Cultivo de abacate no dia de campo em Marechal Floriano
Publicado em 02/11/2017 às 10:10
Mais de 100 pessoas, entre produtores e técnicos rurais, participaram de um dia de campo sobre plantação de abacate, na propriedade do agricultor Pedro Venturini, na comunidade de Victor Hugo, em Marechal Floriano. Há mais de dez anos ele começou a investir em áreas ociosas de sua propriedade e atualmente comercializa também para fora do Espírito Santo.
Na ocasião, a implantação de lavouras, variedades, enxertia e mercado foram temas abordados pelo produtor e exportador de abacate há mais de 40 anos Alberto Falqueto. “Atualmente o grande mercado consumidor vem do Nordeste Brasileiro, especialmente Fortaleza, Teresina e Juazeiro. Não é uma lavoura cara, mas deve-se ter um trato cultural muito especial, principalmente em altitudes acima de mil metros. É recomendado, portanto, por volta de quatro adubações ao ano, por exigência, em terrenos que não são tão férteis”, explicou.
Para isso, o técnico do Incaper local, Ubaldino Saraiva, destacou a importância de ser feita a análise de solo nas propriedades. “É fundamental, devido às complexas reações que ocorrem no solo. Ela permite uma avaliação mais eficiente do estado nutricional das lavouras, culminando em possíveis redirecionamentos do programa de adubação. Isso é possível devido à estreita relação existente entre a produção das culturas e o seu teor de nutrientes. Portanto, é possível saber o PH do solo, carga produtiva, textura, estrutura, suprimento de água ao solo, temperatura e arejamento”.
O exportador ainda contou que a produção de abacate é variável e às vezes chega-se a produzir cerca de 60 mil Kg por hectare (ha), porém nem todos são aptos ao comércio. Segundo ele, as melhores variedades para o mercado são o Margarida’, ‘Breda’, ‘Reis’ e ‘Ouro Verde’. Com destaque para a primeira das variedades citadas, por ser atualmente é a mais recomendada para o comércio. A Margarida é uma cultura que possui uma produção que vai de 500 metros a 1300 metros. Além disso, se autopoliniza – pode-se dar naturalmente através do vento, da água ou dos animais, ou pode ser realizado intencionalmente pelo homem”.
Ele também reforçou que a colheita tardia é um dos melhores caminhos para o mercado. “Com um tempo observou-se que os abacates que duravam até depois do segundo semestre de produção – agosto, setembro e outubro – tinham um preço mais alto de mercado, devido a demanda dos consumidores. O melhor investimento é no abacate que produz fora do seu pique de safra, que acontece nos meses de junho, julho e agosto. Setembro, outubro e novembro são meses onde todos já terminaram de colher e nós começamos, a partir da escolha de variedades que dão a florada mais tarde e levam mais tempo para amadurecer”, explicou.
Na ocasião, o extensionista do Incaper Cesar Abel Krohling reforçou a importância de uma adubação correta para cada tipo de lavoura. “Já tivemos casos em que, para uma lavoura de café que fazia 40 sacas por hectare, o produtor gastou até 30 mil reais em adubo líquido. Se eu levar em consideração um formulado padrão para a lavoura de café, ele pagou quatro vezes mais caro, além de levar a deficiência das lavouras que geralmente só pode ser vista ao final da safra. Devemos prezar por uma adubação equilibrada, feita junto a um profissional qualificado e em uma proporção perfeita para cada tipo de solo”, recomendou.
O senhor Venturini apresentou um pouco das suas experiências com o cultivo e os seus resultados. Há aproximadamente dez anos ele tinha um pouco de eucalipto e palmito pupunha em sua propriedade e, sem muitas expectativas, resolveu dar início à atividade. “Comecei a visitar a propriedade do Alberto para buscar algumas recomendações e logo em seguida, com a ajuda do Incaper, e fui expandindo a minha lavoura. Comecei com a variedade Primavera e atualmente 70% é de Margarida, que é a variedade mais explorada por aqui. Vendo para distribuidoras do Estado e da Bahia”.
Os pesquisadores do Incaper Hélcio Costa, doutor em Fitopatologia, e Maurício Fornazier, o doutor em entomologia, ministraram a palestra sobre o manejo de pragas e doenças para produtores de abacate.
“Na região serrana temos apenas uma doença chamada verrugosa, conhecida como ferrugem. Nesse caso, o fungo não penetra na polpa da fruta, mas prejudica o aspecto estético para o mercado. O recomendado, portanto, é fazer a aplicação com um produto à base de cobre ainda quando o fruto estiver bem pequeno. Devem ser no máximo duas aplicações e cada 45 dias. Se não chover, não precisa pulverizar”, pontuou Hélcio.
Fornazier fez algumas ressalvas a respeito da Broca do Abacate, uma praga acomete variedades mais suscetíveis – algumas chegam em até 50% da perda do fruto. “Por isso é preciso saber o momento correto de quebrar o ciclo da praga. Pulverizar os pés de abacate mais altos é uma mão de obra muito difícil para o produtor. Quando a broca se instala na semente, o fruto entende, fisiologicamente, que já está maduro e cai do pé. Nesse caso, o produtor deve adotar um método cultural de controle, recolhendo os frutos, tirando eles da lavoura ou juntando em um plástico grosso, amarrando a boca, até eles apodrecerem para serem usados como matéria orgânica”, disse.
O Secretário de Agricultura do município, Sérgio Stein, destacou a importância de ações como essa para o desenvolvimento da cultura e a qualidade de vida dos produtores. “Esse dia de campo tá sendo um dos mais dinâmicos que já vivenciei. Aqui os produtores estão se sentindo em casa para trocar as suas experiências. Precisamos de mais momentos assim, que motivam essas pessoas a investir em uma cultura que tem aumentado a renda das famílias e ao mesmo tempo tem baixo custo”.
A engenheira agrônoma Graciane Siqueira Corrêa mora em Brejetuba. Ela contou que está ansiosa para começar a investir no cultivo de abacate. “Nós produzimos café e alguns produtores na região já começaram a investir na atividade e isso nos chamou muito a atenção. Já fizemos o enxerto em nossa propriedade, com a ajuda do Incaper local e hoje temos 50 pés de abacate. Depois conseguimos novas mudas, mas para isso nós tivemos a ideia de nos unir com outros dez produtores interessados para conseguirmos a um preço mais acessível”.
O evento contou também com a participação de equipes de diversos escritórios locais do Incaper: Pedra Azul, Afonso Cláudio, Conceição do Castelo e Venda Nova.