasileiro do Mar (Ibramar) e pretende recuperar florestas por meio da preservação da abelha Melipona capixaba.
O projeto visa à proteção da Mata Atlântica na região, em conjunto com a preservação da espécie de abelha nativa, que tem um papel importante na polinização e conservação do bioma. A melipona capixaba, conhecida popularmente como “uruçu negra”, “uruçu preta” ou “uruçu capixaba”, hoje corre o risco de extinção. Entretanto, a uruçu amarela também será uma espécie que receberá atenção do projeto.
Com mais de 30 anos de atuação na apicultura, Márcio José Neves, 59 anos, o Marcinho, de Paraju, Domingos Martins, é um entusiasta do projeto, pois reafirma a importância das abelhas para a manutenção de espécies vegetais naturais da região, assim como a uruçu, endêmica nas montanhas.
Grande estudioso e entendedor de abelhas, Marcinho defende a proteção da espécie, como forma de preservar espécies vegetais da região, pois muitas plantas dependem da polinização feita pelos insetos, principalmente por abelhas.
“Existem mais de 360 espécies de abelhas meliponas (sem ferrão) e cada espécie tem suas características, como tamanhos e formatos do corpo, o que facilita a polinização das mais variadas espécies de plantas. A uruçu capixaba precisa de uma atenção maior, já que seu habitat é aqui nas montanhas. E é importante lembrar que, acabando com a uruçu, corremos o risco de extinguirmos algumas espécies de plantas”, informou Marcinho.
Ele destaca que é preciso realizar políticas de preservação e envolver mais produtores rurais. “A uruçu é uma abelha sem ferrão, e pode ser criada no quintal de casa. Todo produtor rural pode ter sua caixa de abelha e produzir seu próprio mel”, sugere ele.
O consultor do Ibramar, o engenheiro florestal Guilherme Pimenta Diniz, reforça o motivo de focar o trabalho em uma espécie de abelha. “Quando trabalhamos com biologia da conservação, pensamos que o desaparecimento de uma espécie não vem sozinho. Ainda temos muito que aprender com essa espécie. Não temos noção da real importância dessa espécie, que merece muito mais estudos, principalmente porque ela está ameaçada de extinção”, reforçou.
Conservação florestal – O consultor do Ibramar, o engenheiro florestal Guilherme Pimenta Diniz, detalhou sobre as fases do Projeto Uruçu Capixaba. Segundo ele, a iniciativa mira a adoção de medidas integradas de restauração florestal que irão permitir traçar estratégias de conservação das abelhas nativas, com destaque para a “uruçu capixaba”.
“A ação engloba desde o plantio de mudas nativas e melíferas até a revitalização de nascente e implantação de caixas secas para contenção da erosão nos córregos locais”, destacou.
O projeto, que foi lançado oficialmente em um evento na localidade de Ponto Alto, em Domingos Martins, será desenvolvido na Reserva Particular de Preservação Natural (RPPN) Uruçu Capixaba, e nas comunidades de São Bento do Chapéu e Paraju, todas no município de Domingos Martins.
Conscientização – O projeto Uruçu Capixaba inclui ainda uma campanha de conscientização dos agricultores e estudantes locais, através de cursos de capacitação e educação ambiental. De acordo com os organizadores, serão realizadas visitas técnicas nas comunidades envolvidas no projeto, onde os participantes aprenderão a identificar as principais espécies de meliponas existentes na região. Também será disseminada a cultura de redução de defensivos agrícolas, com uso de técnicas sustentáveis que não eliminem as abelhas nativas.
Ifes de Santa Teresa pretende apoiar o projeto em Domingos Martins
Durante o lançamento oficial do projeto, o professor Eduardo A. Ferreira, que ministra aulas de Meliponicultura no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) – Campus Santa Teresa, ofereceu o apoio técnico da instituição, disponibilizando o Setor de Meliponicultura para a capacitação das pessoas envolvidas no projeto Uruçu Capixaba, ao que se refere à Meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão).
O professor Eduardo Ferreira comentou quanto à possibilidade de apoio acadêmico do Campus Santa Teresa para a realização do projeto, que também visa ações na área de educação ambiental. “Abelha e meio ambiente andam juntos. É um inseto com o qual precisamos ter mais respeito”, afirmou o especialista – que é Mestre em Educação Agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e doutorando em Produção Vegetal (Área -Polinização) na Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF).
A Instituição Federal de Ensino conta com um Meliponário (local destinado à criação e manejo dos meliponíneos), o único existente no Ifes, que poderá ser de grande ajuda na capacitação dos envolvidos no Projeto Uruçu Capixaba.
O professor Eduardo Ferreira lembrou que o diretor presidente do Ibramar, Jucenio Mauro Romagna, foi aluno da antiga Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa (atual Campus Santa Teresa – Ifes), há 20 anos. Jucenio agradeceu o apoio da instituição de ensino e destacou também a parceria com a Petrobras, que patrocina o Projeto Uruçu Capixaba.
O diretor do Ibramar também esteve na Escola Família Agrícola de São Bento do Chapéu, onde o instituto vai atuar de forma regular em ações voltadas para contribuir com sua expertise em ações de educação ambiental voltadas para o meio rural.
As atividades do Projeto Uruçu Capixaba também serão desenvolvidas em parceria com a Associação Apícola Centro-Serrana (APICES), que contribuirá na disseminação das melhores práticas desenvolvidas resultantes do projeto.
Saiba Mais
Ibramar – O Instituto Brasileiro do Mar é uma entidade sem fins lucrativos criada em 2008, com personalidade jurídica de direito privado e de interesse público. A entidade surgiu a partir da iniciativa de profissionais ligados aos setores de meio ambiente e de ações sociais, preocupados com os três principais pilares de apoio à sustentabilidade: desenvolvimento econômico com responsabilidade social, respeito às comunidades tradicionais e disseminação de conceitos de educação socioambiental.
Entre as ações desenvolvidas pela entidade, estão: o Projeto Renascente, com foco na recuperação florestal em áreas de preservação permanente no entorno de nascentes e cursos d’água da bacia do Rio Jucu, que abastece a região metropolitana da Grande Vitória; e o Projeto Tilápia das Montanhas, que desenvolve uma tecnologia social de baixo custo para o aquecimento de água utilizada na aquicultura, utilizando fontes de energias alternativas em pequenas propriedades rurais no município de Domingos Martins.
Melipona capixaba – Em maio de 2003, o Ministério do Meio Ambiente, através da Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Instrução Normativa nº 3, de 27 de maio de 2003), considerou a espécie como ameaçada de extinção. O desmatamento é citado por diversos autores como a principal fonte de ameaça para abelhas em seu ambiente natural, uma vez que a espécie depende de árvores para a sua nidificação, especialmente árvores mais velhas com troncos adequados à instalação dos ninhos, além da redução nas fontes de alimento (pólen e néctar).
A perda de habitat pela destruição da vegetação e a extensiva coleta do mel para consumo imediato – e também a criação para a produção artesanal – representam ainda um sério risco para a sobrevivência da espécie nativa da região. A melipona capixaba não se mantém em altitudes mais baixas que 600 metros, especialmente em regiões com temperaturas mais quentes, mesmo quando manejadas de forma adequada.