Importação de café poderá ser definida em janeiro, após levantamento de estoque
Publicado em 21/12/2016 às 16:57
Nos últimos dias os cafeicultores brasileiros têm acompanhado com apreensão a possibilidade de o governo federal abrir a possibilidade de grandes indústrias importarem café. O deputado federal Evair de Melo, do Espírito Santo, comprou a briga pela não liberação da importação.
Entretanto, depois de uma grande mobilização do setor produtivo do café, o governo interrompeu a movimentação em torno da possibilidade de importação do produto. As indústrias pressionavam e alegavam falta de café no mercado, principalmente o conilon.
Na última semana, durante um encontro entre o ministro Blairo Maggi e representantes do setor cafeeiro, o deputado federal Evair de Melo disse que o bom senso prevaleceu e que será feito um levantamento do estoque nacional para comprovar que há café em estoque para atender às indústrias.
O ministro suspendeu por 30 dias a decisão de importação do café robusta (conilon) do Vietnã para que a Conab faça o levantamento do estoque para verificar a necessidade da compra do produto de outros países.
“Essa foi uma ótima notícia para compartilhar com todo o setor produtivo do café. Fechamos um encaminhamento, usando o bom senso, com o ministro da Agricultura Blairo Maggi, e está suspensa qualquer movimentação que vise importar café. Faremos, junto com a Conab, um levantamento minucioso dos estoques, provando que existe, sim, café físico disponível e assim encerrar, para não dizer sepultar, esse assunto de uma vez por todas” afirmou o deputado.
O Espírito Santo é responsável por 78% da produção nacional do café conilon e é a principal atividade de renda de 80% das propriedades rurais capixabas localizadas em terras quentes. Além disso, representa 35% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola do Estado e gera em torno 400 mil empregos direitos e indiretos.
LEVANTAMENTO DE ESTOQUE – A Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a OCB-ES vão fazer o levantamento do estoque de café Conilon do Espírito Santo para apontar qual é a produção capixaba disponível para o mercado. O objetivo é colaborar com a pesquisa que será feita pelo Governo Federal, juntamente com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segundo o secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, a intenção é entregar o documento ao Governo Federal até o dia 10 de janeiro, antes do prazo de 30 dias estabelecido pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, para decidir pela liberação ou não da importação do café robusta. O Governo do Espírito Santo já se manifestou contrário à importação.
“Vamos levantar junto aos produtores, cooperativas, comerciantes regionais, exportadores e indústrias todo o estoque que temos para apresentar o real número. E vamos mostrar ao ministério que não há necessidade de importação porque há estoque disponível”, disse Octaciano Neto.
Octaciano destacou que os produtores capixabas enfrentam sérias dificuldades em decorrência da pior seca dos últimos oitenta anos que atinge o Estado e que, nos últimos três anos, agravou os impactos sobre a produção e acarretou queda significativa nos resultados. Além disso, apontou risco fitossanitário com possíveis pragas que podem ser trazidas para o país juntamente com o grão verde.
“O Governo do Espírito Santo é contra a importação. A seca fez com que o custo aumentasse e a produção caísse. A safra deste ano deverá fechar em 5,3 milhões de sacas contra 7,7 milhões em 2015. Além disso, por conta da lei trabalhista, fiscal e ambiental do Brasil, é mais caro produzir aqui do que em outros países, como no Vietnã. Essa importação, se autorizada, vai representar a queda no valor do produto e atingir diretamente nossos produtores que tiveram um ano muito difícil”, acrescentou o secretário de Agricultura do Espírito Santo.
O presidente da OCB-ES, Esthério Sebastião Colnago, afirmou que o levantamento feito em conjunto pelas cooperativas, Seag e Incaper vai mostrar o número próximo da realidade do Estado. “Pelas cooperativas passam cerca de 20% do café produzido no Espírito Santo. E nós, juntamente com o Incaper, que possui técnicos no campo, e a Secretaria da Agricultura, que estamos mais próximos dos produtores, conhecemos a realidade. A importação do conilon representa um risco muito grande para os nossos cafeicultores”, avaliou Esthério.
Mineiros aderem aos capixabas para barrar à importação de café
Representantes de cafeicultores do Sul de Minas Gerais se reuniram na última segunda-feira (19) na cidade de Varginha para discussão da ameaça de importação de café verde por parte do Governo Federal. O deputado federal Evair de Melo esteve no encontro e confirmou que os cafeicultores mineiros, assim como os capixabas, são contra a importação e afirmam que há café suficiente em estoque para abastecer a indústria.
“Saio desse encontro com os cafeicultores mineiros convicto que a adesão deles aos produtores capixabas, que repudiam a importação, é a posição correta e não abriremos mão de lutar contra essa ameaça do café estrangeiro. Essa pressão que as indústrias de café solúvel estão fazendo sobre o Governo Federal para a liberação de importação é pura especulação. Elas alegam falta de produto e essa alegação não procede porque há estoque suficiente para as indústrias”, afirmou o deputado.
Ao final do encontro foi elaborada uma carta dirigida ao ministro da Agricultura Blairo Maggi em que, entre diversas observações, ressalta que importar sem uma política definida previamente e somente porque nesse momento existe uma pseudo falta de café para a indústria de solúvel é uma atitude imprudente. De acordo com o documento assinado pelos representantes de vários órgãos do setor cafeeiro de Minas Gerais, é preciso, em conjunto, definir uma política que valha para o presente e futuro, e não gere especulações sobre a produção e os preços do produto nacional no mercado interno e exportação.
CÂMARA SETORIAL – Outra medida que o Governo do Espírito Santo está adotando é a reativação da Câmara Setorial do Café, que estava desativada desde 2004. Mais de 30 entidades, associações, cooperativas e sindicatos serão convidados a participar do colegiado. A primeira reunião está prevista para a primeira quinzena de janeiro, que terá como tema de abertura do trabalho a proposta de importação do robusta pelo governo brasileiro. O objetivo é criar um fórum permanente para debater o setor do café, discutindo os problemas, desafios, novas tecnologias e a busca de soluções.