Luteranos em festa: evento reúne mais de três mil pessoas em Domingos Martins
Publicado em 31/10/2017 às 21:18
Mais de três mil pessoas participaram de uma cerimônia em homenagem aos 500 anos da Reforma Protestante. O evento comemorativo foi realizado na Praça Dr. Arthur Gerhardt, em Campinho, Centro de Domingos Martins, e teve início às 14 horas de hoje (31).
Dezenas de pastores e fieis de diversas comunidades de municípios vizinhos participaram do evento. A programação foi organizada pela União Paroquial Jucu da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e pelo Distrito Verdes Vales da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).
Autoridades políticas locais e estaduais participaram da comemoração luterana. O secretário estadual de Direitos Humanos, Júlio César Pompeu, representou o governo do Estado na cerimônia. Ao final do evento, durante sua fala, o secretário enfatizou a importância de Martinho Lutero para a reforma protestante, há 500 anos.
“Lutero via que existiam pessoas na época que faziam referência mais a si próprio do que em sua fé. A vaidade era um valor ruim, e que Martinho Lutero dizia que nos desvia dos ensinamentos de Jesus. Quinhentos anos depois, muitos de seus ensinamentos ainda são para nós lições para serem realizadas”, destacou.
O vice-prefeito de Domingos Martins, Romeu Stein, fez uma reflexão sobre a atual situação política em que passa o Brasil, com inúmeros casos de corrupção, e citou quais seriam hoje as 95 teses atuais que deveríamos refletir, a exemplo de Martinho Lutero, quando escreveu suas teses questionando a igreja em 1517.
“A violência às mulheres e ao próximo, a ganância ou a ambição desmedida, capaz de fazer com que políticos acumulem malas e mais malas de dinheiro sem saber como vão poder gastar, ou transportadores de granitos transportando cargas em carrocerias inadequadas, com pneus carecas. Será que isso não são coisas que estão fora do contexto? Temos inúmeros e inúmeros itens que poderíamos acrescentar”, afirmou.
O tenente coronel Marcelo Correia Muniz, que comandou a Polícia Militar em Domingos Martins e Marechal Floriano por vários anos também deixou seu recado. “Estou muito feliz por estar aqui presente comemorando essa data. Passagens bíblicas falam de heróis da fé, como Moises, Abraão e tantos outros, e como Martinho Lutero, que entregou por amor a sua vida. E olhando para todos vocês, eu digo: temos que viver em justiça, em paz e em amor”, afirmou.
Diversos pastores também deixaram suas mensagens, entre ele o pastor Paulo Proske Weirich, que é professor e Doutor em Teologia. Ele veio do Rio Grande do Sul para o evento de hoje. Em sua fala, ele destacou que Martinho Lutero não pode ser colocado como personagem da reforma.
“Assim se comete certa injustiça a Martinho Lutero, na medida em que ele disse, quando percebeu que seu nome estava começando a aparecer, para não falarem em seu nome. ‘Eu não sou aquele que morreu na cruz por vocês’, disse Lutero. Se ele visse essa multidão que está aqui hoje celebrando a sua ação, e o resultado de seu testemunho, ele repetiria o mesmo que ele disse”, enfatizou o pastor.
Monumento é inaugurado na praça
Para que os 500 anos da Reforma Luterana fique registrada na região, após a celebração foi inaugurado um monumento em homenagem à data, na Praça Dr. Arthur Gerhardt. O pastor Eloir Carlos Ponath, da Igreja Luterana de Domingos Martins, explicou que o monumento retrata a Rosa de Lutero.
“Essa Rosa de Lutero foi feita de aço inox, contrastando com aço escovado, em alto relevo, assentado por uma estrutura de mármore contendo uma placa contendo o significado completo dessa obra”, explicou. Após o descerramento da placa, foi ouvido uma salva de fogos com 1.517 tiros, remetendo ao ano e que Martinho Lutero escreveu suas 95 teses. Em seguida foi servido um café com bolos, sucos, biscoitos e diversos itens para os participantes.
ROSA DE LUTERO – O Selo de Lutero (também conhecido como Rosa de Lutero ou Brasão de Lutero) é o símbolo mais conhecido do Luteranismo. A Rosa de Lutero é uma representação do mundo e um testemunho e resumo gráfico da fé luterana. Seu significado representa um caminho ao coração de Deus: no centro do selo encontra-se a cruz negra, lembrando a prisão, julgamento, condenação e crucificação de Jesus Cristo.
Esta cruz negra é envolvida pelo coração vermelho, que segundo a fé luterana lembra o amor de Deus por sua criação, sua misericórdia e seu envolvimento com a salvação da humanidade. O vermelho simboliza o sangue, paixão, um doar-se total ao objeto do amor. A cruz negra e o coração vermelho estão envoltos por uma rosa branca. A flor símbolo dos amantes suscita aos crentes a lembrança do amor de Deus, que envolveria a humanidade em sua paz (por isto a cor branca).
A rosa branca, por sua vez, está rodeada por um campo azul, lembrando o céu, o Reino de Deus, reino para o qual Cristo apontou em sua vida e pregação. Este campo azul é delimitado pela aliança de ouro, lembrando ao crente que Deus fez uma aliança com a humanidade através da morte e ressurreição de seu filho Jesus, morte e ressurreição da qual todo o crente hoje participa através do batismo e da Santa Ceia, ação de graças, através dos quais os fiéis têm a promessa de que o próprio Jesus está entre eles.
REFORMA LUTERANA – A Reforma Luterana teve origem na cidade de Wittenberg, na Alemanha. O marco do movimento foi 31 de outubro de 1517, quando Lutero, então monge católico, publicou 95 teses, em Alemão, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em protesto contra diversos pontos da doutrina da Igreja, sugerindo mudanças.
Nas 95 teses, a exemplo de outros escritos divulgados na mesma época, Lutero procurou mostrar que Deus perdoa de graça a quem crê em Jesus Cristo. “Não se pode comprar o perdão de Deus ou conquistá-lo por méritos ou esforços próprios”.
A atitude do monge repercutiu muito. Solicitado a se retratar, Lutero não concordou em fazê-lo, a não ser que as suas teses fossem derrubadas com argumentos bíblicos. Então, Lutero foi expulso da Igreja. Como uma das consequências, ocorreu a divisão da Igreja, sem ser esta a pretensão do reformador. O movimento ultrapassou fronteiras e se estendeu a outros países da Europa, chegando ao Brasil em 1824, com a imigração alemã.
No Espírito Santo, os primeiros luteranos chegaram a Vitória em dezembro de 1846, vindos da Alemanha, instalando-se em janeiro de 1847 na Colônia de Santa Isabel, atualmente município de Domingos Martins, ajudando a formar a primeira colônia alemã no Espírito Santo.
Atualmente, são cerca de 87.200 luteranos existentes em todo o Estado do Espírito Santo. Somente nos municípios de Domingos Martins e Marechal Floriano vivem mais de 16 mil luteranos.