Unidade de Agroecologia do Incaper, em Domingos Martins, desenvolve tecnologia inédita para produção de mini-repolhos
Publicado em 08/01/2018 às 12:44
Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) desenvolveram uma tecnologia inédita de produção de mini-repolhos. É uma tecnologia inovadora que atende à demanda da agricultura familiar por produtos de elevado valor agregado.
A técnica é aplicada nas lavouras de repolho, após o corte das cabeças de tamanho normal, a partir de brotações que ocorrem naturalmente nos caules das plantas. Estas brotações são manejadas para se deixar desenvolver novas e pequenas cabeças de repolho, de tamanho mini, chamadas de mini-repolhos. Obtém-se assim uma segunda colheita, com potencial de grande vantagem econômica em relação à colheita do repolho normal, devido à redução de mão-de-obra e do custo de produção, além de um ciclo reduzido em até 50 dias.
Trabalhos de pesquisa foram desenvolvidos em sistema orgânico, no período de 2013 a 2016, para ajustes tecnológicos visando determinar o número de brotos, o tamanho das mini-cabeças, a nutrição das plantas, os custos e a rentabilidade. Segundo o pesquisador do Incaper Jacimar Luis de Souza, doutor em agroecologia, a motivação para o desenvolvimento dessa tecnologia ocorreu mediante a dificuldade em se obter um produto comercial com peso médio desejado pelo consumidor, pois geralmente, no Brasil, colhem-se cabeças de repolhos orgânicos muito grandes, acima de 2kg. Essa técnica permite produzir mini-repolhos de 400g em média.
“A técnica de produção de mini-repolhos orgânicos por rebrota da planta-mãe foi iniciada na Unidade de Referência em Agroecologia do Incaper, município de Domingos Martins/ES, no ano de 2013, podendo ser uma alternativa eficiente para obtenção de repolhos com peso médio mais apropriado ao desejo do consumidor moderno”, explicou Jacimar.
Ele também disse que a produção de mini-repolhos confirmou-se como alternativa de grande vantagem econômica, com gastos menores que a produção primária, de 34% em mão-de-obra e 45,8% com custo de produção. Isto proporciona uma rentabilidade da produção de mini-repolhos 130% maior que a produção primária de repolho.
O ineditismo da tecnologia também é destacada pelo pesquisador. “Na produção de mini-repolhos, existem, atualmente, duas alternativas disponíveis para a produção de cabeças de menores tamanhos, que são o emprego de híbridos comerciais e a redução do espaçamento de plantio. Porém, essas alternativas não são suficientes para reduzir o tamanho ao nível desejado para o mercado de mini-hortaliças, gerando mini-repolhos com peso médio relativamente altos, de 0,8 a 1,2 kg. Não há relatos na literatura mundial sobre a alternativa de produção de mini-repolhos pelo cultivo de brotações secundárias, tecnologia desenvolvida pela pesquisa do Incaper”, explicou Jacimar.
Já foram publicados, por pesquisadores do Incaper, dois artigos científicos referentes a essa tecnologia, sendo um na Revista Ciência Rural e outro na Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável, determinando a densidade adequada de brotos a ser manejada na planta-mãe e a resposta de mini-repolhos a níveis de nitrogênio em composto orgânico, respectivamente.
Mercado de mini-hortaliças
O mercado de mini-hortaliças no Brasil é crescente e de grande valor comercial. São produtos que possuem elevado valor agregado, com boa rentabilidade e são menos suscetíveis a oscilações de preços em relação as hortaliças tradicionais.
No início dos anos 1990, o mercado de mini-hortaliças registrou uma evolução mais consistente nos países desenvolvidos da Europa, com as modificações das preferências dos consumidores, especialmente pela valorização desses produtos nas cozinhas gourmet e nas redes de fast food.
A princípio, apenas os donos de restaurantes mais requintados usavam esses produtos em seus pratos, mas a partir do ano 2000, essas hortaliças diferenciadas passaram a ser encontradas também no mercado varejista e atacadista.
O aumento da demanda por mini-hortaliças está relacionado com a tendência de consumo de alimentos benéficos para a saúde, de melhor sabor e facilidade no preparo para consumo, aliados ao apelo ecológico, atendendo aos hábitos dos consumidores modernos.
Devido ao menor número de componentes das famílias brasileiras e do maior grau de conhecimento sobre a qualidade dos produtos, os consumidores atuais têm dado preferência a produtos de menor tamanho, quando possível, associado ao maior valor nutritivo.
Segundo Jacimar Luis de Souza, a pesquisa científica pode se tornar uma fonte estratégica de inovações para a oferta de produtos orgânicos diferenciados, com elevado valor agregado, que atendem às tendências do perfil do consumo de alimentos, como é o caso das mini-hortaliças.
“As mini-hortaliças podem ser obtidas por meio do melhoramento genético de plantas focado na seleção de órgãos de tamanho reduzido, tais como frutos, folhas, vagens, bulbos entre outros. Também podem ser produzidas por ajustes nas técnicas de cultivo, especialmente espaçamentos reduzidos ou pela colheita antecipada do produto, antes de alcançar o tamanho de mercado convencional”, explicou o pesquisador.
As mini-hortaliças comumente encontradas no mercado são tomate, cenoura, beterraba, mini-milho, ervilha, vagem, alface, cebola, couve flor, berinjela, batata e abobrinha.
Artigos Científicos
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