Coluna Pomerana
O “descobrimento” dos Pomeranos
Publicado em 13/12/2017 às 16:09
O final da década de 1960 e início dos anos de 1970 representa um importante marco na cultura pomerana brasileira. Uma série de movimentos teve início. Em primeiro lugar, merece destaque o começo da migração para os centros urbanos. Em muitos estados também a falta de espaço para novos desmatamentos reforçou a necessidade de novo fluxo de migrantes, inicialmente direcionado para o estado do Paraná e posteriormente para Rondônia. Repetiu-se o mesmo mecanismo de desbravamento já tantas vezes utilizado e que implicava derrubadas, queimadas e plantações; só que, desta vez, em novos estados brasileiros.
Nesta mesma época, em muitas colônias teutas do Brasil, os ofícios religiosos lentamente voltaram a ser realizados em língua alemã. Assim, a assistência religiosa já conseguia trazer um maior conforto. Entretanto para os pomeranos a deficiência do ensino nas escolas fundamentais continuava trazendo grandes preocupações. Já fazia décadas que as escolas de comunidades tinham sido fechadas.
Poderiamos dizer que a falta de perspectivas de melhor acesso ao desenvolvimento, ao menos na grande maioria das regiões, sempre se constitui em grande problema para o povo pomerano. As estradas frequentemente eram intransitáveis. Ou seja, eram péssimas as vias de acesso para qualquer recurso. Também não havia telefones. As distâncias até as escolas costumavam ser grandes. Havia também as dificuldades relalcionadas à comunicação dos professores com as crianças, pois a barreira da língua dificultava um aproveitamento melhor do ensino às crianças.
A antiga Gemeideschaul (escola da Comunidade de Serra Pelada – Espirito Santo)
Agora o governo remunerava os professores e estabelecia uma série de exigências. O resultado observado em algumas localidades revelou uma injustificada hostilidade da parte de alguns professores das escolas públicas, que persistiu, mesmo que de forma mais velada, até o início da década de 1970.
Um exemplo muito conhecido ocorreu na região central do Estado de Espírito Santo e se destacou pelos maus tratos sofridos por alunos pomeranos que não conseguiam se comunicar na língua portuguesa. A situação causou muita revolta entre os membros daquelas comunidades e acabou se transformando num marco no combate a tudo que não fosse tipicamente “brasileiro”. Uma das pessoas que se destacou nesse fervoroso embate deshumano foi uma professora luso-brasileira, casualmente casada com um pastor luterano.
Foi também nesta época, na década de 1970, que os pomeranos finalmente foram “descobertos” pela mídia – inicialmente com uma sucessão de infelizes reportagens, como a publicada por um periódico da Alemanha na qual os autores insistiam em chamar de trabalho escravo infantil a atividade executada pelas crianças daquela propriedade.
Todos hoje sabem que, em uma família com oito ou dez filhos, estes, de uma forma ou outra, precisavam auxiliar no trabalho para possibilitar a sua subsistência, situação esta não compreendida pelos autores da reportagem. Mas talvez toda esta movimentação na mídia, até tenha contribuído para odesencadeamento de um crescente processo de divulgação da Cultura Pomerana no Brasil.